Dólar fecha em alta e Bolsa cai, com foco na agenda da semana e contas públicas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta de 0,26% nesta segunda-feira (23), a R$ 5,534, dando início a uma semana cheia de divulgações importantes para os mercados, em especial dados de inflação do Brasil e dos Estados Unidos.

A moeda começou a sessão em forte alta de 1% e chegou a R$ 5,597 na máxima do dia, mas desacelerou ao longo da tarde.

Já a Bolsa foi na contramão do exterior e caiu 0,38%, aos 130.568 pontos, com temores sobre as contas públicas afetando o apetite por risco dos investidores.

Após uma semana marcada pelas decisões de juros do BC (Banco Central) e do Fed (Federal Reserve, a autoridade americana), o dólar engatou em um movimento de recomposição de perdas no Brasil.

A moeda americana havia acumulado mais de 2% de queda em relação ao real até sexta-feira, diante da perspectiva -e, depois, da confirmação- do aumento do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos.

Aqui, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, citando resiliência da economia brasileira. Já o Fed realizou o primeiro corte nas taxas desde 2020, num afrouxamento de 0,50 ponto após temores de desaceleração do mercado de trabalho. Os juros americanos agora estão na banda de 4,75% e 5%.

Os movimentos opostos dos BCs favorecem investimentos de “carry trade” -isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Desde sexta-feira, porém, a diminuição do impulso inicial tem feito o dólar ganhar terreno novamente. “Teve uma certa euforia com o corte do Fed, embora amplamente esperado, e acho que isso vem se dissipando”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

“E hoje os investidores estiveram em compasso de espera defensivo, no aguardo de importantes dados da agenda da semana.”

Os próximos dias guardam comentários de autoridades do Fed, incluindo do presidente da autarquia, Jerome Powell, e números do índice de inflação PCE (índice de preços para despesas de consumo pessoal, na sigla em inglês) na sexta-feira. A expectativa é por mais pistas sobre os juros americanos.

Já no Brasil, a ata da reunião do Copom deve ser publicada na terça-feira pela manhã, e o mercado também espera mais sinalizações sobre a trajetória da Selic.

O comitê, ao comunicar a última decisão, deixou os próximos passos em aberto e evitou se comprometer com a intensidade e com o tamanho do ciclo de alta de juros. Especialistas ouvidos pela reportagem, porém, preevem que a Selic deve entrar em 2025 na faixa de 11% e permanecer neste patamar por um bom tempo.

Nesta segunda, o Boletim Focus projetou que a taxa básica de juros do país deve fechar o ano em 11,5%. Há uma semana, o patamar estava em 11,25% -e, há um mês, em 10,5%.

Os economistas ouvidos pelo BC também esperam aumento no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que deve fechar o ano em 4,37%, ante projeção de 4,35% na semana passada. Dados do IPCA-15, uma espécie de “prévia” do indicador, serão publicados na quarta-feira.

O tom da ata provavelmente será duro, afirma Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.

“As projeções de inflação estão subindo a cada semana, e, se o governo não começar a realmente cortar gastos, só subir a Selic não será o suficiente para conter a inflação.”

O governo brasileiro apresentou o relatório bimestral de receitas e despesas, o que acendeu temores sobre o cumprimento das metas propostas pelo arcabouço.

Embora tenha havido um aumento nos gastos obrigatórios, a melhora na projeção de receitas permitiu desbloquear outras despesas que estavam travadas para cumprir a meta fiscal, que é de déficit zero neste ano. O saldo final dessa combinação de fatores foi positivo para o governo.

Segundo o Ministério do Planejamento, foi liberado R$ 1,7 bilhão em gastos no próximo ano, antes congelado no Orçamento de 2024, e houve um bloqueio adicional de R$ 2,1 bilhões para compensar o crescimento das despesas obrigatórias e evitar o estouro do limite do novo arcabouço fiscal.

Por outro lado, a melhora das receitas permitiu reverter integralmente o contingenciamento de R$ 3,8 bilhões feito em julho. O instrumento é usado para conter gastos quando outra regra fiscal está em risco -neste caso, a meta de resultado primário.

Em entrevista coletiva nesta segunda, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, disse que há um incômodo na equipe econômica com a percepção do mercado sobre a trajetória fiscal e reagiu às críticas de quem vê contabilidade criativa nos números oficiais.

Segundo ele, o governo Lula (PT) segue fazendo ajustes nas projeções para garantir o cumprimento das regras fiscais “sem nenhum tipo de criatividade, sem nenhum tipo de artifício”.

O resultado primário é estimado em déficit de R$ 68,8 bilhões, dos quais R$ 40,5 bilhões estão fora do cálculo da meta fiscal. O saldo negativo de R$ 28,3 bilhões fica dentro do intervalo do objetivo perseguido pelo governo, que é um déficit zero, com margem de tolerância de até R$ 28,8 bilhões negativos.

“O mercado tem dado um peso muito grande ao descontingenciamento, que, ao meu ver, foi pequeno demais para criar a narrativa de que há uma deterioração fiscal em curso”, diz André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.

O detalhamento do relatório reduziu a disparada do dólar, afirma ele, que seguiu em alta por causa das pressões do exterior.

As curvas de juros futuros, porém, fecharam o dia em forte alta por causa dos temores com o fiscal.

No fim da tarde, a taxa para janeiro de 2025 estava em 11,025%, ante 11,029% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2026 estava em 12,275%, ante 12,185%. O vencimento para janeiro de 2027 marcava 12,395%, ante 12,249% do ajuste.

Já na cena corporativa, a Santos Brasil disparou 16% em resposta à venda da fatia da Opportunity, antes detentora de 48% da empresa, ao grupo francês CMA. O total soma R$ 6,33 bilhões.

Os papéis preferenciais e ordinários da Petrobras avançaram 1,15% e 1,33%, respectivamente, na esteira da alta do petróleo no exterior. Vale subiu 0,52%, apesar do declínio do minério de ferro na China.

Quase todos os grandes bancos operaram na ponta negativa, com destaque para o Bradesco, que perdeu 2,23%, e Santander, a 2,16%.

Redação / Folhapress

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