Dilma estreia agenda de Putin e defende Brics maior

KAZAN, RÚSSIA (FOLHAPRESS) – Em consonância com o movimento liderado pela China na reunião do Brics do ano passado, a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff defendeu nesta terça (22) a expansão do bloco.

“Eu espero que possamos ter uma expansão maior dos países Brics para os países do Sul Global, e que possamos definir os novos rumos que devemos trilhar nos próximos anos”, disse a hoje presidente do NDB (sigla inglesa do Novo Banco de Desenvolvimento, a agência bancária do bloco), que tem sede em Xangai.

A expansão iniciada no ano passado, contudo, foi travada agora devido aos inúmeros problemas de incorporação de novos membros —o Brics subiu de cinco para nove membros a partir deste ano. Sul Global é um jargão altamente impreciso para os antigos países emergentes.

A declaração final que ainda pode ser mudada pelos líderes dos países, a cujos termos a Folha teve acesso, prevê apenas a criação da categoria de parceiros do bloco. Uma lista de 12 países foi elaborada e será submetida a aprovação em reunião nesta quarta (23).

Dilma falou no breve encontro com o anfitrião da cúpula, Vladimir Putin, estreando a agenda do russo —que acabará o dia tendo se encontrado com os líderes da China, Índia, África do Sul e Egito.

Putin voltou a um tema caro a ele, o aumento do comércio internacional em moedas locais dos membros do Brics. Isso decorre da falta de acesso da Rússia ao mercado externo, devido às sanções impostas pelo Ocidente devido à Guerra da Ucrânia.

Houve um incremento disso nos últimos anos, mas o dólar ainda domina o comércio mundial, com até 70% de domínio nas transações. A chamada desdolarização é um processo incipiente, contudo.

“O aumento dos pagamentos em moeda local permite reduzir os pagamentos do serviço da dívida, aumentar a independência dos países membros do Brics e minimizar os riscos geopolíticos. Na medida do possível no mundo de hoje, libertar o desenvolvimento econômico da política”, disse Putin.

Recentemente, o russo defendeu o incremento do papel do NDB no papel de alavancar investimentos. Ele lembrou que o banco já financiou mais de cem projetos, totalizando US$ 33 bilhões (R$ 188 bilhões hoje), desde que começou a operar há seis anos.

Seja como for, Dilma está de mãos amarradas, já que as regras de governança do NDB proíbem que a instituição viole sanções internacionais —logo, a Rússia não verá dinheiro do banco.

Depois, ao receber o premiê indiano, Narendra Modi, em mais uma agenda bilateral às margens da cúpula, Putin protagonizou uma cena curiosa. O tradutor de sua fala não ousou interrompê-lo, deixando Modi proverbialmente perdido.

Putin percebeu e brincou, dizendo: “Temos uma relação tão grande que pensei que você já entendesse tudo”, disse. Trocaram sorrisos, que haviam sido precedidos por um caloroso abraço.

O russo abriu tecnicamente a cúpula em um almoço de trabalho, mas do ponto de vista cerimonial ela começa à noite, quando ele receberá no Kremlin de Kazan os chefes de Estado e de governo do Brics. O único ausente é Lula (PT), que bateu a cabeça em uma queda doméstica no fim de semana e está representado pelo seu chanceler, Mauro Vieira.

IGOR GIELOW / Folhapress

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