Disputa em Fortaleza terá polarização entre Lula e Bolsonaro em ensaio para 2026

FORTALEZA, CE (FOLHAPRESS) – A eleição à Prefeitura de Fortaleza representa um embate entre os candidatos de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), em um reflexo da polarização nacional cujo resultado pode impactar a disputa em 2026.

O presidente da República apoia na capital cearense o deputado estadual Evandro Leitão (PT), enquanto o deputado federal André Fernandes (PL) é o candidato do ex-mandatário.

Após um primeiro tuno acirrado, com ataques entre os candidatos e incerteza sobre o resultado até as vésperas da eleição, Fernandes terminou em primeiro lugar, com 40,2% dos votos, ante 34,3% de Leitão. Eles foram seguidos do atual prefeito, José Sarto (PDT), com 11,8% e do ex-PM Capitão Wagner (União Brasil), com 11,4%.

Integrantes da campanha de Fernandes avaliam que uma vitória na capital cearense, quarta maior cidade do país e a mais populosa do Nordeste, pode dar fôlego a um crescimento da direita na região. Tradicionalmente, o Nordeste é mais alinhado à esquerda e impulsionou a eleição de Lula contra Bolsonaro em 2022.

Dizem ainda que derrotar o PT na capital seria simbólico ao inviabilizar o desejo da sigla de comandar as três esferas -municipal, estadual e federal. O governador é o petista Elmano de Freitas.

Fortaleza deve ser a prioridade da direita bolsonarista no país, afirma um aliado de Fernandes. Ele diz que o deputado representa a nova geração do bolsonarismo, a exemplo de Nikolas Fernandes (PL-MG), que tem desenvoltura nas redes sociais, atrai multidões para eventos e representa o que chama de renovação da política. Fernandes é um dos nomes mais atuantes na oposição ao governo federal na Câmara.

Nesse sentido, esse aliado diz que o deputado tem “pernas próprias” e não precisaria se apoiar na figura de Bolsonaro. No primeiro turno, Fernandes foi acusado por adversários de esconder na campanha o padrinho político pela rejeição dele no estado. No segundo turno de 2022, Lula ganhou de Bolsonaro com 58% dos votos válidos.

Na tentativa de atrair um eleitorado mais amplo, Fernandes buscou moderar seus discursos na TV e em peças de campanha, afastando a imagem do bolsonarismo mais radical –destoando de seu perfil combativo na Câmara.

Desde o começo, o ex-youtuber se diz oposição ao que classifica como a velha política na capital cearense, comandada pela esquerda (PT ou PDT) desde 2005, algo que a equipe de Fernandes tenta explorar pelo viés do desgaste desse espectro político.

A campanha apostou no mote de “coragem para mudar”, destacando a modernização e renovação, lembrando que o candidato tem 26 anos. Caso eleito, ele será o prefeito mais jovem da história de Fortaleza.

No domingo (6), após o resultado das urnas, Fernandes relativizou a participação de Bolsonaro no segundo turno, dizendo que ele poderá atuar, mas que o ponto principal é o povo da capital cearense.

Aliados do ex-presidente, por sua vez, dizem que ele deverá viajar a Fortaleza para participar da campanha do bolsonarista.

Já a campanha petista deverá seguir a linha adotada no primeiro turno, com forte associação do candidato -que até dezembro era filiado ao PDT- a seus padrinhos políticos, sobretudo Lula e o ministro da Educação e ex-governador do Ceará Camilo Santana.

Eles apostam em uma maior participação do presidente neste segundo turno –na corrida do primeiro turno, Lula frustou a expectativa de aliados locais e participou somente da convenção que oficializou a candidatura de Leitão.

Já havia previsão de participação do presidente em agendas em Fortaleza na sexta-feira (11). Agora, Lula deverá também participar de ato da campanha do aliado no dia seguinte e fazer outras visitas, segundo um integrante da campanha.

A equipe do candidato também deverá comparar a gestão Bolsonaro para o estado com as iniciativas de Lula e Camilo Santana, além de reforçar a diferença entre o bolsonarismo e a esquerda nacionalmente, falando em projeto que defende a democracia contra um que prega o extremismo.

Neste domingo, após o resultado, Evandro reforçou a amplitude do arco de alianças e afirmou que a disputa é contra a extrema direita e o bolsonarismo em Fortaleza, não um projeto do PT.

Camilo, por sua vez, foi mais enfático e disse que o adversário apoiou os ataques golpistas do 8 de janeiro. O deputado foi um dos parlamentares investigados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) em razão dos atos.

“O que está em jogo no Ceará são aqueles que defendem a democracia e aqueles que tentaram um golpe no nosso país. Vamos mostrar quem é André Fernandes. Ele é um bolsonarista, antidemocrático e que atuou pelo golpe do 8 de janeiro”, disse.

A campanha também minimiza o desempenho de Fernandes no primeiro turno, dizendo que reflete a votação de Bolsonaro em 2022 no segundo turno (o deputado teve 562 mil votos, e o ex-presidente, 633 mil). O crescimento da votação em relação às pesquisas de opinião representa, segundo eles, a aposta do voto útil, já que Fernandes falou em ganhar no primeiro turno nos últimos atos de campanha.

Eles avaliam que ele teve essa votação com a migração dos votos do candidato da União Brasil, que apareceu em quarto colocado. Agora, dizem, é possível atrair os outros eleitores que não estão ligados ao bolsonarismo.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse no domingo que trabalhará para ter o apoio de União Brasil e PDT, já que os dois partidos integram o governo Lula.

VICTORIA AZEVEDO / Folhapress

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