Disputa em Fortaleza opõe Lula a Bolsonaro e tem alta rejeição de candidatos

FORTALEZA, CE (FOLHAPRESS) – A eleição para a Prefeitura de Fortaleza, quarta cidade mais populosa do Brasil, chega ao primeiro turno num cenário de indefinição e com possibilidade de embate direto entre os candidatos apoiados por Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), num ensaio para 2026.

Quatro nomes têm chances de avançar para a segunda etapa, após uma campanha marcada por ataques entre os candidatos. As hostilidades envolveram o resgate de vídeos antigos do ex-youtuber André Fernandes (PL), uma guerra de jingles e até a cachorrinha Marrion –a mascote foi símbolo da campanha de 2020 do atual prefeito, José Sarto (PDT), mas trocou de lado e agora apoia Evandro Leitão (PT).

Em pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira (25), Fernandes tinha 27% das intenções de voto, Leitão, 25%, Capitão Wagner (União Brasil), 17%, e Sarto, 15%. A margem de erro do levantamento é de três pontos para mais ou para menos.

No começo do período eleitoral, o cenário era outro. O ex-PM Wagner, que já disputou e saiu derrotado de três eleições majoritárias, estava na liderança, seguido por Sarto, prefeito que busca a reeleição. O deputado federal Fernandes, apoiado por Bolsonaro, aparecia em terceiro lugar. O deputado estadual Leitão, candidato de Lula, em quarto.

Para crescer na disputa, a campanha petista apostou na associação do candidato (que até dezembro era filiado ao PDT) a seus padrinhos políticos, sobretudo Lula e o ministro da Educação, Camilo Santana, que têm altos índices de aprovação no estado. Outro cabo eleitoral de Leitão é o governador, Elmano de Freitas (PT). O neopetista também projetou o embate direto com o deputado bolsonarista, numa tentativa de reproduzir a polarização nacional na capital cearense.

“O que está em jogo nesta eleição são três projetos. O do atual prefeito, que foi omisso na sua gestão, tanto que está mal avaliado, ausente e taxando a população. Os dois candidatos bolsonaristas, ou seja, o projeto de Bolsonaro aqui no Ceará, e o projeto do PT, desse time progressista do Lula, do Camilo e do Elmano”, disse à Folha o ministro da Educação.

A imagem do “time do Evandro” foi reforçada em praticamente toda peça publicitária da campanha –o petista teve o maior tempo de televisão, bem à frente dos adversários, por causa do arco de partidos que o apoia, que vai do PT ao PP. Ele teve 5 minutos, enquanto o segundo colocado, Fernandes, somou 1 minuto e 58 segundos.

O deputado do PL, por sua vez, foi acusado por adversários de esconder Bolsonaro em sua campanha, diante da rejeição do ex-presidente no Ceará. Numa tentativa de atrair um eleitorado mais amplo, Fernandes buscou a moderação em seus discursos e tentou afastar a imagem de bolsonarista radical.

Com o seu crescimento nas pesquisas, passou a ser atacado por Wagner, seu ex-aliado. O ex-PM usou vídeos feitos pelo ex-youtuber na adolescência para arranhar a imagem pessoal de Fernandes –num deles, o deputado cheira sal com um canudo; em outro, esfaqueia um pedaço de papelão onde está escrito “minha namorada”.

Fernandes rebateu os ataques dizendo que Wagner está “em cima do muro”. Ele também se colocou como um nome contra a velha política na disputa, apostando na renovação (tem 26 anos).

À reportagem Wagner disse acreditar ser possível furar a polarização para chegar ao segundo turno.

“A eleição municipal e a gestão da cidade não dependem de polarização. Entendo que tratar dos problemas da cidade e apresentar as soluções é o melhor caminho para chegar no segundo turno.”

Além de ataques na direita, também houve embates entre os candidatos esquerdistas, num reflexo do rompimento entre PT e PDT.

Esse movimento, inclusive, abriu um racha entre dois dos principais líderes do partido: os irmãos Ciro e Cid Gomes. Cid se filiou ao PSB no começo do ano, selando o rompimento com o irmão, que permaneceu no PDT.

A eleição para a capital cearense expôs a briga dos irmãos Ferreira Gomes: Sarto é do grupo político de Ciro, e Cid apoia Evandro. Representantes das duas campanhas afirmam que havia uma expectativa de maior participação desses dois políticos na corrida eleitoral, o que acabou não ocorrendo. Sarto se apoiou, principalmente, na figura do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT).

O atual prefeito se vê numa posição delicada, com risco de não se reeleger. Ele tem sido alvo de críticas pela taxa de lixo, medida impopular que sancionou em 2023. Seus adversários dizem que ele abandonou a cidade.

No último debate, na quinta (3), Fernandes ironizou o fato de que a cachorrinha mascote de Sarto na campanha de 2020 agora apoia o candidato petista. “O povo está aqui para ver propostas, candidatos, está nítido um certo desespero. O povo de Fortaleza percebe que é culpa do Sarto. Você é o único candidato que não tem apoio sequer de sua cachorrinha”, disse.

A tutora do animal é Natália Herculano, ex-mulher do prefeito. Ela levou Marrion para aparecer na campanha de Leitão.

Sarto também liderava o índice de rejeição, segundo a pesquisa Datafolha. Ele aparecia empatado com Wagner, com 38% de eleitores que diziam que não votariam neles de jeito nenhum, seguidos por Fernandes (34%) e Leitão (29%).

À Folha ele minimizou a rejeição e afirmou que tem como legado um “portfólio de obras” para apresentar. “A nossa mensagem está chegando à população, que está começando a refletir que precisamos de maturidade. Não podemos nos aventurar em qualquer proposta.”

Integrantes da campanha de Fernandes e Wagner creditam os índices de rejeição aos ataques que os candidatos têm sofrido na propaganda eleitoral. Já Leitão diz avaliar que seu percentual é “bastante razoável” comparando com o dos adversários. “Isso é natural, porque faço parte de um campo progressista, [a polarização] sem sombra de dúvidas também influencia”, diz.

VICTORIA AZEVEDO / Folhapress

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