Disputa em capitais do Norte tem predominância da direita e discussão vazia sobre crise climática

MANAUS, AM (FOLHAPRESS) – As capitais da região Norte onde há segundo turno têm uma predominância de candidatos de direita e um esvaziamento da discussão sobre a crise climática na amazônia, apesar dos efeitos diretos que sofrem.

Eleitores das duas maiores cidades amazônicas –Manaus e Belém– voltam às urnas neste domingo (27). Nos dois municípios, a esquerda foi escanteada na primeira etapa da disputa.

A capital do Amazonas voltou a sofrer com efeitos de uma seca extrema, pelo segundo ano seguido, com ondas de fumaça de queimadas e níveis críticos dos rios.

Já a capital do Pará sediará a COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) em 2025 -é a primeira vez que o evento da ONU, que discute clima e floresta, será realizado na região amazônica.

Mas nem a transformação da cidade pela crise climática, como a vivenciada por Manaus, nem a COP30 a ser sediada por Belém tiveram peso substancial na disputa por votos.

Em Porto Velho, os eleitores também voltam às urnas no domingo. A capital de Rondônia ficou meses sob densa fumaça, provocada por queimadas descontroladas em áreas de floresta no município e em cidades vizinhas. A qualidade do ar esteve entre as piores do mundo. A crise climática, com efeitos diretos sobre a população, foi praticamente ignorada na disputa.

O segundo turno em Manaus, que tem 2 milhões de moradores, é disputado entre o prefeito David Almeida (Avante) e o deputado federal Capitão Alberto Neto (PL). No primeiro turno, o candidato à reeleição obteve 32,2% dos votos válidos. O oponente do PL ficou com 24,9% dos votos.

O candidato do presidente Lula (PT) em Manaus, o ex-deputado federal Marcelo Ramos (PT), terminou a disputa na quinta colocação, com 6% dos votos.

Almeida e Neto são políticos de direita. O prefeito é um apoiador de Jair Bolsonaro (PL). Já o deputado, que é policial militar, tem o ex-presidente como principal padrinho de sua candidatura.

Na disputa pela prefeitura, o atual gestor tentou se esquivar da polarização nacional e da influência do bolsonarismo na cidade. “Ele não é mais direita que eu”, disse Almeida sobre o adversário, após a conclusão do primeiro turno das eleições.

Na sabatina feita por Folha e UOL, o prefeito já havia indicado a estratégia. “Bolsonaro e Lula não são candidatos em Manaus. Estamos falando de quem vai cuidar da cidade. Estou buscando tratar a eleição dessa forma, sobre as questões locais. As questões nacionais fiquem para daqui a dois anos”, disse.

Durante a campanha à reeleição, Almeida, que apoiou Bolsonaro contra Lula em 2022, teve o apoio de aliados do petista, como os senadores Eduardo Braga (MDB-AM) e Omar Aziz (PSD-AM).

Em Belém, cidade com 1,3 milhão de habitantes, Bolsonaro também tem um representante direto na disputa, o deputado federal Delegado Eder Mauro (PL). O oponente é o deputado estadual Igor Normando (MDB), primo do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), seu principal padrinho político.

Normando recebeu 44,9% dos votos válidos no primeiro turno. Mauro, 31,5%. O atual prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL), que tinha chapa com o PT, recebeu menos de 10% dos votos.

A COP30 foi abordada em alguns momentos da campanha. O candidato do MDB, por exemplo, afirmou temer pelo evento em caso de vitória do oponente bolsonarista nas urnas.

“Ele não só não reconhece a importância da COP como também não vê problema nenhum em defender garimpo ilegal, desmatamento e outras ações como essas. Agora, ele se diz ambientalista e diz que vai conversar com o presidente e o governador. É no mínimo contraditório”, afirmou.

O candidato do PL disse que essa hipótese não faz sentido e afirmou, em entrevistas e discursos, que pretende apoiar a realização do evento.

Em Porto Velho, a candidata bolsonarista apoiada pelo governador de Rondônia, o também bolsonarista Marcos Rocha (União Brasil), é a ex-deputada federal Mariana Carvalho (União Brasil). Ela recebeu 44,5% dos votos válidos no primeiro turno. O oponente é o ex-deputado federal Léo Moraes (Podemos), que ficou com 25,7%.

A cidade ficou tomada por fumaça por semanas seguidas, com qualidade do ar considerada perigosa. Passou a ser frequente o recuo de aviões no ar em razão da impossibilidade de se pousar no aeroporto diante da falta de condições de visibilidade.

Problemas de saúde se avolumaram, especialmente respiratórios. A rotina de muitos foi alterada. O 7 de Setembro, por exemplo, não existiu. O desfile foi cancelado pelo governo do estado em razão dos riscos de exposição das pessoas à fumaça. Mesmo assim, a crise climática não esteve entre os principais debates da disputa eleitoral na cidade.

Palmas também terá segundo turno. A capital do Tocantins não segue a lógica amazônica, mas repete a tendência na disputa de candidatos de direita. A mais votada no primeiro turno foi a bolsonarista Janad Valcari (PL), com 39,2% dos votos. Eduardo Siqueira Campos (Podemos) teve 32,4%.

VINICIUS SASSINE / Folhapress

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