SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em forte alta nesta segunda-feira (11), com investidores à espera do pacote de corte de gastos e de olho em notícias vindas da China e dos Estados Unidos.
Às 9h03, a moeda norte-americana avançava 0,70%, a R$ 5,778 na venda. Na sexta-feira, fechou em disparada de 1,05%, a R$ 5,735, e a Bolsa caiu 1,42%, aos 127.829 pontos.
A última sessão foi marcado pela decepção de investidores em relação a medidas de estímulo econômico anunciadas na China e pela indefinição do pacote de corte de gastos do governo federal.
Da ponta internacional, a Comissão Permanente do Congresso Nacional do Povo principal órgão legislativo chinês aprovou um programa de refinanciamento das dívidas dos governos locais de 10 trilhões de yuans (R$ 8 trilhões).
O número ficou aquém do esperado pelo mercado, que já começa a precificar os efeitos de um novo mandato de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. Ainda candidato, o republicano prometeu aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações norte-americanas, incluindo as que vêm de países aliados.
Para os produtos chineses, o aumento prometido é de pelo menos 60%.
Visando amortecer os impactos de uma guerra comercial mais ampla com os norte-americanos, Pequim “precisa, essencialmente, de mais”, disse Carlos Casanova, economista sênior do UBP para a Ásia.
O especialista afirma que a China precisa de um pacote de 23 trilhões de iuanes (R$ 18,5 trilhões) para resolver a dívida local e os problemas imobiliários, o que representa cerca de 15% de sua economia, e provavelmente “vai conter parte desse poder de fogo até ter uma ideia melhor do que o presidente Trump está planejando”.
O ministro das Finanças chinês, Lan Foan, sinalizou que haverá mais estímulos nesta sexta-feira. Mas a decepção com o número anunciado derrubou preços de commodities relevantes para os mercados emergentes, sobretudo aqueles com fortes vínculos comerciais com a China como o Brasil.
O barril do petróleo Brent caiu mais de 2% na Bolsa de Londres, enquanto o minério de ferro fechou com perdas de 1,65% em Dalian.
Os efeitos no mercado de commodities costumam se alastrar no câmbio de países de forte pauta exportadora. Além do real, o dólar disparou também disparou contra o peso mexicano e ao rand sul-africano.
No Brasil, a aversão ao risco foi agravada pela indefinição do pacote de corte de gastos do governo federal. As medidas de contenção de despesas, prometidas em meados de outubro, visam dar mais sustentabilidade e longevidade ao arcabouço fiscal e atendem a temores de investidores quanto ao desequilíbrio das contas públicas do país.
A expectativa é que as propostas sejam apresentadas no começo desta semana. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve uma nova rodada de reuniões na sexta-feira com ministros de governo e, segundo auxiliares, o pacote só será anunciado quando o petista bater o martelo.
Além disso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, considera essencial que as medidas sejam apresentadas antes à cúpula do Senado e da Câmara.
Como mostrou a Folha, uma ala do governo defende que as medidas se tornem públicas num momento de menor turbulência externa nos mercados, cenário observado nesta semana diante da eleição dos Estados Unidos e da decisão do Banco Central sobre a taxa de juros.
Os adiamentos vão aumentando a expectativa em torno do pacote. Segundo pessoas a par das discussões, o abono salarial (espécie de 13º salário pago a trabalhadores com carteira que ganham até dois salários mínimos) deve ser alvo de um redesenho e há mais de um formato em análise.
O diagnóstico é de que o benefício, que custará R$ 30,7 bilhões em 2025, pode ser mais concentrado nos mais pobres. Já a desvinculação de benefícios sociais, como o abono e o BPC (Benefício de Prestação Continuada), em relação ao salário mínimo, defendida por economistas e pelo mercado pelo impacto potente que produziria nas contas, está descartado e não é alvo das discussões recentes, segundo as mesmas pessoas.
Alterar os pisos de saúde e educação ainda é uma opção na mesa, mas, segundo um dos interlocutores, é um “candidato fraco” a figurar no cardápio final das mudanças.
Analistas estimam que o corte teria de ser em torno de R$ 30 bilhões a R$ 50 bilhões para surtir o efeito desejado, tanto no âmbito fiscal, quanto nos ânimos do mercado.
A percepção de risco nas contas públicas é um dos fatores associados à desancoragem de expectativas sobre a inflação brasileira.
Na sexta, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação do país, acelerou a 0,56% em outubro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A alta veio após variação de 0,44% em setembro.
A expectativa era de avanço de 0,54% de acordo com a mediana das projeções de analistas consultados pela agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,48%% a 0,65%.
Com o novo resultado, a inflação alcançou 4,76% no acumulado de 12 meses, apontou o IBGE. O IPCA é referência para a meta perseguida pelo BC (Banco Central), cujo centro é de 3% em 2024. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais.
Isso significa que o objetivo será cumprido se o IPCA ficar no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) nos 12 meses até dezembro. O Copom (Comitê de Política Monetária), porém, projeta que a inflação fechará 2024 em 4,6%.
“O resultado traz a percepção de descontrole inflacionário no Brasil, que acaba gerando uma fuga de capitais aqui”, afirma Fernanda Campolina, especialista em câmbio da One Investimentos.
Na quarta-feira, o comitê brasileiro optou por aumentar a taxa básica de juros do país, a Selic, em 0,50 ponto percentual, a 11,25% ao ano. O movimento veio em linha com o esperado pelo mercado.
O movimento foi o oposto do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA). Na quinta, a autoridade americana cortou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, levando-a à faixa de 4,5% e 4,75% ao ano.
A decisão veio em linha com as expectativas do mercado e marca uma desaceleração do ritmo de afrouxamento monetário: no encontro passado, o Fed optou por uma redução de 0,50 ponto, após quatro anos sem cortar a taxa.
Redação / Folhapress