RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – A Prefeitura de Capitólio (MG) afrouxou as exigências para os turistas que utilizam embarcações para visitar os cânions do lago de Furnas, local onde ocorreu uma tragédia que matou dez pessoas há quase dois anos e gerou uma série de restrições nas visitas.
Decreto do prefeito Cristiano Geraldo da Silva (PP) passou a permitir que os turistas não sejam mais obrigados a usar coletes e capacetes em seus passeios turísticos no lago, que é conhecido como “mar de Minas”.
Em seu anúncio, feito em vídeo, o prefeito da cidade mineira afirmou que as novas regras foram possíveis de serem adotadas devido aos resultados dos estudos de monitoramentos diários feitos por uma equipe de geólogos nos cânions desde março do ano passado. A Folha de S.Paulo não conseguiu localizar o prefeito para comentar.
A medida agradou ao setor turístico de Capitólio, que já vinha pressionando por flexibilizações devido à queda no número de visitantes enfrentada por conta da tragédia.
Em outubro, a prefeitura decretou emergência financeira por 90 dias para conter gastos devido, entre outros pontos, aos impactos da tragédia na economia local, à pandemia de Covid-19 e a um alagamento de uma região da cidade após o transbordamento do rio Piumhi.
O desprendimento de uma grande rocha matou dez pessoas na cidade mineira em 9 de janeiro de 2022 e, após um período interditado, o local essencial para o turismo de Capitólio foi reaberto com uma série de restrições.
Veto ao som alto, obrigatoriedade do uso de coletes e capacetes, limite de lanchas na região dos cânions, proibição de nadar em alguns trechos e impedimento de os barcos pararem no local onde houve a queda da rocha foram algumas das medidas adotadas.
Com o decreto, a utilização do capacete passa a ser facultativa, assim como o uso de coletes salva-vidas . Há regiões em Capitólio em que a profundidade do lago de Furnas chega a 90 m.
As avaliações geológicas dos cânions, feitas diariamente desde março do ano passado, agora ocorrerão em dias intercalados até 31 de março de 2024. Depois, serão quinzenais nos meses tradicionalmente sem chuva (de abril a setembro), voltando a serem semanais de outubro a março de 2025.
Se, no entanto, houver incidentes relevantes, o monitoramento poderá ser diário, de acordo com a decisão da prefeitura.
“Só é possível [a liberação] pois, desde março de 2022, a gente tem feito monitoramento diário dos cânions com a equipe de geólogos”, disse o prefeito no vídeo publicado. Ele afirmou ainda que um novo estudo recebido na primeira quinzena do mês permitiu as flexibilizações.
De acordo com o prefeito, a administração trabalha um “turismo seguro e de responsabilidade, acima de tudo”. “Nossa região hoje é referência para várias outras cidades do país, a gente pode considerar que Capitólio hoje é a cidade mais responsável no turismo náutico, no ecoturismo e no turismo de aventura.”
Ele ainda disse que as novas normas, além do monitoramento diário, foram possíveis devido à parceria com Marinha, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual e a união com os municípios vizinhos São João Batista do Glória e São José da Barra. A hidrelétrica de Furnas fica entre os municípios.
O turismo não se recuperou totalmente do baque sofrido com a tragédia, segundo agentes que atuam no setor ouvidos pela Folha de S.Paulo, e a expectativa é que a flexibilização de agora mostre aos turistas que é seguro visitar Capitólio.
O principal desejo é conseguir recuperar o fluxo de turistas que viajam em ônibus de excursões, que sofreram forte redução após o acidente.
Além disso, o nível do reservatório de Furnas está propício para o desenvolvimento das atividades turísticas e econômicas nos outros municípios banhados pelo lago são 34, no total.
O reservatório, de acordo com Furnas, estava na última quinta-feira (21) 764,4 m acima do nível do mar, 2,4 m além do considerado ideal pela Alago (Associação dos Municípios do Lago de Furnas).
“Agora esperamos atrair mais turistas na virada do ano e nas férias. É seguro, aquilo que ocorreu [tragédia] foi algo que ninguém nunca imaginava, surreal”, disse José Mario Seixas, que oferece passeios de barco na região do rio Turvo.
O local abriga cerca de 200 lanchas, que têm capacidade para transportar de 9 a 25 passageiros cada e que oferecem a visita aos cânions e a outras atrações do lago por um preço médio de R$ 100 por pessoa.
OBRAS ESTRUTURAIS
O local em que houve o acidente não está totalmente aberto para visitação em Capitólio, o que só será permitido depois da realização de obras estruturais.
Em novembro do ano passado, a prefeitura e o governo mineiro assinaram convênio para obras de contenção em dois dos cinco pontos considerados prioritários, que devem levar ao menos dois anos para serem concluídas.
O custo estimado foi de R$ 2,9 milhões, dos quais R$ 2 milhões do governo do estado, a serem usados na estabilização de taludes rochosos próximos à cachoeira dos cânions, hoje interditados.
Em 10 e 11 de novembro, a visita aos cânions foi interditada para manutenção por geólogos, e liberada imediatamente no dia seguinte. O turismo reclamou por ocorrer num fim de semana próximo aos feriados de 15 e 20 de novembro.
MARCELO TOLEDO / Folhapress