SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em leve queda nesta segunda-feira (9), mas continua acima do patamar de R$ 6, enquanto os investidores esperam pela reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, que será nesta terça-feira (10) e quarta-feira (11) e definirá a nova taxa de juros.
O boletim Focus, divulgado nesta segunda, aponta que os economistas esperam que o comitê elevará a Selic para 12%, um aumento de 0,75 ponto percentual em relação à atual taxa básica de juros.
Além da reunião do Copom, a semana ainda terá dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos.
Em meio à expectativa, o dólar caía 0,16%, cotado a R$ 6,0668, às 9h05 desta segunda. Na sexta-feira (6), o dólar terminou o pregão em alta de 1,11%, cotado a R$ 6,075, registrando seu maior patamar nominal da história.
A valorização refletiu dados de emprego mais fortes que o esperado nos Estados Unidos. O relatório “payroll”, um dos mais importantes do país, mostrou criação de 227 mil vagas de trabalho em novembro, número bem acima dos 200 mil postos esperados para o mês.
A taxa de desemprego, por outro lado, subiu para 4,2%, depois de se manter em 4,1% por dois meses consecutivos. A média de ganhos por hora aumentou 0,4%, após ter aumentado 0,4% em outubro.
Nos 12 meses até novembro, os salários avançaram 4%, mantendo o ritmo de outubro.
Os novos números indicaram um mercado de trabalho forte e em expansão, o que impulsionou ações e fortaleceu o dólar.
Ainda que o valor de R$ 6,07 seja recorde na base nominal a que desconsidera a inflação do cálculo, a maior cotação real foi atingida em setembro de 2002, na esteira da primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Corrigido pela inflação, o valor do dólar naquela ocasião seria hoje o correspondente a R$ 8,75.
A conta, feito pela consultoria Elos Ayta, considera a cotação da Ptax a taxa de câmbio calculada pelo BC (Banco Central) e ajustes pela inflação brasileira (IPCA) e norte-americana (CPI) até novembro de 2024.
No mercado de ações, a Bolsa brasileira despencou 1,50%, e encerrou aos 125.945 pontos, após desempenho robusto na véspera, quando fechou com alta de mais de 1%.
O payroll é considerado um dos principais indicadores da saúde econômica americana.
Os dados não sinalizam uma mudança significativa nas condições do mercado de trabalho, o que permite que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) corte a taxa de juros novamente este mês.
“Como o resultado ficou alinhado às expectativas do mercado e dentro do esperado pelo Fed, a expectativa é de um corte de 0,25% nos juros americanos na reunião de política monetária prevista para 18 de dezembro”, afirma Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos.
A avaliação do mercado, no entanto, é que o mercado de trabalho aquecido limita o espaço para possíveis novos cortes no futuro. “Começa a haver dúvida em relação ao ritmo de corte de juros”, diz o o analista e sócio da CMS Invest Harrison Gonçalves.
O Fed usa os dados do payroll como referência para decisões sobre taxas de juros. Um mercado de trabalho aquecido pode levar à manutenção das taxas em níveis altos para controlar a inflação.
Internamente o dólar foi impulsionado pelo temor de que as propostas do pacote fiscal do governo sejam desidratadas no Congresso, ou nem mesmo tenham o apoio necessário para aprovação.
Os agentes financeiros iniciam a semana na expectativa de algum avanço das medidas fiscais, após a Câmara dos Deputados aprovar, na última quarta-feira, regime de urgência para duas propostas do pacote de gastos.
O regime de urgência elimina a exigência de determinados prazos e acelera a tramitação das propostas, o que traz um alívio para o mercado.
“O cenário em relação a responsabilidade fiscal deixa a sensibilidade do dólar maior no curto e longo prazo, além de o cenário no exterior trazer resultados positivos, deixando o Brasil na contramão da maioria das economias de fora”, disse Dyego Galdino, CEO da Global 360 Invest.
“É urgente que avancemos com definições mais sólidas e confiáveis no mercado financeiro para garantir uma economia mais robusta e atrativa para investimentos”, diz Lucélia Freitas Aguiar, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
Os investidores estão cada vez mais preocupados com uma possível diluição do pacote fiscal. “O mercado receia que as propostas do governo sejam desidratadas no Congresso”, afirma Fernanda Campolina, especialista em câmbio da One Investimentos.
“Há dúvidas crescentes sobre o cumprimento das metas estabelecidas, o que tem gerado penalizações do mercado”, diz Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos.
Para o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, a aprovação da urgência, ainda que com maioria apertada, é um sinal de que pelo menos parte do programa de contenção deverá ser aprovada no Congresso ainda este ano.
“Foi um fator importante de tranquilização dos investidores”, afirma. “Os problemas fundamentais permanecem sem solução.”
Apresentado na última quinta-feira (28), o pacote de cortes de gastos prevê uma economia de R$ 71,9 bilhões em 2025 e 2026, mas decepcionou os agentes financeiros por excluir propostas de maior impacto nas contas públicas e por incluir a elevação para até R$ 5.000 na faixa de isenção do IR (Imposto de Renda).
A apresentação das duas propostas ao mesmo tempo, em um momento de grande expectativa pela contenção de despesas, passou a mensagem de que a preocupação do governo é mais política do que econômica, o que afetou a segurança sobre os ativos brasileiros.
Redação / Folhapress