Dólar acelera e bate R$ 5,40 com deterioração do cenário fiscal no Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após uma sessão instável, o dólar registrou alta de 0,83% nesta quarta-feira (12) e atingiu a marca de R$ 5,405, em meio a uma percepção de enfraquecimento político do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e após ruídos sobre a condução da política fiscal brasileira, que seguem pesando contra ativos locais.

Na máxima do dia, a moeda americana chegou a bater os R$ 5,430, mas desacelerou ao londo da sessão, em especial após a decisão de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) divulgada à tarde. Com o fechamento desta quarta, o dólar renova mais uma vez seu maior patamar desde janeiro de 2023.

Já a Bolsa brasileira operou em forte queda desde o início do dia, fechando com recuo de 1,39%, aos 119.936 pontos.

Incertezas sobre a condução da política econômica vêm assustando investidores e descolando os índices locais dos mercados globais. O enfraquecimento político do ministro Fernando Haddad (Fazenda), que sofreu uma série de derrotas nas últimas semanas, tem sido mencionado por agentes do mercado.

“O mau humor continua ligado ao desgaste do governo com o mercado, particularmente pela condução da política fiscal. Há um temor crescente de que a visão mais ponderada de Haddad está perdendo força dentro do governo”, diz Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

No revés mais recente, o Congresso Nacional recusou na terça-feira (11) a medida criada pelo governo para restringir o uso de créditos tributários por parte de empresas.

A MP (medida provisória) —que entra em vigor imediatamente, mas precisa ser aprovada posteriormente pelo Congresso— havia sido enviada pelo governo aos parlamentares apenas uma semana antes, alterando regras do PIS/Cofins.

“Se, por um lado, o fracasso da MP dá algum conforto para setores produtivos que seriam mais impactados com a limitação dos tributos federais, por outro segue o enorme desafio de equilibrar as contas públicas em 2024 e nos próximos anos”, diz a equipe da Levante Investimentos.

Além disso, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em evento no Rio de Janeiro também pesaram contra os negócios.

O chefe do Executivo afirmou que o governo está “arrumando a casa e colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal”, mas sugeriu que o ajuste deve ocorrer com um aumento ainda maior na arrecadação, sem mencionar corte de gastos.

“O aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão a redução do déficit sem comprometer a capacidade de investimento público”, disse o presidente.

Para Felipe Moura, analista da Finacap, o mercado “perdeu a paciência” com a atual gestão da equipe econômica e não tem mais confiança no compromisso fiscal proposto pelo governo.

“Os investidores, em especial os estrangeiros, ficam impacientes. Já houve muita retirada de saldo estrangeiro da Bolsa com essa série de desdobramentos negativos no front fiscal. O governo vem tentando desesperadamente aumentar a arrecadação para bancar o aumento de gastos, mas a conta começa a chegar, e parece haver resistências até mesmo dentro do próprio governo”, diz Moura.

BRASIL PERDE ONDA DE OTIMISMO GLOBAL

Com a deterioração do cenário fiscal no Brasil, os indicadores locais foram na contramão do exterior. Nos EUA, o S&P 500 e o Nasdaq tinham forte alta, e o índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras moedas fortes, caía cerca de 0,70%.

O otimismo nos mercados americanos teve como catalisador a divulgação do índice de inflação CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês), que caiu para 3,3% em maio, levemente abaixo das previsões do mercado, de 3,4%, segundo o Departamento do Trabalho dos EUA.

O número teve impacto imediato nos indicadores globais, e o Brasil conseguiu surfar brevemente na onda de otimismo. O dólar, que havia começado o dia em leve alta, engatou queda momentânea após a divulgação do CPI de maio, por volta das 9h30, e os rendimentos dos títulos do Tesouro americano, os chamados “treasuries”, também caíram. As Bolsas americanas abriram em níveis recordes.

As projeções sobre corte de juros nos EUA também melhoraram. Agora, negociadores passaram a atribuir 84% de chance de uma redução nas taxas americanas em setembro, aumento considerável em relação aos 60% registrados anteriormente. Eles preveem, ainda, que o Fed deve realizar dois cortes de juros neste ano.

“Os dados do CPI, apesar de registrarem reduções marginais, renovam as esperanças para a retomada do processo de desinflação. Depois de uma semana bastante agitada por conta dos dados fortes de contratações, números abaixo da expectativa reanimam as apostas de que os cortes na taxa de juros podem iniciar em setembro”, afirma Igliori, da Nomad.

A euforia manteve-se mesmo após a divulgação da nova decisão sobre juros do Fed, que confirmou as expectativas do mercado e manteve as taxas inalteradas na faixa entre 5,25% e 5,50%, além de ter sinalizado apenas um corte de juros neste ano.

Os membros do Fomc (comitê de política monetária americano) reconheceram que “houve progressos adicionais modestos” em direção ao seu objetivo de inflação de 2%, numa afirmação mais confiante do que na sua última reunião, em maio.

Quatro membros do comitê, no entanto, disseram que não esperavam fazer nenhum corte, enquanto sete projetaram apenas um corte de 0,25 pontos percentual. Oito dos 19 membros apoiaram dois cortes.

MARCELO AZEVEDO / Folhapress

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