SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar e a Bolsa abriram a semana em estabilidade após três dias sem negociações em virtude do feriado da Proclamação da República na última sexta-feira (15).
Às 10h25, a moeda norte-americana caía 0,06%, cotada a R$ 5,783. Já a Bolsa tinha variação negativa de 0,11%, a 127.642 pontos
Os investidores aguardam o anúncio de prometidas medidas fiscais pelo governo brasileiro e monitoram reunião do G20, com os líderes das principais economias globais, no Rio de Janeiro.
O feriado do Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira (20), pode impactar a movimentação do mercado, como ocorreu na última semana.
Na quinta-feira (14), véspera de feriado, o dólar fechou em leve queda de 0,08%, a R$ 5,787, e a Bolsa teve variação positiva de 0,04%, aos 127.791 pontos.
O mercado seguiu na expectativa pela divulgação das medidas de contenção de despesas do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entrando agora na quarta semana de discussões.
Em falas na quarta-feira (13), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o pacote já está pronto e que o anúncio depende do presidente Lula.
A jornalistas, ele não quis responder qual será o impacto do pacote nas contas públicas, mas afirmou que o valor é “expressivo” e indicou que os efeitos serão percebidos no curto e no médio prazo.
“Mais [importante] do que o número, na minha opinião, é o conceito que nós utilizamos para fazer prevalecer essa ideia de que as coisas devem, todas elas, na medida do possível, ir sendo incorporadas a essa visão geral do arcabouço, para que ele seja sustentável no tempo”, disse Haddad.
Aprovado em 2023, o arcabouço fiscal permite que os gastos primários do governo federal cresçam no máximo 2,5% acima da inflação por ano, respeitando um ritmo de até 70% da alta das receitas.
O ministro disse ter discutido linhas gerais das iniciativas com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), além de debater medidas específicas com o Ministério da Defesa. Segundo ele, o governo está avaliando se consegue incluir mais medidas no pacote a ser enviado ao Congresso Nacional.
“Assim que Lula der autorização, nós estamos prontos para dar publicidade aos detalhes do que já está sendo dito aqui”, afirmou Haddad.
Rumores de que o pacote poderá ser de mais de R$ 40 bilhões começaram a circular entre as mesas de operações, com investidores creditando fontes internas do governo. “Isso deu uma animada, principalmente porque o mercado gosta de um número para poder fazer contas e estimar qual será o impacto de fato”, diz Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.
Os investidores miram em cortes entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões. Para economistas do Itaú Unibanco, são necessários ao menos R$ 60 bilhões R$ 25 bilhões em 2025 e R$ 35 bilhões em 2026 para que o mercado tenha mais confiança no ajuste fiscal proposto pelo governo.
A expectativa é que o anúncio aconteça nesta semana, ao fim dos eventos do G20, no Rio de Janeiro.
Até lá, as sessões no câmbio “devem ser voláteis, porque o mercado vai repercutir os boatos que forem chegando”, diz Massote.
Em entrevista à Folha, o presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, disse que há pressa para a apresentação de um pacote capaz de reverter a piora da percepção de risco do Brasil.
Para ele, existem dois caminhos: cortar despesas na “carne” em 2025 e apresentar medidas que indiquem aos agentes econômicos que o arcabouço fiscal ficará estruturalmente mais sustentável no futuro.
Ainda afirmou que a demora do anúncio deixa cicatrizes no meio do caminho, como investimentos desperdiçados. “Quanto mais se espera, depois mais você acaba tendo que fazer. O choque que precisa ser produzido depois é maior”, disse Campos Neto.
E, se o choque tiver “impacto nas variáveis macroeconômicas de tal forma que diminua o prêmio de risco”, ele disse ser possível que o fiscal afete os rumos da política de juros até o final do ano.
A taxa Selic, atualmente em 11,25% ao ano, teve o ciclo de altas reiniciado pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do BC em setembro, em função da desancoragem de expectativas da inflação em partes atribuída ao risco fiscal.
Já na cena internacional, os investidores estão precificando os possíveis efeitos das propostas de Donald Trump para a economia.
O republicano promete aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações norte-americanas, incluindo as que vêm de países aliados. Para os produtos chineses, o aumento prometido é de pelo menos 60%.
As tarifas inibem o comércio global, reduzem o crescimento dos exportadores e pesam sobre as finanças públicas de todas as partes envolvidas. É provável que elas aumentem a inflação nos Estados Unidos, forçando o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) a agir com juros altos por mais tempo o que fortalece o dólar.
As projeções das propostas de Trump na economia têm ajustado posições de investimentos nos mercados globais. O movimento é chamado de “Trump Trade”, que tenta prever quais serão os ativos mais favorecidos pela política econômica do republicano.
Até agora, ações em Wall Street, títulos do Tesouro americano, dólar e criptomoedas se valorizaram em alguns casos, a patamares recordes.
Ao mesmo tempo, dados de inflação dos Estados Unidos seguem indicando ao mercado que o Fed continuará a cortar a taxa de juros na próxima reunião de política monetária, em dezembro.
No encontro da semana passada, a autarquia reduziu os juros em 0,25 ponto, para a banda de 4,50% e 4,75%.
Em outubro, o índice de preços ao consumidor aumentou 0,2%, e, no acumulado de 12 meses, a alta foi de 2,6%, comparado aos 2,4% registrados em setembro. O resultado veio exatamente em linha com o esperado por economistas consultados pela Reuters.
Para Keone Kojin, economista da Valor Investimentos, o Fed não deve mudar a probabilidade de redução de juros em 0,25 ponto percentual, mas “tampouco deve rechaçar ou descartar a possibilidade de, numa próxima reunião, manter esses juros em vez de reduzi-los”.
Os preços ao produtor também subiram em linha com o esperado, segundo relatório divulgado nesta quinta. O PPI, na sigla em inglês, avançou 0,2% no mês passado e 2,4% no acumulado de 12 meses.
Redação / Folhapress