Dólar fecha em alta e Bolsa fica estável, com espera por corte de gastos e pressão externa

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta de 0,59% nesta segunda-feira (11), cotado a R$ 5,769, com investidores à espera do pacote de corte de gastos e de olho em notícias vindas da China e dos Estados Unidos.

A moeda iniciou a sessão em disparada e chegou a marcar R$ 5,816 na máxima do dia, mas diminuiu ganhos no início da tarde. Na mínima, chegou a R$ 5,762.

Já a Bolsa fechou próxima à estabilidade, com alta marginal de 0,03%, aos 127.873 pontos.

O mercado engatou a semana na expectativa pela divulgação das medidas de contenção de despesas do governo federal.

O pacote, prometido em meados de outubro, visa dar mais sustentabilidade e longevidade ao arcabouço fiscal -e atende a temores de investidores quanto ao desequilíbrio das contas públicas do país.

A expectativa é que as propostas sejam apresentadas nesta semana. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve uma nova rodada de reuniões na sexta-feira com ministros de governo e, segundo auxiliares, o pacote só será anunciado quando o petista bater o martelo.

Além disso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, considera essencial que as medidas sejam apresentadas antes à cúpula do Senado e da Câmara dos Deputados.

Lula, em entrevista à RedeTV! no domingo, cobrou participação dos Poderes Legislativo e Judiciário para a aprovação do pacote fiscal.

“É uma responsabilidade do Poder Executivo, é uma responsabilidade do Poder Judiciário. Eu quero saber se também estão dispostos a abdicar daquilo que é excessivo, eu quero saber se o Congresso está disposto também a fazer o corte de gastos”, disse o presidente, citando reduções em emendas parlamentares como exemplo de “sacrifício”.

Na entrevista, Lula não adiantou detalhes sobre o pacote, mas afirmou estar em um “processo de discussão muito sério com o governo” por conhecer “o discurso e a gana especulativa” do mercado financeiro.

Os adiamentos, porém, vão aumentando a expectativa -e a impaciência- em torno do pacote.

“A paciência de investidores pode estar se esgotando, visto que semana passada tivemos um otimismo e bom desempenho do real impulsionado pela expectativa dessas medidas, mas investidores começam a se mostrar impacientes com a demora da divulgação”, afirma Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

Analistas do Itaú estimam que é necessário um ajuste de R$ 60 bilhões nas despesas, sendo R$ 25 bilhões em 2025 e os R$ 35 bilhões restantes em 2026, para que haja “maior confiança na sustentabilidade do arcabouço fiscal e a subsequente queda na percepção de risco”.

“Entendemos ser importante conjugar essas medidas com impacto de curto prazo que garantam o cumprimento do arcabouço em 2026 com mudanças estruturais que garantam um crescimento menor de despesas no médio prazo, com redução de indexações e vinculações das despesas públicas, além de reforçar a transparência e credibilidade das regras fiscais”, dizem, em nota.

A leitura dos investidores é que, com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, o pacote de cortes precisa ser crível e eficiente para dar conta das pressões econômicas que poderão acometer os mercados globais.

O republicano promete aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações norte-americanas, incluindo as que vêm de países aliados. Para os produtos chineses, o aumento prometido é de pelo menos 60%.

As tarifas inibem o comércio global, reduzem o crescimento dos exportadores e pesam sobre as finanças públicas de todas as partes envolvidas. É provável que elas aumentem a inflação nos Estados Unidos, forçando o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) a agir com juros altos por mais tempo -o que fortalece o dólar.

As projeções das propostas de Trump na economia têm ajustado posições de investimentos nos mercados globais. O movimento é chamado de “Trump Trade”, que tenta prever quais serão os ativos mais favorecidos pela política econômica do republicano.

Até agora, ações em Wall Street, títulos do Tesouro americano, dólar e criptomoedas se valorizaram -em alguns casos, a patamares recordes.

O Dow Jones atingiu o maior patamar da história nesta sessão, com alta de 0,72%, para 44.305 pontos. Já o S&P 500 subiu 0,13%, a 6.003 pontos, e a Nasdaq avançou 0,08%, para 19.302 pontos.

Mas, para mercados emergentes como o brasileiro, o clima é de cautela. Isso porque, além da valorização do dólar, a proposta de aumentar as tarifas em ao menos 60% para produtos chineses pesa para países de forte pauta exportadora, que costumam ter a China como principal mercado consumidor.

O governo chinês tem se movimentado para injetar estímulos na economia, visando frear a desaceleração já em curso e amortecer os impactos de uma possível guerra comercial com os americanos.

Na sexta-feira passada, a Comissão Permanente do Congresso Nacional do Povo -principal órgão legislativo chinês- aprovou um programa de refinanciamento das dívidas dos governos locais de 10 trilhões de yuans (R$ 8 trilhões).

O número, porém, ficou aquém do esperado pelo mercado. Pequim “precisa, essencialmente, de mais”, disse Carlos Casanova, economista sênior do UBP para a Ásia.

O especialista afirma que a China precisa de um pacote de 23 trilhões de iuanes (R$ 18,5 trilhões) para resolver a dívida local e os problemas imobiliários, o que representa cerca de 15% de sua economia, e provavelmente “vai conter parte desse poder de fogo até ter uma ideia melhor do que o presidente Trump está planejando”.

O mercado de commodities tem sentido o baque. O minério de ferro recuou 2,88% na Bolsa de Dalian, a 762,0 iuanes (US$ 106,10) a tonelada, enquanto o barril do petróleo Brent caiu 2,55% na Bolsa de Londres.

Na Bolsa brasileira, isso se refletiu na queda de 3,26% das ações da Vale, a empresa de maior peso no Ibovespa, ao lado da Petrobras.

As perdas da mineradora foram contrabalançadas pela disparada de 3,46% da Embraer, em reação à notícia de que a Suécia escolheu o C-390 Millennium como seu próximo avião militar de transporte.

TAMARA NASSIF / Folhapress

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