Dólar abre em alta nesta terça-feira com investidores atentos ao conflito no Oriente Médio

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em alta nesta terça-feira (8) com os investidores demonstrando aversão ao risco com o aumento das tensões no Oriente Médio e na espera de dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos.

A moeda norte-americana subia 0,41%, cotada a R$ 5,5089. Na segunda-feira, o dólar fechou em alta de 0,55%, a R$ 5,485, e a Bolsa avançou 0,17%, aos 132.017 pontos.

O dia foi marcado pela previsão de cortes menores nos juros dos Estados Unidos e a escalada dos conflitos no Oriente Médio, e a sessão engatou uma semana de dados cruciais para as políticas monetárias do Fed (Federal Reserve, a autoridade americana) e do BC (Banco Central).

No mercado americano, os números de inflação medidos pelo CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês), divulgados na quinta-feira, são o foco. A projeção é de alta de 0,1% em setembro, contra o avanço de 0,2% de agosto.

Os investidores estão em busca de sinais sobre a trajetória dos juros. Na reunião do mês passado, o Fed iniciou o aguardado ciclo de afrouxamento na taxa de referência com um corte de 0,50 ponto percentual, levando-a à faixa de 4,75% e 5%.

Na ocasião, a justificativa foi o mercado de trabalho. A autarquia dos EUA trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os dados de inflação e de emprego para decidir sobre juros. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”, quando os índices de preços convergem para a meta de 2% sem maiores deteriorações à empregabilidade do país.

Nas leituras dos últimos meses, os indicadores inflacionários têm mostrado uma convergência gradual à meta de 2%, ao passo que os números de emprego estavam desacelerando a cada nova leitura.

Dados divulgados na semana passada, no entanto, indicaram que o mercado de trabalho não está passando por uma deterioração aguda, e, sim, por um esfriamento moderado.

Relatório mais monitorado pelos investidores, o “payroll” (folha de pagamento, em inglês) mostrou a abertura de 254 mil vagas em setembro, uma aceleração em relação às 159 mil abertas em agosto. A previsão era de 140 mil postos de trabalho. Também houve surpresa positiva na taxa de desemprego, que recuou para 4,1%, de 4,2% em agosto.

Os números benignos selaram apostas de que os próximos cortes nos juros serão graduais.

“Para a economia, isso significa que está ocorrendo um ‘pouso suave’. Continuamos criando emprego em um ritmo acelerado e a taxa de desemprego está caindo”, disse Ross Mayfield, estrategista de investimentos da Baird.

“Isso significa que é improvável que o Fed corte em 0,50 ponto percentual em novembro ou dezembro, certamente, e talvez até faça uma pausa em novembro.”

Com isso, na ferramenta CME FedWatch, a probabilidade de um corte de 0,25 ponto chegou a 84,5%, e a de manutenção da taxa no atual patamar atingiu 15,5%.

As projeções de cortes menores nos juros dos EUA fizeram os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, subirem na segunda. O rendimento do contrato de dez anos —referência global para decisões de investimento— subiu 0,06 ponto percentual, a 4,02%, ultrapassando a marca de 4% pela primeira vez em dois meses.

No Brasil, a grande divulgação da semana é esperada para quarta-feira, quando o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial de inflação do Brasil, mostrará como os preços se comportaram no mês passado. A expectativa de analistas consultados pela Reuters é de alta de 0,46%, ante queda de 0,02% em agosto.

Os investidores também procuram por indícios sobre os próximos passos do Copom (Comitê de Política Monetária), que deixou a trajetória da taxa básica de juros do país em aberto. O colegiado reiniciou o ciclo de altas na Selic na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e a levou ao patamar de 10,75% ao ano.

As próximas decisões, porém, estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação. O BC trabalha com uma meta inflacionária de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, e a taxa de juros é o principal instrumento da autarquia para controle de preços.

No boletim Focus desta segunda, economistas consultados pelo BC passaram a projetar um IPCA em 4,28% ao final de 2024, uma alta de 0,01 ponto percentual em relação ao relatório da semana passada.

Ainda que dentro da banda, o dado indica que as expectativas de inflação estão desancoradas do centro da meta. Em declarações recentes, dirigentes do Copom afirmaram que o foco das decisões continuará sendo a perseguição do alvo de 3%, e não das margens de tolerância.

Neste cenário, a expectativa dos investidores é que a Selic suba em 0,50 ponto na próxima reunião de política monetária, marcada para novembro.

Outro fator de relevância para os ativos globais tem sido a escalada de conflitos no Oriente Médio.

Desde terça-feira (1º), o mundo —e o mercado financeiro— tem estado em alerta para uma possível guerra generalizada na região. O Irã, em retaliação às ofensivas de Tel Aviv contra a Faixa de Gaza e o Líbano, disparou cerca de 200 mísseis contra Israel, que já prometeu uma resposta.

A possibilidade de um ataque ao Irã, um dos maiores exportadores de petróleo do mundo, tem levantado temores de uma diminuição da oferta da commodity. Na semana passada, a cotação do barril do Brent, referência do mercado externo, disparou, e, hoje, ultrapassou US$ 80.

Olhando para o mercado doméstico, a alta do petróleo no exterior costuma favorecer o real ante o dólar, já que o Brasil é exportador da commodity.

“Apesar de os mercados observarem agora uma desaceleração mais lenta na taxa de juros dos EUA, a redução dos conflitos geopolíticos deve reaquecer o apetite por risco, favorecendo principalmente as moedas emergentes e países exportadores de commodities”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

Redação / Folhapress

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