Dólar despenca na abertura com decisões de juros do Brasil e dos EUA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar despenca na abertura dos negócios desta quinta-feira (19), com investidores repercutindo as decisões de juros do Brasil e dos Estados Unidos da véspera.

Às 9h07, a moeda perdia 1,06%, cotada a R$ 5,403 na venda. Na quarta-feira, fechou em queda de 0,47%, a R$ 5,460, e a Bolsa caiu 0,89%, a 133.747 pontos.

O BC (Banco Central) e o Fed (Federal Reserve, a autoridade americana) bateram o martelo sobre as taxas de referência na quarta-feira.

Enquanto o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu elevar a Selic (taxa básica de juros) em 0,25 ponto percentual, citando resiliência da economia brasileira, o Fed realizou o primeiro corte nas taxas desde 2020, num afrouxamento de 0,50 ponto após temores de desaceleração do mercado de trabalho americano. Os juros americanos agora estão na banda de 4,75% e 5%.

Ao divulgar a decisão unânime de aumentar a Selic, o comitê brasileiro afirmou que o cenário demanda uma política de juros mais contracionista, ou seja, que ajude a frear a força da atividade econômica para assegurar o controle da inflação.

Como justificativa, o colegiado citou a resiliência da economia brasileira, as pressões do mercado de trabalho, a elevação das projeções de inflação, as expectativas distantes da meta perseguida e o hiato do produto positivo (indicação de que a atividade está operando acima do seu potencial, ou seja, aquecida e sujeita a pressões inflacionárias).

O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.

Na última leitura do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação do país, a base anual ficou em 4,24% em agosto —uma desaceleração dos 4,5% de julho, o teto da meta do BC. As expectativas para o restante do ano, porém, estão desancoradas da meta, o que favorece o argumento de alta da Selic.

O Copom deixou seus próximos passos em aberto e evitou se comprometer com a intensidade e com o tamanho do ciclo de alta de juros. Especialistas ouvidos pela Folha, porém, preevem que a Selic deve entrar em 2025 a 11% e permanecer neste patamar por um bom tempo.

Já nos Estados Unidos, a decisão de corte em 0,50 ponto coroou um debate que tomou os mercados por semanas a fio, desde a confirmação de que a hora de reduzir os juros havia chegado. O tamanho da redução veio em linha com as apostas majoritárias dos operadores.

No entanto, houve um dissenso entre os dirigentes pela primeira vez desde 2005: a diretora Michelle Bowman preferia um corte de apenas 0,25 ponto percentual, enquanto todos os outros 11 membros votaram pela redução de 0,50.

“O comitê ganhou maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção à meta de 2% e julga que os riscos para alcançar os objetivos de emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados”, disseram os dirigentes do Fed no anúncio.

Os formuladores de políticas veem a taxa de juros caindo mais 0,50 ponto percentual até o final deste ano, mais 1 ponto percentual em 2025 e, finalmente, mais 0,50 ponto em 2026, terminando em uma faixa de 2,75% e 3%.

Em entrevista coletiva, porém, Jerome Powell reforçou que as próximas decisões do comitê estão à mercê de novos dados econômicos —o que esfriou o bom humor dos mercados na véspera. O Fed se reúne mais duas vezes até o final de 2024, em novembro e dezembro.

“Não há nada que sugira pressa para fazer isso”, disse, em referência à velocidade com que o banco central poderá reduzir os juros. “Podemos ir mais rápido se for apropriado, podemos ir mais devagar se for apropriado, podemos pausar se for apropriado.”

O dólar costuma se desvalorizar à medida que os juros nos Estados Unidos caem, conforme o rendimento dos ativos ligados à renda fixa americana depreciam. Isso leva operadores a investimentos de maior risco, como moedas emergentes e mercados acionários, pela possibilidade de rentabilidade maior.

“Por mais que o comunicado não tenha sido explícito, o corte de 0,50 claramente confirma que as preocupações com a saúde do mercado de trabalho pesaram mais na decisão do que os riscos relativos à inflação”, comenta Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

“Os mercados reagiram positivamente à decisão, mas a digestão dessa decisão histórica ainda vai levar tempo e muita volatilidade deve ser esperada nos próximos dias.”

Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” —isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Essa perspectiva de rentabilização “tem ajudado na atração de capitais estrangeiros para o real e pode ajudar a manter a taxa de câmbio brasileira em trajetória de queda”, afirma Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

TAMARA NASSIF / Folhapress

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