Documentário sobre os irmãos Menendez não traz novas revelações

FOLHAPRESS – “Pela primeira vez na vida, acredito que as pessoas estão prontas para ter essa conversa, que podem entender e acreditar em tudo que nos aconteceu”, diz Lyle Menendez, hoje com 56 anos, no final do documentário “O Caso dos Irmãos Menendez”, que a Netflix bota no ar na esteira do sucesso da série de nove episódios produzida por Ryan Murphy e lançada mundialmente em setembro.

Não leva três semanas para fazer um documentário. Muito menos para conseguir entrevistas tão longas com dois prisioneiros de uma cadeia americana. E depois tem que encontrar as pessoas envolvidas e dispostas a falar, gravar todas as entrevistas, assisti-las, selecionar os melhores trechos, editar, sonorizar, e fazer mil outras coisas na chamada pós-produção de qualquer produto áudio visual —uma etapa do processo que costuma deixar quem está esperando ansioso por meses.

Ou seja: esse documentário que a Netflix bota no ar tão rapidamente já estava em produção muito antes da estreia da série. Provavelmente, para conseguir que os irmãos Menendez falassem de maneira tão aberta e em conversas tão longas, alguém teve que prometer alguma coisa em troca.

Não porque eles sejam parricidas confessos, mas porque cumprem uma pena de prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional, ou seja, não importa o quão arrependidos eles se mostrem, quanto tempo tenham passado presos, nem terem comportamento excelente ou mostrarem qualquer esforço para se reintegrarem à sociedade. Eles foram julgados e condenados, já recorreram a todas as instâncias possíveis, teoricamente não há mais nada que possa ser feito.

Não há movimento no TikTok, visita da Kim Kardashian ou a volta do caso aos holofotes capaz de mudar uma sentença dada por um juiz. No entanto, no final da semana passada, o promotor George Gascón, de Los Angeles, declarou que se sente em “obrigação moral e ética” de rever o caso dos meninos bonitos, jovens, ricos e atléticos que mataram os pais a sangue-frio na noite de 20 de março de 1989.

A única possibilidade de Lyle e Erik voltarem a viver em liberdade de novo é se aparecerem novos fatos. E eles precisam ser irrefutáveis, precisam ser provados perante a lei.

E a história dos horrores perpetrados por José Menendez, o pai e algoz dos meninos que acabou como vítima de um assassinato brutal, junto de sua mulher, Kitty Menendez, de que o público só ouviu falar no julgamento, tem isso.

Em 2023, o ex-Menudo Roy Rosselló, que hoje em dia é pastor evangélico no Rio de Janeiro, deu uma entrevista para uma TV norte-americana contando que foi “oferecido” para José Menendez pelo empresário panamenho Edgardo Díaz, 77, criador da boy band Menudo, como “brinde” pelo contrato milionário oferecido pela gravadora americana RCA.

Uma prima dos irmãos Menendez, uma das testemunhas mais importantes do primeiro julgamento dos irmãos, que foi televisionado pelo canal a cabo Court TV, também recuperou uma carta escrita por Lyle Menendez na infância. Nela, ele contava detalhes sobre os abusos do pai, e detalhava há quanto tempo sofria com isso e perguntava se era normal que pais agissem assim.

Mas nada disso está no documentário. A série da Netflix conta como José foi o negociador do contrato do Menudo, nada mais. O menino porto-riquenho, na época com 13 anos, teria sido convidado a jantar na casa da família Menendez com Díaz, que teria oferecido uma taça de vinho com tranquilizantes para ele. Rosselló teria desmaiado e não se lembra de nada, só de ter acordado no dia seguinte no quarto de um hotel, com sangramento anal. O nome de Roy não é mencionado nem na série ficcional, nem no documentário.

Há algo muito estranho acontecendo. Pode até ser que nem o depoimento do ex-Menudo nem a carta da prima dos meninos tenham lá muito peso com o público ou o sistema jurídico americano, mas as duas grandes novidades não serem nem levantadas é, por si só, um fato relevante. Três, na verdade, afinal, a série de nove episódios que ficou entre as mais assistidas da história do canal de streaming não pode ser ignorada.

E o que o documentarista argentino Alejandro Hartmann pode ter oferecido em troca dos longos depoimentos que servem como espinha dorsal do documentário? No mínimo a oportunidade de Lyle e Erik contarem para o público de hoje a versão deles da história, e que talvez temessem uma reação negativa à série de Ryan Murphy (e não me consta que tenha Netflix na penitenciária de San Diego, onde eles estão desde 2018). E, imagino, a garantia de que o documentário não faria nada que agravasse a situação deles deve ter sido negociada.

Isso de fato “Os Irmãos Menendez” não faz. É mais do mesmo, é como se fosse um documentário dos anos 2000. Pode até matar a curiosidade de quem está conhecendo agora essa história triste e macabra, mas não acrescenta nada a quem já sabia do caso de cor.

O CASO DOS IRMÃOS MENENDEZ

– Avaliação Regular

– Quando Disponível na Netflix

– Produção EUA, 2024

– Direção Alejandro Hartmann

TETÉ RIBEIRO / Folhapress

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