Dia mais quente do ano em SP tem doação de gelo e trem que vira forno

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em novo dia de calor recorde na capital paulista, passageiros do transporte sobre trilhos enfrentaram um sufoco nesta segunda (13). Parte dos trens da Linha-9 Esmeralda, operada pela ViaMobilidade, apresentaram falhas no ar-condicionado. O calorão também afetou a rotina de quem circulou pelas ruas da cidade.

De acordo com o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas) da Prefeitura de São Paulo, a temperatura média da cidade atingiu 37,8°C, a mais alta já anotada desde o início das medições em 2004.

A medição de referência para a cidade, porém, é realizada pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) na estação meteorológica do mirante de Santana, na zona norte. Este marcador apontou uma temperatura máxima de 37,4°C, a mais alta deste ano, superando os 37,1°C da véspera, que era o maior valor para 2023 até então. O dado ainda será confirmado.

A maior marca no local que faz a medição oficial da cidade foi de 38,4°C, alcançada em outubro de 2014.

O Inmet também prolongou até sexta (17) o alerta vermelho para a onda de calor que atinge praticamente todo o país, principalmente, as regiões Centro-Oeste e Sudeste. Há grande perigo para a saúde, uma vez que as temperaturas estão pelo menos 5°C acima da média por um período maior do que cinco dias.

Nos trens da Linha-9 Esmeralda, o ar estava excessivamente quente em dois dos seis vagões nos quais a reportagem viajou nesta tarde, entre as estações Pinheiros e Berrini.

Somente algumas das saídas do sistema de refrigeração dentro dos carros estavam funcionando. A reportagem informou os números dos carros à concessionária, que não havia respondido até a publicação deste texto.

“É um forno, principalmente de manhã, hoje mesmo tinha uma senhora passando mal”, conta a técnica de enfermagem Karina Rocha, 41, que utiliza diariamente a ferrovia.

“Eu costumo ligar para a ViaMobilidade [concessionária responsável pela linha] para pedir para ligarem o ar, porque muitas vezes está desligado quando eu pego o trem, às 4h, mas eles só ligam depois da 6h”, diz a operadora de máquinas Ivete Gomes, 50.

A sensação também era a de estar em uma estufa por causa do ar quente trazido pelos dutos de ventilação até as profundezas das estações da Linha-4 Amarela, operada pela ViaQuatro. Nos trens, porém, a refrigeração era potente. “Aqui está ótimo”, elogia o advogado Vinicius Hiraga, 27.

A reportagem não identificou problemas quanto ao sistema de refrigeração nas linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha, sob gestão do Metrô.

Nas ruas da região central da capital paulista, a população recorria às garrafas d’água, sorvetes, sombrinhas e ar-condicionado no carro para suportar o calor.

Na avenida Paulista, a fila de uma sorveteria ocupava a largura da calçada. “Sempre tem muita gente aqui, mas não como hoje”, conta a funcionária Maria Santana, 19. “As vendas praticamente dobraram.”

Motorista da Uber, Kesio Soares, 29, tentava manter uma folha de jornal sobre o telefone celular fixado no para-brisa, como uma guarda-sol improvisado. A intenção era deixar o celular na sombra e, assim, evitar o superaquecimento do aparelho. “Já travou duas vezes hoje”, conta.

Segundo Soares, oito entre dez passageiros estavam optando por utilizar o serviço na categoria com preço mais alto, que garante o direito ao ar-condicionado ligado.

Turistas acostumados com o calorão de outras partes do país também estranhavam o clima em São Paulo. Empunhando um pequeno guarda-sol, o engenheiro Paulo Vitor, 30, tentava proteger sua mulher, a professora Bruna Moreira, 31, e o filho do casal, Theo, de cinco meses.

A família de São Luiz diz que a capital maranhense é tão quente quanto São Paulo neste dias de calor recorde. “Eu ainda trouxe um monte de blusas para o frio daqui, só vou conseguir usar no shopping.”

É mais difícil enfrentar o calor para quem está excluído do mundo do consumo. Morando em uma tenda improvisada com plástico preto nas grades do parque Prefeito Mario Covas, na avenida Paulista, o artesão Vitor Manoel Faria, 23, depende do único bebedouro público para conseguir água.

São necessários cerca de dez litros de água para o consumo da família. Também vivem no local os tios de Faria, cinco cães e uma gata. “O que tem salvado a gente são as doações de gelo do pessoal que é ambulante aqui perto e do McDonald’s”, conta. “É essencial, até para refrescar a água dos bichos.”

CLAYTON CASTELANI / Folhapress

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