SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil) diz que apresentará uma candidatura de direita em 2024 e que é um erro desse campo achar que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) é o melhor nome para bater Guilherme Boulos (PSOL) na eleição para a Prefeitura de São Paulo.
Kim afirma à Folha de S.Paulo que Nunes é o candidato ideal para dar a vitória a Boulos por ser “o sujeito mais fácil de se criticar do mundo”, já que sua gestão é “um absoluto desastre”.
O líder do MBL (Movimento Brasil Livre) diz ainda que a direita não pode ser reduzida ao bolsonarismo e que seu desempenho nas pesquisas convencerá a União Brasil, hoje tendendo a apoiar Nunes, a lançar sua candidatura.
O deputado obteve em agosto 8% de intenções de voto no Datafolha, contra 32% de Boulos, 24% de Nunes e 11% de Tabata Amaral (PSB). Os três pré-candidatos foram entrevistados nas últimas semanas.
PERGUNTA - O sr. vai ter chance de ser lançado pela União Brasil, já que uma ala, incluindo o presidente municipal, Milton Leite, apoia Nunes?
K. K. – Tenho certeza de que vou ter a legenda. Tenho boa relação com o vereador Milton Leite. Acredito que, com ele vendo que na primeira [pesquisa Datafolha] eu já fiz 8% e que a tendência é de crescimento, eu consiga nem [ter que] derrotá-lo numa convenção, mas convencer de que a candidatura própria é melhor para o partido, para fazer mais vereadores e marcar posição.
O deputado estadual Rafael Saraiva, que defendia no partido a sua candidatura e seria um dos coordenadores da campanha, decidiu apoiar Nunes. Existe uma debandada?
K. K. – Não. O principal apoio que tenho é na bancada federal. E na executiva nacional também, com ACM Neto, Mendonça Filho, Ronaldo Caiado. Também tenho conversas com o presidente Luciano Bivar, que me deu total liberdade para me colocar como pré-candidato.
Qual é o nível de certeza que o sr. pode dar de que daqui a um ano seu nome estará na urna?
K. K. – Eu dou 100%.
Se não chegar ao segundo turno, apoiaria outro candidato?
K. K. – Só trabalho com a hipótese de ir para o segundo turno.
E a hipótese de se candidatar por outro partido?
K. K. – Não existe. Minha candidatura vai ser pela União Brasil. Não sou um candidato bolsonarista nem extremista. Sou um candidato de direita que foi crítico à gestão de Jair Bolsonaro. Acredito que o debate não vai ser nacionalizado ou uma questão de “quem é seu padrinho?”.
Outros candidatos têm apoiadores como Lula, Bolsonaro, Simone Tebet (MDB), Geraldo Alckmin (PSB). Como vai se virar sem padrinho?
K. K. – Preciso demonstrar ser o melhor candidato, porque o candidato sou eu. Não estou me casando ou tendo filho para buscar padrinho.
O sr. quer mostrar, então, que é possível ter uma candidatura de direita que não seja bolsonarista?
K. K. – É evidente, pelo amor de Deus. Se nós formos reduzir a direita ao bolsonarismo, a direita está acabada. Não se pode reduzir uma ideologia a uma figura.
Na campanha, fará críticas a Lula e Bolsonaro mesmo correndo o risco de perder votos?
K. K. – Sempre fiz e vou continuar fazendo. No momento que eu precisar defender algo em que eu não acredito para ficar na política, eu saio dela.
O que o levou à decisão de se candidatar a prefeito?
K. K. – Nos últimos quatro anos eu fui assaltado seis vezes na cidade de São Paulo. Estou sentindo na pele a falta de um prefeito, tanto na segurança quanto na saúde.
Precisei até o ano passado da assistência psicossocial porque tenho ansiedade, depressão e insônia desde a morte do meu pai. E, se o SUS tem problemas estruturais, na questão da saúde mental isso é elevado à décima potência. É um lixo o atendimento do município.
Vendo o trabalho de prefeituras como a de Salvador [administrada por Bruno Reis, da União Brasil], resolvendo problemas, e São Paulo tendo dinheiro e pessoal para resolver, mas não resolvendo por incompetência, má gestão e indícios de corrupção, isso me fez querer disputar a eleição.
Como pretende se apresentar, considerando que a eleição tem dois campos se consolidando, com Boulos à esquerda e Nunes à direita, e que a rejeição ao seu nome é a maior numericamente?
K. K. – O Datafolha mostrou que minha maior rejeição está nas elites. Na pesquisa qualitativa que fizemos, a rejeição é porque a maior parte das pessoas ouviu falar de mim como um defensor de ricos. Na realidade, não nasci, nem sou hoje e muito menos defendo os interesses deles. Pelo contrário. Minha luta enquanto liberal é justamente antielite. O eleitorado mais pobre ou de classe média tende a me apoiar.
A sua estratégia hoje é mirar preferencialmente Nunes ou Boulos?
K. K. – Acho que ambos. Quero mostrar que a administração do Ricardo Nunes é um absoluto desastre. E [criticar] o Boulos, naturalmente, que está em primeiro nas pesquisas.
Quero mostrar para a direita que o Ricardo Nunes é incapaz de vencer o Boulos num debate ou numa eleição. O Nunes é o candidato para dar a vitória para ele [Boulos] porque é o sujeito mais fácil de se criticar do mundo.
Qual é a grande conquista de educação do Nunes? De assistência social? De saúde? A miséria, as reclamações sobre zeladoria e as filas da saúde aumentaram. Todos esses flancos vão ser usados pelo Boulos. Se a direita quer derrotar o Boulos, o candidato não é o Ricardo Nunes.
Como pretende se diferenciar de Tabata, que também critica Boulos e Nunes e coloca um programa mais ao centro?
K. K. – Temos visões de mundo distintas. A Tabata tem postura mais frouxa em relação à segurança pública. Ela é da base do governo Lula, e eu considero o Lula um criminoso que foi salvo por uma manobra judicial.
Tem algum plano para atrair o voto de bolsonaristas e até de petistas?
K. K. – Quero ter votos de todos os paulistanos possíveis, independentemente da sua ideologia. Mais à direita, tenho a preocupação com a criminalidade e a segurança pública: transformar a Guarda Municipal em polícia municipal, ter ronda ostensiva, recriar a Ronda Ostensiva Municipal.
Quero fazer o enfrentamento à cracolândia tanto do ponto de vista da assistência social e da saúde, mas também de segurança pública. Defendo internação compulsória para quem não tem mais condições de decidir por si próprio. Minha intenção não é atrair eleitor bolsonarista, é ter uma boa política pública. Se isso casa com o que eles acreditam, excelente.
Assim como erradicar a miséria, que é uma das minhas metas, pode casar com o que pensa o eleitor petista ou psolista, mas não estou fazendo isso para agradar a eles. A cidade mais rica do país não pode ter nenhum miserável. Mais do que isso, [quero] concentrar as políticas públicas de assistência social e juntar os programas, no que tenho chamado de Auxílio Sampa, para que conversem entre si.
Sabendo das limitações legais na segurança pública, área que depende dos governos estadual e federal, o sr. não está prometendo demais quando acena com a possibilidade de combater a violência?
K. K. – Não. O Supremo Tribunal Federal decidiu que guarda pode ser polícia municipal. São Paulo tem recursos para fazer operação delegada, colocar 100% da iluminação LED e integrar o circuito de câmeras. A prefeitura tem condições de implementar políticas que melhorem drasticamente a questão de furtos e roubos. Para mim, a cidade não tem prefeito, está dominada pelo crime.
Seu programa vai ser 100% liberal ou terá gradações?
K. K. – Sou um liberal, mas não sou dogmático. Estou aberto para políticas públicas pragmáticas. Tudo que estou apresentando no meu plano de governo é experiência que já funcionou em outros lugares.
Qual é sua visão sobre privatizações e o que pensa em relação à da Sabesp?
K. K. – Sou favorável à privatização da Sabesp. Os estudos mostram que a gente consegue universalizar o acesso ao saneamento básico mais cedo se privatizar a Sabesp do que se não privatizar. Já a Embrapa, para mim, é um exemplo de empresa estatal que funciona. Eu não privatizaria.
Sua candidatura traz o MBL, que aborda pautas de costumes e tem feito incursões em universidades culminando em episódios de violência, com os integrantes ora agredindo, ora o contrário. Como o movimento será trabalhado na sua candidatura?
K. K. – O MBL me ajuda e é parte fundamental da minha candidatura. Sobre as universidades, muitas vezes membros do MBL são agredidos e sai na imprensa que houve um conflito. Não, eles apanharam, inclusive um quase foi morto, que foi o [João] Bettega, no Paraná.
Eu faço a defesa, [mas também] faço a crítica aos erros do movimento, o que as esquerdas de maneira geral não fazem, principalmente o PT. No MBL não tem ladrão. Se o sujeito roubar no MBL, está fora. Não vou defendê-lo, chamá-lo de guerreiro do povo brasileiro.
Há espaço para a pauta de costumes no debate municipal?
K. K. – Meus temas são políticas públicas, de segurança, de assistência social, de saúde, de educação. Se outros temas forem trazidos, vou me posicionar, mas não vou ficar levantando isso.
Teme que essa postura de provocação e embate do movimento prejudique o sr.?
K. K. – Não. Questionar e provocar é da natureza do movimento. Acho que o MBL só agrega. Tem uma militância forte, redes muito bem estruturadas.
Arthur do Val, que foi candidato do MBL em 2020 e obteve 9,78% dos votos, teve o mandato de deputado estadual cassado após as falas sexistas sobre mulheres ucranianas vítimas da guerra. Qual será o papel dele na sua campanha?
K. K. – O candidato sou eu. Ele não é coordenador de nenhum setor da minha campanha, é membro do MBL. Não roubou, não traiu ninguém, não cometeu nenhum crime. Falou uma besteira e foi punido por ela.
Mas o MBL contestou a punição, dizendo que foi desproporcional.
K. K. – Sim, ele deveria ser punido por quebra de decoro e ter, sim, um afastamento do mandato. Agora, cassação durante oito anos dos seus direitos políticos? Nem a Dilma [teve isso]. Mas é evidente que sou contra o que ele disse.
RAIO X | Kim Patroca Kataguiri, 27
Nascido em Salto (SP), ganhou projeção como coordenador do MBL (Movimento Brasil Livre), que defende bandeiras liberais e conservadoras e atuou pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT). Faz faculdade de direito e está no segundo mandato consecutivo como deputado federal, pela União Brasil. Foi o décimo candidato mais votado do Brasil em 2022, com 295.460 votos. É pré-candidato à Prefeitura de São Paulo em 2024
JOELMIR TAVARES E CAROLINA LINHARES / Folhapress