SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após a forte alta registrada na terça-feira (29), o dólar voltou a se valorizar na manhã desta quarta-feira (30) com o mercado ainda repercutindo a declaração do ministro Fernando Haddad (Fazenda) de que não há prazo para o anúncio de medidas de contenção de gastos do governo.
Os investidores também aguardam a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) e do mercado de trabalho nos Estados Unidos, além de avaliarem as perspectivas para a eleição presidencial que será na próxima terça-feira (5).
Às 9h04, o dólar subia 0,1%, a R$ 5,7684. Na terça-feira (29), o dólar fechou em forte alta de 0,95%, cotado a R$ 5,762, em meio a preocupações do mercado sobre as contas públicas do Brasil, influenciadas também pela declaração de Haddad.
Essa foi a maior cotação para a moeda americana desde 29 de março de 2021, quando fechou em R$ 5,767. Na máxima da sessão desta terça, chegou a R$ 5,766. A moeda brasileira foi a que mais se desvalorizou nesta sessão, em comparação às principais divisas do mundo.
Em entrevista a jornalistas no fim da tarde, Haddad disse que as propostas de corte de gastos prometidas pelo governo estão sob análise do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que cabe ao presidente definir quando o conjunto será fechado.
A pretensão de encaminhar ao Congresso Nacional ainda em 2024 um pacote de revisão de gastos estruturais foi anunciada pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) em 15 de outubro.
O mercado, em resposta, passou a alimentar uma expectativa crescente por medidas concretas que diminuíssem o desequilíbrio das contas públicas.
Mas a falta de previsão reforça “demora do governo em adotar medidas fiscais mais responsáveis”, afirma Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
“O perfil fiscal expansionista do governo não agrada ao mercado, especialmente no que se refere ao cumprimento das metas de inflação.”
Para Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos, o fato de o pacote fiscal ainda precisar da aprovação de Lula pode “dificultar o processo e afastar a concretização das medidas”.
“O surgimento desses rumores foi o que movimentou os preços no início da tarde, levando o dólar a ultrapassar os R$ 5,76. Esse cenário gerou um descolamento ainda maior do real em relação a outras moedas de países emergentes”, afirma.
O dólar ainda se fortaleceu por conta do cenário dos Estados Unidos. O relatório de emprego Jolts mostrou que as vagas em aberto caíram em 418 mil, para 7,443 milhões no último dia de setembro o nível mais baixo desde janeiro de 2021.
O resultado sinaliza uma retração na demanda por mão de obra, reforçando a visão de que o mercado de trabalho está perdendo força. Na política monetária, a leitura é que a a desaceleração “pode justificar a continuidade dos cortes de juros pelo Fed [Federal Reserve, o banco central americano] para apoiar o crescimento”, diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
A expectativa em torno das eleições presidenciais americanas também tem pautado os mercados globais. Na disputa entre o ex-presidente Donald Trump e a vice-presidente Kamala Harris, o mercado aponta uma maior probabilidade de vitória para Trump, com chances de 66% de retorno à Casa Branca, segundo a plataforma Polymarket.
As promessas econômicas de Trump incluem aumento tarifário sobre as importações, especialmente as chinesas, e um possível corte de impostos medidas que são vistas como inflacionárias e que podem influenciar o Fed a manter juros elevados por mais tempo.
“O mercado espera uma vitória de Trump, que, por diversos fatores, tende a fortalecer o dólar durante seu mandato e a manter a inflação e os juros elevados por mais tempo. Kamala, por outro lado, sem o apoio do Senado, provavelmente enfrentaria limitações para implementar mudanças significativas, o que manteria o dólar em um patamar um pouco mais baixo em relação a outras economias”, afirma Keone Kojin, economista da Valor Investimentos.
Redação / Folhapress