SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em alta nesta quinta-feira (14), em meio às expectativas dos investidores pelo governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
Às 9h37, a moeda norte-americana subia 0,32%, a R$ 5,810 na venda. Na quarta, fechou em alta de 0,33%, cotada a R$ 5,792, e a Bolsa teve leve variação positiva de 0,02%, a 127.733 pontos.
Nesta sessão, o dólar avançava de forma ampla nos mercados globais, em extensão de seu movimento recente impulsionado pela vitória de Trump na eleição presidencial dos EUA na semana passada, com o republicano também conduzindo seu partido à conquista do controle das duas Casas do Congresso.
Já na quarta, o dia foi marcado por dois leilões do BC (Banco Central), que injetaram US$ 4 bilhões no mercado. Comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no fim da tarde, sobre o pacote de ajustes fiscais e um plano a longo prazo para as despesas ajudaram a aliviar as cotações. O mercado também monitorou os rumos dos juros americanos.
Segundo informou o Banco Central, o leilão de linha A ocorreu das 12h15 às 12h20, enquanto o leilão de linha B ocorreu das 12h35 às 12h40. Ambas as vendas foram realizadas com base na Ptax das 10h como taxa de câmbio, que marcava R$ 5,743.
Ainda na cena doméstica, o mercado se ateve ao possível anúncio de pacote fiscal pelo governo e demonstrou nervosismo com a demora em apresentar os cortes, o que vem influenciando a alta do dólar ante o real.
O ministro Fernando Haddad disse nesta quarta-feira que as medidas de contenção de gastos já estão prontas e que o anúncio depende da decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ele não quis responder qual será o impacto do pacote nas contas públicas, mas afirmou que o valor é “expressivo”.
“Mais [importante] do que o número, na minha opinião, é o conceito que nós utilizamos para fazer prevalecer essa ideia de que as coisas devem, todas elas, na medida do possível, ir sendo incorporadas a essa visão geral do arcabouço, para que ele seja sustentável no tempo”, disse Haddad.
Aprovado em 2023, o arcabouço fiscal permite que os gastos primários do governo federal cresçam no máximo 2,5% acima da inflação por ano, respeitando um ritmo de até 70% da alta das receitas.
O ministro disse ter discutido na quarta linhas gerais das iniciativas com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), além de debater medidas específicas com o Ministério da Defesa. Segundo ele, o governo está avaliando se consegue incluir mais medidas no pacote a ser enviado ao Congresso Nacional.
“Assim que Lula der autorização, nós estamos prontos para dar publicidade aos detalhes do que já está sendo dito aqui”, afirmou Haddad.
As discussões sobre o conjunto de medidas para o ajuste fiscal chegaram à terceira semana.
Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital, destacou que o mercado segue em compasso de espera quanto às medidas fiscais discutidas pelo governo, especialmente após a inclusão do Ministério da Defesa no pacote de cortes de gastos.
“Fica claro que a falta de clareza sobre a implementação dessas medidas adiciona incerteza e aumenta a cautela entre os investidores”, afirma.
Economistas do Itaú Unibanco calculam que, para que o mercado financeiro tenha mais confiança no ajuste fiscal proposto pelo governo, são necessários ao menos R$ 60 bilhões em cortes de gastos, sendo R$ 25 bilhões em 2025 e R$ 35 bilhões em 2026.
Na agenda econômica internacional, os dados sobre inflação em outubro dos EUA ficaram dentro do esperado.
O índice de preços ao consumidor aumentou 0,2% pelo quarto mês consecutivo, segundo o Departamento do Trabalho. Em 12 meses até outubro, a alta foi de 2,6%, comparado aos 2,4% registrados em setembro.
Economistas consultados pela Reuters previam um aumento de 0,2% no mês e 2,6% no acumulado anual. O resultado reflete a saída de uma base de comparação baixa de 2023.
Keone Kojin, economista da Valor Investimentos, afirmou que os resultados do CPI de outubro no mercado americano saíram “bem em linha com o esperado” e, nesse sentido, o Fed não deve mudar a probabilidade de redução de juros de 0,25%.
“No entanto, o Fed tampouco deve rechaçar ou descartar a possibilidade de, numa próxima reunião, manter esses juros em vez de reduzi-los”, disse.
Kojin afirma que a expectativa de políticas de Donald Trump podem trazer uma inflação mais elevada ou manter a inflação em patamar alto por mais tempo, algo que será reavaliado em reuniões futuras do Fed.
Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, aponta que a incerteza sobre o próximo ano, com a possibilidade de um governo mais protecionista nos EUA, pode gerar mais inflação e juros mais altos, o que contribui para a valorização do dólar.
A insatisfação com a inflação contribuiu para a vitória do republicano Donald Trump na eleição presidencial, superando a candidata democrata e vice-presidente Kamala Harris.
Analistas projetam inflação mais alta em 2025, caso Trump implemente cortes de impostos e tarifas sobre produtos importados. Suas promessas de deportação de imigrantes podem reduzir a oferta de mão de obra, elevando custos para empresas, que devem repassá-los aos consumidores.
Embora seja esperada uma nova redução na taxa de juros pelo Fed em dezembro, economistas acreditam que o espaço para novos cortes em 2024 é limitado. Os rendimentos dos Treasuries aumentaram, refletindo a expectativa de políticas econômicas republicanas sem oposição no Congresso.
Com Reuters
Redação / Folhapress