SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta nesta terça-feira (1º), com os investidores à espera de dados de emprego dos Estados Unidos.
Às 11h32, a moeda subia 0,48%, a R$ 5,474, em linha com o movimento do exterior. Já a Bolsa avançava 0,57%, a 132.576 pontos.
O mercado seguia atento a relatórios sobre o estado do mercado de trabalho dos EUA, em busca de sinais sobre a trajetória da taxa de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano).
A semana guarda uma série de divulgações relevantes para a composição do cenário. Nesta terça, será publicado o relatório Jolts (pesquisa de vagas de emprego e rotatividade de trabalho, em inglês) de agosto.
Já amanhã, o ADP trará o número de vagas criadas no setor privado no mês passado, e, na quinta, o total semanal de pedidos de auxílio-desemprego. O grande foco dos investidores, porém, está na sexta-feira, quando serão publicados os dados do “payroll” (folha de pagamento, em tradução literal), o indicador mais amplo de desemprego do país.
A atenção dos operadores ao mercado de trabalho americano acompanha a mudança de foco do Fed, que baliza as decisões de política monetária a partir dos dados de emprego e de inflação dinâmica chamada de “mandato duplo” no jargão econômico.
Nos últimos meses, os indicadores inflacionários têm mostrado uma convergência gradual à meta de 2%, ao passo que os números de emprego têm desacelerado a cada nova leitura.
Na última decisão de política monetária, no dia 18 de setembro, a autoridade americana fez o primeiro corte nos juros em mais de quatro anos sob a justificativa de desaceleração do mercado de trabalho. A taxa foi reduzida em 0,50 ponto percentual e agora está na faixa de 4,75% e 5%.
A dúvida do mercado é sobre o ritmo dos próximos cortes. Em discurso na segunda-feira, Jerome Powell, presidente do Fed, disse prever mais duas reduções na taxa de juros, de 0,25 ponto cada, “se a economia tiver o desempenho esperado”.
Ele afirmou ainda que as recentes revisões dos dados sobre crescimento econômico, taxas de poupança e renda pessoal eliminaram alguns “riscos negativos” nos quais o Fed vinha se concentrando. “Isso ajuda na margem, mas não vai nos impedir de analisar o mercado de trabalho.”
A expectativa por reduções menores inverteu as apostas na ferramenta CME FedWatch. Agora, um corte de 0,25 ponto na próxima reunião do Fed tem 60,2% de probabilidade, sendo que, até semana passada, o de 0,50 ponto reunia a maior parte dos operadores.
A perspectiva ainda fazia o dólar se valorizar globalmente, na esteira da alta dos títulos ligados ao Tesouro dos EUA, chamados de Treasuries.
No Brasil, os olhos também estão voltados para a política monetária. O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, dará palestra em evento em São Paulo nesta terça, e o mercado espera sinalizações sobre a taxa de juros básica do país, a Selic.
Indícios de aceleração da inflação e preocupações com as contas públicas têm acirrado apostas de que os juros poderão subir mais até o final do ano.
Na semana passada, o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), uma espécie de prévia da inflação oficial do país, mostrou alta de 0,13% do custo de vida em setembro, ante expectativa de 0,28% de analistas.
Com o resultado, o índice desacelerou a 4,12% no acumulado de 12 meses. O patamar era de 4,35% na divulgação anterior.
O BC trabalha com uma meta de inflação em 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto). A taxa Selic é o principal instrumento da autarquia para controlar a subida de preços.
Ainda que o IPCA-15 tenha mostrado uma desaceleração na leitura anual, o IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado), conhecido como a “inflação do aluguel”, acelerou a 0,62% em setembro, depois de ter avançado 0,29% no mês anterior, informou a FGV (Fundação Getulio Vargas) na sexta-feira.
A expectativa de analistas era de que a alta fosse de 0,47%. Com o resultado, o acumulado de 12 meses bateu 4,53%.
Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego brasileira continuou em trajetória de baixa e recuou a 6,6% no trimestre encerrado em agosto, mostrou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam o dado em 6,7%.
“Os dados mostram que a economia brasileira está aquecida e, ao mesmo tempo, que teremos mais pressão na inflação. Será inevitável o Banco Central subir os juros”, avalia João Kepler, CEO da Equity Fund Group.
A perspectiva de aperto na Selic costuma favorecer o real, ainda que penalize o mercado acionário. Isso porque o aumento do diferencial de juros entre Brasil e Estado Unidos atrai investidores da modalidade “carry trade”, isto é, quando tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam esses recursos em países de taxas baixas.
“Com a economia norte-americana com taxa de juros descendente e a economia brasileira com taxa de juros ascendente, isso é um fator que beneficia nossa moeda”, disse Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.
Muito sob influência desse fator, o dólar acumulou queda de 3,32% ante o real em setembro, também penalizado pelo robusto pacote de estímulos anunciado pela China na semana passada.
Massote, porém, alertou para a percepção de que a Selic estaria sendo apertada para “compensar todo o balanço de risco que pode ser causado pelo nosso cenário fiscal”.
O mercado brasileiro tem demonstrado uma preocupação contínua com o compromisso do governo em equilibrar as contas públicas, à medida que o Executivo persegue a meta de déficit primário zero para este ano.
Redação / Folhapress