Direita espanhola terá em rito do Parlamento última chance de governar

MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – O Partido Popular tenta, nesta terça-feira (26), a investidura de seu líder Alberto Núñez Feijóo como o próximo primeiro-ministro da Espanha, em substituição a Pedro Sánchez, do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que comanda o país desde 2018.

O problema é que, apesar de ter tido mais votos nas eleições de 23 de junho, o PP não deve levar o cargo. Isso porque a legenda conservadora não está conseguindo formar maioria no Congresso, pulverizado entre diversas siglas menores, alguns deles separatistas —e a união com esse grupo parece ser um limite que a sigla de direita não vai ultrapassar.

Outro limite, menos traumatizante para os conservadores, seria o de se aliar aos ultradireitistas do Vox. No entanto, os 170 votos que resultariam da soma entre os recém-eleitos 137 deputados do PP e os 33 do Vox deixariam a coalizão ainda aquém da maioria absoluta de 176 (metade do Parlamento mais um).

A partir do meio-dia (7h no horário de Brasília) desta terça (26), Feijóo discursará na Câmara. Em seguida, os líderes de outros nove grupos subirão à tribuna para apoiar ou para criticar o postulante. Esse processo deve se estender até o dia seguinte e, no fim da quarta-feira (27), Feijóo será submetido aos votos de “sim” ou “não” dos deputados.Caso não vença, hipótese mais provável, uma segunda votação ocorrerá 48 horas depois, ou seja, na sexta-feira (29). Nesse caso, as regras mudam um pouco, e Feijóo poderá ser eleito primeiro-ministro se conseguir qualquer maioria para o “sim”.

Isso poderá acontecer se, por exemplo, o PSOE e a liga esquerdista Sumar (152 deputados no total) votassem “não” e o resto dos partidos menores se abstiverem, em vez de segui-los na negativa.

Essa não seria uma forma confortável de governar, mas é exatamente assim que Sánchez tem liderado o país desde seu segundo mandato, no fim de 2019. Na ocasião, o PSOE e os esquerdistas reuniram 167 votos, que venceram os 165 contrários. Isso só foi possível porque houve 18 abstenções.

Governar assim significa ter que negociar a cada passo com inúmeros atores, o que torna a liderança do país bem mais complexa —ou frágil, como os adversários de Sánchez preferem dizer.

Mas é difícil que haja abstenções o suficiente para favorecer Feijóo na votação desta semana. No domingo (24), o líder do Partido Popular reuniu cerca de 40 mil pessoas em Madri e mais uma vez se colocou contra a anistia para os separatistas catalães que autoproclamaram a independência da Catalunha em 2017 e que hoje sofrem diversos processos judiciais.

Sánchez, por sua vez, tem feito inúmeros acenos a todos eles, sendo que o mais vistoso até agora foi incorporar três novas línguas como idiomas oficiais no governo espanhol. Desde a semana passada, os deputados podem falar no Congresso usando o catalão, o galego e o basco. Toda a documentação produzida pelo governo também passou a ser traduzida para essas línguas.

Dois partidos bascos, com 13 votos, já apoiam Sánchez, além de um da região de Barcelona, o ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), com mais sete. No total, Sánchez tem 171 votos.

Assim, os olhos recaem no outro catalão, o Junts, partido responsável por uma tentativa frustrada de separação em 2019 e que diz não ter outro objetivo senão a independência da região. Caso consiga atraí-los, Sánchez obteria sua maioria.

Uma investidura de Sánchez, no entanto, não seria imediata. Caso o PP não leve o cargo nesta semana, o rei Felipe 6º fará uma rodada de contatos com todos os partidos. Em seguida, deverá indicar Sánchez, e a presidência do Congresso marcará a data da nova investidura.

Espera-se que isso ocorra em outubro. De qualquer forma, terá de ser no prazo de dois meses contatos a partir do eventual fracasso da tentativa de Feijóo, ou novas eleições serão convocadas para o fim do ano.

IVAN FINOTTI / Folhapress

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