RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Então você resolveu passar o Réveillon no Rio. Já está na cidade (ou a caminho) e deve ter ouvido algumas pessoas dizerem: “Mas tem certeza? E a violência?”. Bem, ela sempre existiu, o couro está comendo entre as milícias, a virada do ano na praia de Copacabana é uma muvuca mesmo, não tem o que fazer.
Ou melhor, tem.
Procure curtir a cidade sem paranoias, mas sem dar mole também. Tente não passar atestado de turista com frequência, aproveite o dia e a noite sem neuras, curta o que a cidade tem de bom –e não é pouca coisa. Para facilitar a sua vida, seguem algumas dicas e toques não turísticos que te deixarão mais à vontade por aqui. Eu diria que são uns conselhos de amiga, sabe? Veja aí:
1) Aproveite a água da casa. Enquanto em São Paulo a questão de a água potável ser disponibilizada de graça para clientes de bares e restaurantes ainda está sendo debatida na Justiça (com os donos dos estabelecimentos furiosos), no Rio, essa simpática lei já pegou com força. Pedir “água da casa” não é nenhuma vergonha, ninguém encara como atestado de pobreza. Já é praxe desde 2016. Peça a sua e perceba que os comerciantes capricham no chameguinho, com direito a jarras estilizadas e copos bonitos. “Aguers” costumavam trocar avaliações sobre o assunto na página “Água da Casa” no Instagram, mas ela não é atualizada há um bom tempo.
2) Os músicos que se apresentam na porta dos restaurantes. Como lidar? Simples. Respeite-os. Você pode não gostar do repertório, do volume, da intromissão da música no seu papo. Mas não faça cara feia. Os caras estão trabalhando. Se gostar, coce o bolso e dê uma gorjetinha. Se não gostar, não dê. Simples assim. Tamborilar na mesa durante a apresentação e cantar junto para depois não dar nem um dinheirinho é, como se diz no Rio, a maior vacilação. Cantou? Gostou? Então ajude o artista.
3) Capoeiristas que tentam te impressionar. Sim, os músicos geraram filhotes, de uma outra espécie, mas com a mesma filosofia: entretê-lo enquanto você toma aquele chope bacana, principalmente nos bares da orla. Acrobacias e saltos altíssimos deixam os gringos em êxtase, mas entre os brasileiros esse espetáculo já não impressiona tanto. Quanto vale o show, Lombardi? Aí é contigo. Mas, em termos gerais, todo o raciocínio sobre a remuneração dos músicos se aplica aqui também.
4) O cara do amendoim. Pode acontecer quando você estiver na praia ou no botequim. Surge um homem do nada e bota um punhado de amendoim sem casca sobre um pedacinho de papel. Ele deixa ali sem falar nada, sai de perto e depois volta. Era uma provinha, e cabe a você decidir se vai querer pedir uma porção (que geralmente vem em um cone de papel pardo) ou se “deixa para próxima, irmão”. Pode também fazer um sinalzinho de negativo quando ele for servir pela primeira vez. Dá menos trabalho.
5) Toalha de hotel. Item para ser deixado no hotel mesmo, ou usado na piscina. Não vá com ela para a praia. Pra que passar tanto recibo?
6) Vídeo no calçadão. Tá bonito o cenário, né? Que vontade de pegar o celular e fazer um vídeo. OK, faça. Mas fique atento. Conselho de amiga.
7) Comporte-se no Uber e nos táxis. Entrar cheio de areia, de roupa molhada, vomitar ou derrubar cerveja: algumas guerras mundiais começaram por menos.
8) Barraca e cadeira de praia. Dependendo de quantos dias você vai ficar, talvez seja mais jogo comprar uma barraca (ou guarda-sol, como queira) para não precisar alugar na praia. Barraqueiros triplicaram o preço dos aluguéis (nada de errado; essa é a hora) também das cadeiras. Ter uma sua, limpinha e cheirosinha, para sentar e deitar sem medo de pegar micose ou uma pereba: eis mais um bom argumento para esse investimento.
9) De olho na maré. Não que vá rolar uma tsunami, mas fique de olho na maré subindo, principalmente se você está posicionado mais perto da água (o melhor lugar). Ter canga, roupas e, oh!, o celular molhado por causa de uma desatenção boba é revoltante.
10) Comida no Rio não é só feijoada, frituras e galeto. A oferta de ótimos restaurantes na cidade é enorme (inclusive em alguns quiosques, procure saber), e as tabernas portuguesas andam fazendo sucesso. Cevicherias, asiáticos, italianos, contemporâneos que não são metidos a besta demais… São tantas as opções, não tenha preguiça de fazer uma pesquisa e pedir indicações quando a fome bater. Galeto, feijoada e bolinho de bacalhau são ótimos, mas gastronomicamente o Rio é muito mais do que isso.
CLEO GUIMARÃES / Folhapress