Dólar abre em alta, com temores sobre Petrobras e de olho na inflação dos EUA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar operava em alta nesta quarta-feira (15), em meio a temores sobre a troca de comando da Petrobras e à espera de importantes dados de inflação dos Estados Unidos.

Por volta das 9h45, a moeda norte-americana avançava 0,33%, cotada R$ 5,148 na venda.

Os investidores digeriam as notícias sobre a demissão de Jean Paul Prates do comando da estatal brasileira na noite de ontem, cujo posto será ocupado por Magda Chambriard, ex-presidente da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) no governo Dilma Rousseff (PT).

Com Chambriard, a Petrobras terá o sexto presidente em três anos.

A troca de comando foi vista com preocupação por economistas, que temem interferência política na estatal.

Na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a Petrobras segue sofrendo ingerências preocupantes por parte do governo, a política de precificação não está pacificada e há defasagens acumuladas de preços que terão que ser revistas.

“Fica um cheiro no ar de gestão ao estilo de Dilma, algo que vai ser importante acompanhar nos próximos meses. Não foi um bom sinal, considerando o que parecem ser as motivações para a troca de Prates”, diz.

Segundo o economista, o governo está criando ruídos excessivos em várias áreas nos últimos meses: fiscal, monetária e, agora, na Petrobras.

Os olhos também estão voltados à inflação ao consumidor dos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês).

O dado é um importante indicador para calibrar as expectativas do mercado quanto à proximidade do primeiro corte na taxa de juros norte-americana, atualmente na faixa de 5,25% e 5,50%, pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).

A projeção, de acordo com a Bloomberg, é que o CPI de abril tenha subido 0,4% na base mensal e 3,4% na anual. O Fed trabalha com a meta de levar a inflação a 2% em 2024.

“Se o dado de inflação vier em linha ou abaixo do projetado, todo o mercado vai precificar a possibilidade de corte de juros antes de setembro, que é o consenso neste momento, e talvez até uma chance de mais cortes de juros em 2024”, avalia Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

“Se vier mais forte, o mercado ficará mais cauteloso e poderá empurrar a expectativa do primeiro corte de juros para além de setembro.”

A economista ressalta que, ainda que a inflação norte-americana tenha desacelerado nos últimos meses, o componente de serviços tem se mostrado “persistentemente elevado” e o mercado de trabalho ainda está aquecido, o que adiciona mais dificuldade de conduzir a inflação à meta de 2%.

Na terça-feira, o dólar encerrou a sessão em queda de 0,41%, cotado a R$ 5,130 na venda. Já o Ibovespa teve alta de 0,28%, a 128.515,50 pontos, com investidores digerindo a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) e o balanço da Petrobras no último trimestre.

O mercado aguardava a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) para antever os próximos passos da política monetária do país. De acordo com o documento, todos os membros da diretoria defenderam uma postura mais contracionista e cautelosa, apesar da decisão dividida sobre o ritmo de corte da taxa Selic.

A taxa básica de juros do país foi reduzida em 0,25 ponto percentual na reunião da semana passada, indo de 10,75% para 10,50% ao ano. O movimento aconteceu após seis quedas consecutivas de 0,50 ponto —corte até então sinalizado pelo BC para a reunião pelo chamado “foward guidance”, mas revisto diante de uma conjuntura de maior incerteza no cenário global e doméstico.

Foram cinco votos favoráveis à redução de menor magnitude, contra quatro favoráveis ao de 0,50 ponto.

A ala majoritária era composta por diretores indicados ou reconduzidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Já os outros quatro foram indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que levantou temores sobre mudanças no perfil do colegiado.

A ata indicou, porém, que a preocupação dos favoráveis ao corte de 0,5 p.p. era em manter a sinalização do foward guidance, por temores de “custo reputacional” à instituição.

“Tais membros discutiram se o cenário prospectivo divergiu significativamente do que era esperado a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do Comitê”, disse a ata.

A justificativa acalmou os mercados, e as taxas de juros futuros recuaram na ponta longa, conforme as incertezas sobre o Copom se atenuavam.

Os papéis da Petrobras, porém, aumentaram a pressão sobre o índice ao longo da tarde, em meio à repercussão do balanço do último trimestre: os preferenciais recuaram 1,80% e os ordinários, 2,74%.

A Vale, apesar da queda dos preços do minério de ferro no exterior, fechou em estabilidade, com queda singela de 0,06%.

Natura também esteve entre as quedas, a 9,43%, após o anúncio de prejuízo de R$ 934,9 milhões no primeiro trimestre do ano.

Entre as altas, Hapvida disparou 10,42%, em razão do salto no lucro líquido ajustado para R$ 506,8 milhões, ante R$ 33,1 milhões no mesmo período no ano anterior.

O Itaú fechou em alta de 1,09% após a Itaúsa anunciar um lucro líquido de R$ 3,585 bilhões —38% maior do que no mesmo período do ano passado. Já a Embraer avançou 7,65%.

TAMARA NASSIF / Folhapress

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