SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em queda nesta segunda-feira (25), refletindo o que ocorre nos principais mercados do mundo, após a escolha de Scott Bessent para ser o secretário do Tesouro nos Estados Unidos no governo de Donald Trump, que assumirá em janeiro de 2025.
A opção por Bessent foi anunciada na sexta-feira (22), quando o mercado brasileiro já estava fechado. No mundo, o dólar se desvalorizou 0,6% na comparação com uma cesta com moedas dos principais mercados como euro e iene.
Frente ao real, a divisa dos EUA caía 0,41%, cotado a R$ 5,7907, às 9h04. Na sexta-feira, o dólar fechou próximo à estabilidade e teve leve variação positiva de 0,01%, a R$ 5,812. Já a Bolsa disparou 1,73%, aos 129.125 pontos, com forte impulso da Petrobras.
O dia foi marcado pela expectativa em torno pacote de corte de gastos do governo brasileiro e pela cautela global diante do aumento das tensões na guerra da Ucrânia.
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) adiou mais uma vez o anúncio das medidas fiscais esperadas desde o final das eleições municipais, em 27 de outubro.
O pacote ficará para esta semana, informou o chefe da ala econômica do governo. Ele também anunciou que será feito um bloqueio adicional em torno de R$ 5 bilhões no Orçamento de 2024, além dos R$ 13,3 bilhões que já estão travados. Novos contigenciamentos foram descartados.
As medidas de contenção de gastos endereçam temores do mercado sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal, o conjunto de regras que visa o equilíbrio das contas públicas do país.
Para os agentes financeiros, é preciso ajustes na ponta das despesas, e não só reforços na arrecadação, para diminuir a dívida pública.
O pacote foi prometido ainda em meados de outubro pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), e a expectativa dos agentes econômicos têm crescido desde então.
“A demora em detalhar os cortes de gastos mantém o mercado em posição defensiva, com dúvidas sobre se as medidas serão suficientes para atender às metas fiscais”, diz Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.
“A paciência está no limite. Apesar das reiteradas declarações do ministro Fernando Haddad, de que as medidas devem ser anunciadas na próxima semana, o mercado parece não estar convencido de sua robustez.”
O tamanho do corte é estimado por integrantes do governo em R$ 70 bilhões entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões em 2025, e de R$ 40 bilhões em 2026. Para economistas do Itaú Unibanco, são necessários ao menos R$ 60 bilhões para que o mercado tenha mais confiança no ajuste fiscal proposto.
A cautela no meio doméstico ainda veio associada à guerra da Ucrânia, foco das atenções do exterior.
Pela primeira vez na história, a Rússia disparou em combate um míssil intercontinental desenhado para uso em guerra nuclear, em ataque contra a Ucrânia na quinta-feira.
O presidente russo, Vladimir Putin, alertou que o conflito na Ucrânia assumiu um “caráter mundial” e culpou as potências ocidentais pela escalada. Em discurso à nação, ele também ameaçou atacar as potências ocidentais que forneceram a Kiev armas usadas pela atacar a Rússia.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, ainda disse ter certeza de que os Estados Unidos “compreenderam a mensagem” após a disparada do míssil balístico.
O movimento deu vazão para temores de uma expansão acentuada da guerra, com a possibilidade de envolver até membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Nos mercados globais, as preocupações se estendem também para novos choques de oferta de commodities, como petróleo, gás e grãos.
Também no exterior, foi destaque a divulgação de dados econômicos da zona do euro e dos EUA.
O PMI (índice de gerentes de compras, na sigla em inglês) composto da zona do euro caiu para o menor nível em dez meses, de 48,1 em novembro, abaixo da marca de 50 que separa crescimento de contração.
No caso dos Estados Unidos, o PMI composto aumentou para 55,3 neste mês. Esse foi o nível mais alto desde abril de 2022 e seguiu-se a uma leitura de 54,1 em outubro, com o setor de serviços provando a maior parte do aumento.
Em reação, o dólar ganhou força, enquanto o euro caiu para US$ 1,04. No pior momento, atingiu US$ 1,03, a menor cotação desde 30 de novembro de 2022.
Na cena corporativa, destaque para as ações da Petrobras: as preferenciais subiram 3,98% e as ordinárias, 5,23%. A petroleira anunciou na véspera que irá distribuir R$ 20 bilhões em dividendos extraordinários e detalhou o plano de investimentos de US$ 111 bilhões entre 2025 e 2029.
No novo planejamento, a estatal reduziu o caixa mínimo de referência para US$ 6 bilhões, ante os US$ 8 bilhões anteriores, e elevou o limite da dívida bruta para US$ 75 bilhões, ante US$ 65 bilhões.
Redação / Folhapress