SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar operava em queda nesta sexta-feira (19), com investidores repercutindo o anúncio de contingenciamento de gastos do governo federal no início da noite de quinta. Também estava no radar o apagão cibernético que afetou operações de diversos setores ao redor do mundo.
Às 13h29, a moeda norte-americana perdia 0,19%, cotada a R$ 5,577. Já a Bolsa brasileira tinha alta de 0,13%, aos 127.820 pontos.
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) anunciou bloqueio de R$ 11,2 bilhões e contingenciamento de R$ 3,8 bilhões no Orçamento deste ano, após reunião entre ministros que integram a JEO (Junta de Execução Orçamentária) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os novos cortes virão no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do terceiro bimestre, que será publicado na próxima segunda-feira (22) e que trará detalhes de como o Executivo pretende cumprir a meta de déficit zero neste ano.
O governo já havia anunciado um corte de R$ 25,9 bilhões para 2025 e deixou aberta a possibilidade de antecipar mais bloqueios para 2024. A nova contenção vem na esteira de dias de turbulência nos mercados, com agentes econômicos cautelosos quanto ao compromisso fiscal do governo.
Segundo o ministro, o anúncio desta quinta foi para “evitar especulação”.
Falas de membros do governo ao longo da semana, como do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, na quarta-feira e da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, na quinta, falharam em convencer o mercado de que o Executivo estaria concentrado na perseguição da meta fiscal.
O anúncio de Haddad também responde a meses de pedidos dos investidores por medidas concretas para o ajuste fiscal.
“O que mais tem trazido uma insegurança em relação à gestão de contas públicas tem sido a meta do déficit fiscal”, destacou a sócia da Blue3 Investimentos, Bruna Centeno.
Análise gráfica do BB destacou que a antecipação do anúncio do valor total do bloqueio e contingenciamento do Orçamento para 2024 foi vista como positiva pelos agentes de mercado. “Porém, os investidores ainda aguardam o detalhamento das medidas para cortes de despesas do Orçamento de 2025”, acrescentou.
O mercado ainda tinha no radar o apagão cibernético que atingiu sistemas ao redor do mundo no início da manhã desta sexta. A pane generalizada afetou bancos, companhias aéreas, emissoras de TV, supermercados, entre outros serviços.
Uma atualização de um produto oferecido pela empresa global de segurança cibernética CrowdStrike pareceu ser o gatilho, afetando clientes que usam o sistema operacional Windows, da Microsoft.
O problema foi corrigido, segundo a Microsoft, mas o impacto residual dos problemas de segurança cibernética continua afetando alguns aplicativos e serviços do Office 365.
Já o presidente-executivo da CrowdStrike afirmou estar trabalhando ativamente com os clientes afetados.
“Não se trata de um incidente de segurança ou ataque cibernético. O problema foi identificado, isolado e uma correção foi implementada”, afirmou George Kurtz em um post na plataforma de mídia social X, acrescentando que os hosts Mac e Linux não foram afetados pelo problema.
As ações da CrowdStrike desabavam 11% na Bolsa de Nova York, e Microsoft perdia 0,70%.
“A conturbada abertura de hoje após o grande apagão tecnológico mostrou um dólar levemente menos pressionado diante do anúncio da contenção de R$ 15 bilhões em gastos para cumprimento do arcabouço fiscal”, disse Marcio Riauba, gerente da Mesa de Operações da StoneX Banco de Câmbio.
O apagão não afetou os serviços ou a plataforma da Bolsa brasileira, de acordo com nota divulgada pela B3.
No exterior, o mercado acompanhava o desenrolar da campanha presidencial nos Estados Unidos, após discurso do presidenciável republicano Donald Trump e relatos de uma possível desistência do presidente norte-americano, o democrata Joe Biden, da disputa.
Biden, afastado das atividades após um diagnóstico de Covid-19, voltará à ativa na próxima semana, de acordo com o seu chefe de campanha, Jen O’Malley Dillon.
Já na cena corporativa, as ações da Sabesp tinham alta de 1,89% e eram as mais negociadas no pregão da B3, na estreia da emissão de papéis dentro do processo de privatização da companhia de saneamento.
Embraer subia 2,75%, em nova sessão de alta. A companhia informou ontem à noite que despachou 46 aviões dos segmentos comercial e executivo a clientes no segundo trimestre, um a menos que no mesmo período do ano passado. A carteira de pedidos, porém, encerrou junho em US$ 21,1 bilhões, 22% acima do registrado no final do primeiro semestre de 2023.
Vale perdia 0,57%, puxada pela queda do minério de ferro no exterior, e Petrobras rondava a estabilidade.
Na véspera, com os temores sobre o fiscal, o dólar fechou em alta firme de 1,90%, cotado a R$ 5,588, e a Bolsa caiu 1,39%, aos 127.652 pontos, com quase todas as empresas da carteira teórica do Ibovespa no negativo.
Redação / Folhapress