SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em alta de 0,16% nesta terça-feira (15) após ter registrado forte alta no primeiro pregão da semana, apoiado por temores sobre a desaceleração da economia chinesa.
Às 9h16, a moeda estava cotada a R$ 4,9741 para venda à vista. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,18%, a R$ 4,9900.
Nesta terça, o mercado repercute as medidas da China de cortar as taxas de juros e interromper a divulgação de dados do desemprego entre jovens após dados fracos da economia serem anunciados mais cedo.
A China informou que as vendas no varejo em julho subiram 2,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Economistas ouvidos pela Reuters esperavam elevação de 4,5%. Já a produção industrial chinesa teve alta de 3,7%, ante projeção de 4,4% dos economistas.
Além disso, o mercado aguarda a divulgação de indicadores do setor de varejo dos Estados Unidos.
Na segunda (14), a Bolsa brasileira registrou sua décima queda consecutiva e marcou a maior série de perdas desde 1984, puxada por forte recuo de ações da Vale, que foram afetadas por preocupações com o setor imobiliário da China após uma grande incorporadora do país ter solicitado atraso no pagamento de dívidas. Com isso, o Ibovespa teve baixa de 1,06% e fechou aos 116.809 pontos.
O temor global sobre a economia chinesa também fez o dólar disparar no Brasil e no exterior. A moeda americana terminou o dia cotada a R$ 4,965, em alta de 1,20%.
A preocupação sobre a desaceleração da China já vinha pressionando ativos globalmente nas últimas semanas, mas foi agravada nesta segunda por notícias de que a Country Garden, importante incorporadora chinesa, busca atrasar o pagamento de um título privado.
“Após não conseguir pagar os juros de empréstimos na semana passada, uma possível quebra da gigante do setor imobiliário Country Garden também tem chamado a atenção de operadores globais devido, principalmente, à parcela que o setor imobiliário chinês corresponde da demanda local pelo minério de ferro”, avaliou a equipe da Commcor DTVM em boletim a clientes.
Com isso, o Ibovespa registrou mais um dia de baixa, aprofundada, ainda, por quedas de Itaú (1,88%) e Yduqs (15,25%).
A forte queda da Yduqs tem como pano de fundo um cenário negativo para o setor de educação como um todo, em meio a um impasse no setor após uma decisão do STF que limitou a abertura de vagas de novos cursos de medicina no Brasil.
O ministro Gilmar Mendes determinou na última semana que a abertura de novos cursos e vagas de Medicina deve acontecer por meio de chamamento público, seguindo as regras do Programa Mais Médicos. Como mostrou a Folha, o MEC (Ministério da Educação) ainda não sabe como cumprir decisão.
As ações da Ânima, outro grande nome do setor educacional, teve queda de 18,96% no pregão desta segunda, impactada, também, pela divulgação de seu balanço do segundo trimestre, que veio pior que o esperado pelo mercado com aumento do prejuízo.
A última vez em que o Ibovespa caiu por mais do que dez pregões foi entre o final de janeiro e o começo de fevereiro de 1984, quando fechou em baixa por 11 pregões seguidos, segundo dados da Refinitiv.
Apesar de o número de sessões em baixa chamar a atenção, o Ibovespa acumulou no período um declínio de apenas 4,2%, depois de avançar 19,7% em quatro meses seguidos de alta, com parte relevante dessa alta atribuída à perspectiva de queda da Selic.
A expectativa sobre a taxa básica de juros, aliás, também impactou o Ibovespa nos últimos dias, como aponta Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital.
“Acredito que as recentes quedas do Ibovespa nos últimos dez dias mostram que o mercado já estava prevendo um corte de juros um pouco mais agressivo por parte do Copom [Comitê de Política Monetária]. Após a divulgação do corte, o mercado entrou num modo de realização de lucros e chegou a pressionar a curva de juros, projetando um possível corte de 0,75 ponto em alguma reunião desse ano, que acabou sendo frustrado pela ata da reunião”, diz Fernandes.
Na ata de sua última reunião, o Copom mostrou que concordou de forma unânime em manter o ritmo de cortes dos juros em 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões, julgando como “pouco provável” uma intensificação adicional de flexibilização da taxa básica.
Nesta segunda, os contratos de juros futuros tiveram leve alta. As curvas para 2024 saíram de 12,42% para 12,45%, enquanto as para 2025 foram de 10,32% para 10,45%.
Analistas da BB Investimentos observam que a correção das últimas semanas deve continuar de forma mais branda. “Mesmo após nove sessões consecutivas de baixa, ainda não vemos gatilhos para uma recuperação do Ibovespa nos próximos dias”, afirmaram em nota a clientes.
Apesar da aversão ao risco global, as Bolsas americanas tiveram alta, com o S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq subindo 0,57%, 0,07% e 1,05%, respectivamente
Redação / Folhapress