SÃO PAULO,S P (FOLHAPRESS) – O dólar fechou a sessão desta segunda-feira com uma queda de 0,40%, a R$ 5,504, em linha com a desvalorização do dólar no exterior. No ano, a divisa acumula queda de 10,92%. Já a Bolsa encerrou com um recuo de 0,41%, a 136.550 pontos, puxada para baixo pela Petrobras após os preços do petróleo despencarem.
Os movimentos se deram em meio ao nervosismo com o conflito no Oriente Médio entre Irã, Israel e os Estados Unidos, que decidiu se juntar aos israelenses e atacar instalações nucleares do Irã que, por sua vez, contra-atacou bases militares americanas no Qatar e no Iraque.
As tensões se refletiram nos mercados globais. Mais cedo, as Bolsas europeias e asiáticas fecharam em queda, com os investidores precificando a ofensiva americana ao Irã. Já em meio ao contra-ataque iraniano, que não registrou baixas e não incluiu o fechamento do estreito de Hormuz, as Bolsas americanas subiram, com a percepção de que a ação foi apenas simbólica.
Nos mercados de câmbio, o dólar se desvalorizou frente a diversas moedas. O índice DXY, que mede a força da moeda dos EUA frente a uma cesta de outras seis moedas, caía 0,34%, a 98,37, ao fim da sessão.
O conflito entre as forças de Israel e do Irã entrou no décimo primeiro dia e ganhou um novo capítulo na madrugada deste sábado (21), quando os Estados Unidos bombardearam três instalações nucleares iranianas.
Nos ataques, Washington utilizou sete bombardeiros B-2 nos e 14 bombas GBU-57, de 13,6 toneladas, que nunca havia sido utilizada antes em combate. Duas delas foram lançadas contra a usina de enriquecimento de urânio de Fordow, ao sul de Teerã.
Em resposta ao ataque, o Irã lançou mísseis contra a maior base militar dos EUA no Oriente Médio, Al-Udeid, em Doha (Qatar), nesta segunda-feira. O aeródromo de Ain al-Hussein, no Iraque, também foi alvejado. Outras unidades americanas na região estão em alerta máximo.
O principal órgão de segurança do Irã disse que a ação não representa nenhuma ameaça ao “nosso amigo e fraterno vizinho Qatar”. Segundo o órgão, as forças armadas usaram o mesmo número de bombas que os EUA havia usado no sábado e que a base americana em Doha ficava longe de instalações urbanas e áreas residenciais.
Em resposta, o Qatar informou que não houve baixas e condenou o ataque iraniano, dizendo que se reserva o direito de responder à ação de acordo com o direito internacional. Segundo a rede de TV Al Jazeera, do Qatar, a defesa aérea do país conseguiu interceptar e impedir o ataque. Já o Ministério de Defesa do país disse que está pronto para lidar com qualquer perigo.
No domingo, Israel havia atacado alvos militares no oeste do Irã, incluindo locais de lançamento e armazenamento de mísseis e, nesta segunda, promoveu um mega-ataque contra instituições do aparelho repressivo da teocracia iraniana. A ação também voltou a bombardear Fordow.
Apesar da escalada de tensões, os movimentos observados até agora nos mercados foram relativamente contidos, com investidores avaliando que as ofensivas foram “limitadas”.
“Os investidores parecem estar se apegando às esperanças de um desanuviamento e talvez estejam apenas agradecidos pelo fato de a resposta militar do Irã ter sido limitada e pelo fato de o ataque dos EUA ao Irã parecer ser um ataque único, e não o início de uma guerra total”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
Com ele concorda Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos. “O mercado provavelmente está imaginando que não haverá sequências mais agressivas. Ou de fato ainda está digerindo os acontecimentos do fim de semana. Acredito que não tem outra justificativa para essa calmaria toda hoje”, afirmou.
Na perspectiva de Luciano Carvalho, CEO do banco Moneycorp, a desvalorização do dólar ante o real se deve principalmente à pressão global que a divisa americana sofreu na sessão.
“Investidores estão buscando uma diversificação em outros mercados, entre eles os emergentes e no caso brasileiro, devido a boa imagem de um bom controle do Banco Central brasileiro em relação a política monetária”, disse.
Israel e Irã estão trocando ataques desde o dia 13 de junho. O objetivo declarado dos israelenses, que começaram o conflito, é impedir que o país persa desenvolva armas nucleares. Os iranianos retaliaram as ofensivas com mísseis e drones, no que se tornou mais um conflito que tem tornado o Oriente Médio um ponto crítico.
A escalada injeta novas incertezas nas perspectivas para inflação e atividade econômica mundial, com temores de impacto sobre os mercados de câmbio, de ações e sobre os preços do petróleo.
Isso porque, além da instabilidade geopolítica mundial promovida pelo conflito na região, o Irã ameaça fechar o estreito de Hormuz.
O estreito é um dos gargalos marítimos globais, caminho para cerca de 20% do petróleo e derivados e de 20% do gás liquefeito produzido no mundo. O fechamento poderia afetar de forma significativa os preços de energia e, em consequência, a inflação e a atividade econômica de diversos mercados.
“Se o bloqueio do estreito for bem-sucedido, seria um desenvolvimento significativo para os mercados, dada a grande importância da rota para o comércio global de petróleo”, afirmou Moutinho, do Ebury Bank.
Como o Irã não fechou o estreito, pelo menos por enquanto, o petróleo despencou no mercado internacional.
Ao fim do pregão, o barril de Brent, referência internacional do petróleo, despencava 8,87%, a US$ 70,18, enquanto o WTI (West Texas Intermediate), referência nos EUA, se desvalorizava 10,34%, a US$ 67,26.
Na esteira da queda da commodity, as ações da Petrobras fecharam com baixa, puxando o sinal negativo da Bolsa. Os papies da PETR3, ações ordinárias, recuaram 2,81%, a R$ 34,90, e os da PETR4, ações preferenciais, se desvalorizaram 2,86%, a R$ 31,88.
Já as Bolsas caíram na Europa e na Ásia, exceto os três principais índices da China e de Wall Street, que registraram alta nesta segunda. O S&P 500 ganhou 0,96%, para 6.025,04 pontos. O índice de tecnologia Nasdaq avançou 0,94%, para 19.630,98 pontos. O Dow Jones subiu 0,89%, para 42.581,78 pontos.
Além do panorama do Oriente Médio, as atenções dos investidores se voltarão nos próximos dias para dados de inflação e comentários de autoridades de bancos centrais tanto no Brasil quanto nos EUA.
Na cena doméstica, os destaques serão a divulgação da ata da reunião do BC, na terça-feira, e de números para o IPCA-15 de junho, na quinta-feira.
Na quarta passada, o BC avançou no ciclo de alta de juros com uma elevação em ritmo menor, de 0,25 ponto percentual. O atual patamar de 15% é o maior desde julho de 2006, quando a Selic estava fixada em 15,25% ao ano.
O ciclo de alta teve início em setembro do ano passado, ainda na gestão de Roberto Campos Neto, e até agora foram realizados sete aumentos consecutivos em nove meses. A taxa básica partiu de 10,50% ao ano e acumulou elevação de 4,5 pontos percentuais nesse processo.
A decisão surpreendeu parte do mercado. Uma boa parcela dos economistas apostava na manutenção da Selic no nível de 14,75% ao ano, outra pequena parcela projetava o aumento adicional de 0,25 ponto.
Uma Selic ainda mais alta oferece um diferencial de juros vantajoso para o Brasil, ainda mais em um contexto em que outros bancos centrais pelo mundo, sobretudo os de economias avançadas, têm cortado ou mantido suas taxas. Como consequência, o real se torna mais atrativo para investidores.
Nesta segunda, analistas ouvidos pelo BC subiram a previsão da taxa de juros deste ano para 15%. É a primeira mudança depois de seis semanas com o boletim Focus apontando que o índice terminaria o ano em 14,75%.
O boletim Focus também mostrou que os economistas seguem apostando em uma inflação menor e em um PIB (Produto Interno Bruto) maior. A perspectiva para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi para 5,24%. Já a previsão para o PIB subiu para 2,21%, contra 2,20% do último levantamento.
Na maior economia do mundo, o foco estará em torno dos depoimentos do presidente do Fed (Federal Reserve, o bc americano), Jerome Powell, ao Congresso dos EUA, na terça e na quarta-feira, e de dados do índice PCE de maio o indicador preferido de inflação do Fed na sexta-feira.
A vice-presidente de supervisão do Fed, Michelle Bowman, disse pela manhã que o momento de cortar as taxas de juros nos EUA pode estar se aproximando rapidamente.
“É hora de considerar o ajuste da taxa de juros”, disse Bowman em texto preparado para uma reunião realizada em Praga, na República Tcheca, acrescentando que a inflação parece estar em uma trajetória sustentada de volta à meta de 2%.
Na última quarta-feira, o Fed manteve os juros no patamar de 4,25% a 4,50% pela quarta vez consecutiva nesta semana, em decisão unânime. O atual patamar foi definido em dezembro do ano passado e, desde então, o Fed tem observado as perspectivas econômicas ficarem nebulosas.
A principal fonte de incerteza é o governo do presidente Donald Trump, que voltou ao poder em janeiro e, em abril, instaurou pânico nos mercados ao anunciar uma reformulação na política tarifária dos EUA.
Bowman afirmou que espera “apenas um impacto mínimo” da política comercial dos EUA sobre a inflação, acrescentando que, caso as pressões sobre os preços permaneçam contidas, apoiaria um corte dos juros em julho.
O prazo para o fim da pausa das tarifas abrangentes dos EUA será no início de julho. O governo Trump segue em negociações com seus principais parceiros, como o Japão e a União Europeia. Qualquer novidade sobre as disputas comerciais também pode movimentar os mercados.
VITOR HUGO BATISTA / Folhapress