SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu com leve queda nesta quarta-feira (21) com os investidores na expectativa dos dados de emprego nos Estados Unidos, que podem indicar os rumos da política monetária no país.
Além disso, é também aguardada a divulgação da ata da reunião de julho do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) para saber se as autoridades avaliam a possibilidade de alteração na taxa de juros.
Às 9h04, o dólar caía 0,37%, cotado a R$ 5,466. Na terça-feira (20), o dólar fechou em alta de 1,33%, a R$ 5,4854, no maior valor da divisa americana ante o real desde o último dia 12, segundo dados da CMA.
Já o Ibovespa teve ganho de 0,22%, a 136.087 pontos, renovando o recorde alcançado na véspera.
Na terça-feira, investidores repercutiram a entrevista de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, ao jornal O Globo. Nela, o economista diz que a decisão do próximo Copom está indefinida e que o comitê ainda não sabe ao certo se o risco de alta ou queda da inflação são equivalentes.
“Há opiniões divergentes no grupo sobre o balanço de riscos, se são simétricos ou não. A gente vai decidir no próximo Copom”, disse Campos Neto à jornalista Míriam Leitão.
Após o último Copom sinalizar a possibilidade de subir juros, o mercado passou a precificar uma alta de 0,5 ponto percentual na reunião de setembro. Com as falas de Campos Neto, essa possibilidade fica mais incerta, dizem especialistas.
“Há dois fatores principais por trás da alta do dólar. O primeiro é externo, ligado a commodities agrícolas e ao petróleo, que se desvalorizam e impactam as divisas de países exportadores dessas matérias-primas. O segundo é interno, com o discurso de Campos Neto”, diz Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.
“Campos Neto deu um sinal de que o BC não está tão confortável com essa visão do mercado de que ele vai subir juros. Nos últimos dias ele e o [Gabriel] Galípolo meio que deram uma tirada de pé”, afirma Borsoi.
Galípolo, diretor de política monetária do BC, enfatizou na segunda-feira (19) que a ata do Copom sinaliza que o comitê aguarda novos dados macroeconômicos para definir o futuro da Selic.
As falas também repercutiram no mercado de juros futuros. Os títulos de longo prazo subiram, enquanto os mais curtos recuaram.
O juro para janeiro de 2025 terminou o dia cotado a 10,785%, uma queda de 0,06 ponto percentual ante a véspera.
O contrato para janeiro de 2027 subiu 0,005 ponto percentual, para 11,42%. Já o título com vencimento em janeiro de 2028 tem alta de 0,05 ponto percentual, para 11,435%.
Segundo André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, as falas dos membros do Copom são, algumas vezes, mais valiosas até mesmo que dados concretos.
Para o economista, Galípolo tem dado declarações mais “hawkish”, ou seja, que indicam combate à inflação, enquanto Campos Neto tem adotado um tom mais “dovish”, que indicam queda de juros.
“Em falas recentes, Campos Neto adotou um tom mais brando sobre um eventual aumento na taxa de juros e afirmou que a inflação e componentes de inércia e do potencial inflacionário vindo oriundo da consistente melhora do mercado de trabalho. Tais discursos fizeram com que a moeda norte-americana revertesse a tendência dos últimos dias e ganhasse força nesta terça”, afirma Galhardo.
O dólar costuma se depreciar à medida que o Fed reduz os juros. Em tese, a moeda americana se torna comparativamente menos atrativa em relação a outras divisas quando os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro dos EUA, chamados de treasuries, caem.
A mesma lógica se aplica à Bolsa brasileira e a outros mercados acionários. Quando há queda nos treasuries, considerados os ativos mais seguros do mundo, os investidores se voltam aos de maior risco. Isso explica, em grande parte, a atual disparada do Ibovespa.
Com esse pano de fundo, os agentes financeiros agora olham para o calendário da semana. Na quarta-feira, será divulgada a ata da última reunião do Fed, e, entre quinta e sábado, ocorre o encontro de autoridades de bancos centrais em Jackson Hole, no estado de Wyoming, nos EUA.
O destaque do simpósio será o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, na sexta-feira, com expectativa por sinais sobre a trajetória dos juros. Roberto Campos Neto, chefe do BC (Banco Central), dará palestra no sábado.
Redação / Folhapress