SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda nesta sexta-feira (27), com investidores repercutindo dados de inflação dos Estados Unidos e à espera de comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na esteira da derrubada do decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) no Congresso.
O movimento no Brasil replica o do exterior, com a moeda norte-americana demonstrando fraqueza diante das principais divisas do mundo. Às 12h11, caía 0,39%, a R$ 5,476. Já a Bolsa oscilava entre os sinais e marcava 0,08% de desvalorização, a 136.990 pontos.
O PCE (índice de preços de gastos com consumo) avançou 0,1% em maio, ganho igual ao de abril e às expectativas de economistas consultados pela Reuters.
No acumulado de 12 meses, o PCE atingiu alta de 2,3%, acelerando em relação aos 2,2% do mês anterior, mas em linha com as projeções. Já os gastos dos consumidores tiveram uma queda inesperada, a 0,1%, ante expectativa de alta de 0,1%.
O indicador é o favorito do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) para balizar as decisões de política monetária, e os resultados se somam a uma série de fatores que já estavam fomentando apostas de cortes de juros.
Entre eles, comentários de pelo menos dois membros do banco central sobre uma possível redução de juros já na próxima reunião, em julho, e relatos de que o presidente dos EUA, Donald Trump, estaria cogitando antecipar a nomeação do sucessor de Jerome Powell, chair do Fed, entre setembro e outubro.
“Investidores aumentaram as apostas de cortes de juros lá na frente, e alguns dados econômicos começam a sugerir uma desaceleração um pouco mais rápida, sugerindo que talvez o Fed tenha espaço para cortar juros antes do esperado”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
“Mas o Fed tem adotado um tom cauteloso, antecipando impactos inflacionários das tarifas de importação em algum momento. Então, ele gostaria de acumular mais evidências antes de retomar um ciclo de cortes de juros.”
Na quinta, dados mostraram que o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA contraiu 0,5% no primeiro trimestre, na base anual, também fomentando expectativas por cortes. Operadores precificam chances de 20% de que a primeira redução aconteça na próxima reunião; 73% esperam que aconteça no encontro de setembro.
Juros mais baixos nos EUA favorecem outras moedas, como o real, uma vez que torna o diferencial de juros para com os demais países desfavorável para o lado norte-americano.
Na cena doméstica, o ministro Fernando Haddad realiza uma palestra na Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) pela manhã e, depois, concederá uma entrevista ao vivo à GloboNews às 14h30.
A expectativa é que o chefe da ala econômica do governo dê mais pistas sobre quais serão os próximos passos após a derrubada dos decretos do IOF no Congresso Nacional.
À Folha de S.Paulo, durante o novo videocast semanal C-Level Entrevista, disse que o governo avalia três alternativas para responder à derrubada: ir à Justiça contra a decisão do Congresso, buscar uma nova fonte de receita ou fazer um novo corte no Orçamento que “vai pesar para todo mundo”.
A decisão será tomada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas Haddad defendeu a judicialização. “Na opinião dos juristas do governo, [a decisão do Congresso que derrubou o decreto do IOF] é flagrantemente inconstitucional”, afirmou.
Haddad disse que acreditava ter chegado “num baita de um acordo” para calibrar as alíquotas do imposto quando se reuniu com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), na noite do dia 8.
“Saí de lá imaginando que estava tudo bem. Não só eu, todo mundo. Eu não sei o que mudou. Eu não consigo… O que mudou daquele domingo para hoje?”, declarou, quase 20 dias depois da reunião.
O plano de judicializar a decisão se ampara no argumento político de que o governo pretende cobrar dos ricos em favor dos pobres. Ao travar esse embate, o Executivo pode acirrar a disputa com parlamentares de centro e de direita, em um contexto já adverso às pautas da gestão petista.
Em relatório, a equipe da Genial Investimentos destaca que a derrubada do decreto tira R$ 20 bilhões do Orçamento de 2026 e reabre o debate sobre uma possível revisão da meta fiscal. “Quando o governo achava que tinha um plano de ajuste na mão, o Congresso ‘puxou o tapete’… O mercado entendeu o recado: Brasília segue imprevisível.”
A AGU (Advocacia-Geral da União) divulgou nesta sexta que iniciou, a pedido do presidente Lula, uma avaliação técnica sobre as medidas jurídicas a serem adotadas para preservar o decreto.
Ainda no cenário doméstico, os investidores ponderam sobre os números do desemprego medidos pela Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). A taxa recuou para 6,2% no trimestre até maio, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É o menor patamar para esse intervalo na série histórica iniciada em 2012.
O indicador estava em 6,8% nos três meses até fevereiro, que servem de base de comparação. O resultado até maio ficou levemente abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 6,3%, segundo a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 6,2% a 6,7%.
Redação / Folhapress
