SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar disparava nesta segunda-feira (23) após fechar em queda na sessão anterior. A situação reflete o avanço da moeda norte-americana no exterior.
Às 14h35, a moeda norte-americana subia 1,94%, cotada a R$ 6,189. Já a Bolsa recuava 0,82%, aos 121.094 pontos, no mesmo horário, após duas altas seguidas.
Agentes financeiros seguiam preocupados com a dinâmica das contas públicas e faziam contas sobre a potencial economia fiscal após a aprovação do pacote de cortes de gastos no Congresso Nacional.
Investidores também repercutiam a divulgação do Boletim Focus, que mostrou que as expectativas de inflação estão cada vez mais desancoradas.
Internamente, as preocupações dos investidores seguem voltadas para a área fiscal do governo, ainda que na sexta-feira o Senado tenha concluído a votação do pacote de medidas para segurar os gastos públicos. Com o Congresso em recesso até fevereiro, Brasília também vai diminuindo o ritmo neste fim de ano.
A equipe da XP estimou que, após tramitação do pacote no Congresso, o potencial de economia fiscal no próximo biênio recuou de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões. Os cálculos do governo apontam para cerca de R$ 70 bilhões.
“Apesar da direção correta, vemos esse ganho como insuficiente para garantir o atingimento das metas de resultado primário e, principalmente, a manutenção do limite de despesas do arcabouço fiscal nos próximos anos”, afirmaram em relatório publicado mais cedo nesta segunda-feira.
“A frustração em torno do anúncio do pacote de controle de gastos contribuiu sobremaneira para a elevação da incerteza”, afirmou a equipe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval, chefiado pelo economista Rafael Cardoso, em relatório com revisão de estimativas macroeconômicas.
“Mantivemos entendimento de que dada a dificuldade em encaminhar medidas impopulares, mas necessárias ao ajuste fiscal, a trajetória de resultado primário e dívida pública devem continuar em trajetória desafiadora.”
No radar dos investidores também estava o Boletim Focus, divulgado nesta segunda. Analistas consultados pelo Banco Central elevaram pela sexta semana seguida a projeção para a taxa básica de juros no final de 2025 e passaram a ver a Selic a 14,75%.
A projeção do mercado para a alta do IPCA em 2024 passou de 4,89% para 4,91% e em 2025 foi de 4,60% para 4,84% em ambos os casos bem acima da meta contínua de inflação perseguida pelo BC, de 3%.
O centro da meta oficial para a inflação é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
O cenário para o câmbio também revela pressão, com projeção de dólar a R$ 6,00 no fim deste ano e a R$ 5,90 no encerramento do próximo.
No exterior, investidores ainda digerem a mais recente série de reuniões de bancos centrais. Na semana passada o Federal Reserve surpreendeu os mercados ao projetar um ritmo moderado de cortes na taxa de juros, fazendo com que os rendimentos dos Treasuries e o dólar subissem. Esta perspectiva segue permeando os negócios nesta segunda-feira, com o dólar e os rendimentos em alta.
Na sexta-feira, o dólar fechou em forte queda de 0,87%, a R$ 6,071, após uma sessão de alta volatilidade. Já a Bolsa encerrou o pregão com alta de 0,75%, aos 122.102 pontos.
Os investidores repercutiram os três leilões extraordinários realizados pelo BC (Banco Central), a conclusão da votação do pacote de corte de gastos no Congresso e a fala do presidente Lula sobre a autonomia do BC.
A moeda norte-americana iniciou a sessão desta sexta em queda, cotada a R$ 6,085, e intensificou o movimento após um primeiro leilão à vista de US$ 3 bilhões realizado pelo BC (Banco Central). Com a intervenção, o dólar chegou a despencar 1,18%, negociado a R$ 6,051.
Na primeira intervenção do câmbio, foram aceitas oito propostas acolhidas entre 9h15 e 9h20.
Após um segundo leilão de linha de US$ 2 bilhões, a moeda reduziu as perdas e voltou ao mesmo patamar de antes da primeira intervenção do dia, a R$ 6,082. Nesta segunda atuação, a autoridade monetária aceitou cinco propostas, acolhidas entre 10h20 e 10h25.
Entre 12h30 e 12h35, o BC realizou um terceiro leilão, no qual vendeu mais US$ 2 bilhões. Foram aceitas duas propostas.
O dólar passou a intensificar forte queda após a conclusão da votação do pacote de contenção de gastos proposto pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) e a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dizendo que jamais vai interferir no trabalho de Gabriel Galípolo, futuro presidente do BC.
Ao longo da semana passada, o BC intensificou sua atuação no mercado cambial com a injeção de dólares. Na última segunda-feira (16), a autoridade realizou um leilão à vista de US$ 1,6275 bilhão e outro de linha no valor de US$ 3 bilhões. O dólar fechou cotado a R$ 6,091, batendo um novo recorde histórico nominal.
No dia seguinte, apesar de novas intervenções (US$ 1,272 bilhão à vista e US$ 2,015 bilhões em leilões de linha), o dólar subiu levemente e fechou a R$ 6,095, renovando o recorde.
Na quarta-feira (18), sem leilões, a moeda disparou para R$ 6,267, o maior valor da história.
Na última quinta-feira (19), a moeda norte-americana despencou 2,28% e fechou cotada a R$ 6,124, sob efeito dos dois leilões realizados pelo BC pela manhã.
Desde o último dia 12, foram injetados US$ 27,77 bilhões pela autoridade monetária no mercado de câmbio maior valor já registrado em um mês.
Os leilões são intervenções do BC no câmbio. Na prática, eles servem para aumentar a quantidade de dólares disponíveis para os investidores, seguindo a lei da oferta e demanda. Ou seja, quanto mais moeda puder ser comprada, menor vai ser a cotação dela.
As intervenções têm contido a disparada do dólar nos últimos dias, oriunda da crescente desconfiança do mercado quanto à capacidade do governo de equilibrar as contas públicas. Só em dezembro, a moeda norte-americana acumula alta de 4,45% em relação ao real. No ano, registra valorização de 29%.
Redação / Folhapress