Desmatamento na mata atlântica cai 55% no primeiro semestre, aponta estudo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O aumento da fiscalização dos órgãos ambientais e as operações deflagradas para proteger a mata atlântica resultaram em redução de 55% no desmatamento do bioma de janeiro a junho deste ano, comparado ao mesmo período em 2023.

Mesmo com a redução, porém, o bioma está longe da meta de desmatamento zero. No primeiro semestre, foram devastados 21.401 hectares, o equivalente a 20 mil campos de futebol, segundo o Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica. No mesmo período do ano passado, 47.896 hectares acabaram destruídos.

O estudo da SAD foi o resultado de parceria entre a Fundação SOS Mata Atlântica, a Arcplan e o MapBiomas, com patrocínio de Bradesco e Fundação Hempel.

Segundo o levantamento, nas áreas de encraves —fragmentos de vegetação nativa da mata atlântica localizados nos limites com cerrado, caatinga e pantanal, onde o desmatamento chamou atenção ao longo de 2023—, a redução chegou a 58%.

De acordo com Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da SOS Mata Atlântica, a restrição de crédito para desmatadores ilegais e o aumento das multas e dos embargos de áreas desmatadas ilegalmente foram fundamentais para a melhora do índice.

Outro ponto importante atribuído à melhoria no índice é a operação “Mata Atlântica em Pé”, organizada pelo Ministério Público, com monitoramento por satélites e uso de novas tecnologias e articulação com as políticas ambientais de governos estaduais.

“A redução é resultado da retomada do funcionamento do sistema de fiscalização brasileiro ambiental, que foi bastante fragilizado no período do [governo] Bolsonaro. Então, primeiro é a fiscalização, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) voltando a funcionar, e a atuação dos governos estaduais”, disse à Folha.

Após anos de devastação, a mata atlântica possui hoje em dia apenas 24% da cobertura florestal original, segundo o MapBiomas. A proporção é considerada abaixo do limite mínimo aceitável (30%) para conservação, conforme estudo publicado na revista Science.

As florestas naturais do bioma encontram-se restritas a espaços extremamente fragmentados (a maior parte não chega a 50 hectares) e, em 80% dos casos, estão em propriedades privadas, informou a SOS Mata Atlântica.

Guedes Pinto celebra o avanço da preservação do bioma durante a realização da COP29 (Conferência das Nações Unidas para a Mudança Climática) em Baku, no Azerbaijão, a ser concluída em 22 de novembro.

Ele destaca a que a SOS Mata Atlântica continua monitorando o desmatamento por meio de sistema com MapBiomas, publicando alertas mensalmente. Conforme informou, o governo federal elabora planos de combate e de prevenção ao desmatamento para cinco biomas, entre os quais a amazônia e o cerrado. Mas ainda falta um para a mata atlântica.

“O governo federal está elaborando esse plano de combate e controle, então isso é algo que a SOS Mata Atlântica vai prestar muita atenção. Esperamos que documento seja publicado ainda neste ano, para haver políticas públicas mais efetivas de cumprimento da lei da Mata Atlântica, assim como para alcançar o desmatamento zero”, frisou Guedes Pinto.

“Além disso, a SOS Mata Atlântica continua com suas atividades de restauração florestal. A fundação adotou um programa de plantio de espécies originais da floresta porque, na agenda do bioma, estão o desmatamento zero e a restauração em grande escala para a recuperação do que já foi perdido”, acrescentou.

Para Guedes Pinto, o governo precisa seguir o exemplo da lei anti-desmatamento da União Europeia, que restringe a importação de produtos de áreas desmatadas. Sua implementação foi adiada a pedido de países afetados, inclusive o Brasil, por ocultar um teor claramente protecionista.

JORGE ABREU / Folhapress

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