BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Fernando Haddad (Fazenda), disse que no Brasil a direita não quer pagar o imposto que deve e a esquerda não quer cortar despesas. “Como é que fecha a conta?”, questionou ele nesta sexta-feira (20) durante entrevista a jornalistas.
Haddad afirmou que é preciso ter clareza de que o desafio fiscal no Brasil de busca do equilíbrio das contas públicas vai além da questão ideológica. “Temos que mirar a sustentabilidade das contas públicas.”
Para ele, o discurso em defesa do corte dos chamados gastos tributários (incentivos tributários e subsídios) desagrada os dois polos do espectro político.
Haddad ressaltou que assumiu o cargo com um Orçamento de 2023 com 17% do PIB (Produto Interno Bruto) de receitas, enquanto o valor dos anos anteriores girava em cerca de 19% do PIB. Ele ponderou que a queda corresponde a R$ 250 bilhões a menos de receita, e que é preciso recompor a base tributária de arrecadação do governo federal.
“Vamos ter que atuar dos lados, receita e despesa”, disse. O ministro voltou a falar que continuará adotando medidas de contenção de gastos, mas preferiu não citá-las. Afirmou que o ajuste do lado das despesas é um processo permanente.
Ele fez esse diagnóstico ao ser questionado sobre os votos contrários ao pacote de gastos de integrantes do PT e do PSOL, como dos deputados Rui Falcão (PT-SP) e Guilherme Boulos (PSOL-SP).
Em resposta, o ministro afirmou que não iria comentar voto a voto. Disse que estava feliz que as medidas do pacote foram aprovadas pelo Congresso. Comparou o processo a uma “maratona”.
Haddad reconheceu os erros na comunicação do pacote, que levaram à piora do mercado financeiro com as medidas. Na sua avaliação, a comunicação em tempos de redes sociais é muito mais difícil e desafiadora.
O ministro deu como exemplo as críticas que recebeu de bolsonaristas nas redes sociais com a notícia de que sairia de férias nos primeiros dias do ano. O foco dado nas postagens foi que, em meio à crise, o ministro estava tirando férias.
Haddad disse que sua esposa, Ana Estela Haddad, fará uma cirurgia, que, embora não seja grave, necessitará do seu acompanhamento durante o período de recuperação. Segundo o ministro, a sua opção foi sair de férias para ficar em São Paulo, onde seguirá trabalhando.
“Estou queimando os dias de férias para trabalhar”, disse. “Não tomei o cuidado de imaginar a maldade de pessoas que me têm como inimigo e não como adversário. Não sei se o cara que está tuitando aguenta meu ritmo de trabalho.”
ADRIANA FERNANDES / Folhapress