Dia do Saci: ‘É especial ser um ídolo negro’, diz Romeu Evaristo, do Sítio do Picapau Amarelo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Talvez você (ainda) não saiba, mas nesta terça (31), além do Halloween, é comemorado por aqui o Dia do Saci. E se a data já é bastante especial para quem valoriza a cultura e o folclore brasileiros, imagina para quem durante nove anos interpretou o personagem em um dos programas de maior sucesso da Globo.

É o caso do ator Romeu Evaristo, 67, que entre 1977 e 1986 foi o Saci do Sítio do Picapau Amarelo. “Tem um gosto especial ser um ídolo negro. Até hoje se referem a mim como um ídolo”, conta ele ao site F5.

“Nada vai apagar da história esse símbolo que ainda é tão presente nos quilombos que visito pelo país. Tenho certeza de que daqui a cinco ou seis anos essa data será mais reverenciada do que o Halloween, que tem muita mídia”, opina.

Romeu sente mesmo um orgulho enorme de seu papel, tão marcante na teledramaturgia brasileira. “Estou guardado na infância de muita gente. Consegui dar uma cara ao Saci, algo que não existia. Representa muito para mim”, emenda o artista –que, outra informação que talvez lhe soe como novidade: ele é pai da atriz Dandara Mariana, a assessora de marketing Talita, de “Travessia”.

ENTENDA A FESTIVIDADE

Em 2003, o então deputado Aldo Rebelo apresentou um projeto de lei (PL 2.762) que criava o Dia do Saci em 31 de outubro. A proposta acabou arquivada, mas no mesmo ano foi criada a Sociedade de Observadores de Saci (Sosaci), com sede em São Luiz do Paraitinga (SP).

Em 2004, o estado de São Paulo instituiu o Dia do Saci, por meio da lei nº 11.669. Minas Gerais, Espírito Santo e Ceará também celebram a data oficialmente, segundo Mouzar Benedito, um dos fundadores da Sosaci. A data cai propositalmente no dia de Halloween para ser um contraponto à festa norte-americana.

O Halloween começou a ser celebrado no Brasil no final da década de 1980. Mas há indícios de que a festa tenha surgido há cerca de 3.000 anos, com os celtas, povo politeísta que acreditava em diversos deuses relacionados aos animais e às forças da natureza.

A festa como conhecemos hoje, exportada pelos norte-americanos, foi levada à América pelos ingleses e principalmente pelos irlandeses. Não é coincidência que as primeiras referências ao Halloween tenham aparecido nos Estados Unidos pouco depois de 1840, período conhecido na Irlanda como a “Grande Fome”, quando milhares foram forçados a fugir para os EUA, levando suas histórias e tradições. A partir daí, a indústria cultural norte-americana se encarregou de espalhar o evento para o resto do mundo.

Para o professor Fernando Pereira, especialista em cultura brasileira da Universidade Presbiteriana Mackenzie, não há rivalidade entre uma celebração e outra, já que no Brasil há manifestações folclóricas e culturais tão ou mais interessantes.

Outro detalhe a ser lembrado, diz o professor, é que somos parte de um país miscigenado, com influências europeias, mas também africanas e indígenas. O saci é a representação dessa mistura, o que faz dele um personagem ainda mais importante.

Há várias figuras mitológicas pelo mundo com as mesmas características do saci, que surgiu no Brasil no final do século 18 e se popularizou no seguinte, época em que seu nome ainda era escrito com a letra “Y”. Segundo o professor Pereira, o termo vem do tupi “çaa cy”, que quer dizer “olho mau, olho doente” e “saltitante”.

“É imprescindível manter as crenças. Asseguro que não existe nenhum outro lugar no mundo com tradições culturais tão ricas quanto o Brasil”, afirma Pereira.

LEONARDO VOLPATO / Folhapress

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