Dólar fecha em queda e Bolsa sobe, com expectativas por juros do Brasil e dos EUA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em queda de 0,21% nesta segunda-feira (9), cotado a R$ 5,579, com investidores à espera de dados de inflação nos Estados Unidos para calibrar expectativas sobre a trajetória dos juros norte-americanos.

A moeda passou boa parte da sessão no campo positivo, seguindo a tendência no exterior, mas perdeu força refletindo projeções de alta na taxa básica de juros do Brasil, a Selic, no Boletim Focus. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,640; na mínima, a R$ 5,575.

Já a Bolsa avançou 0,12%, aos 134.737 pontos, amparada por ganhos da Petrobras na esteira da valorização do petróleo no mercado internacional.

A semana começou com investidores ajustando posições no câmbio após o relatório de emprego “payroll” (folha de pagamento, em inglês), divulgado na sexta.

O resultado do indicador de emprego mais monitorado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) veio abaixo do esperado pelo consenso do mercado. A economia dos EUA abriu 142 mil vagas de trabalho em agosto, ante 89 mil em julho, em dado revisado para baixo. Analistas consultados pela Reuters esperavam 160 mil.

Já a taxa de desemprego recuou para 4,2%, ante 4,3% em julho. Os salários, por outro lado, aumentaram 3,8% em relação a 2023, depois de avançarem 3,6% em julho.

A leitura é que a divulgação mostrou uma desaceleração ordenada e sem grandes deteriorações do mercado de trabalho. Uma bateria de outros dados de emprego, também divulgados ao longo da semana passada, reforçou essa hipótese para os operadores.

O Fed trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os dados de inflação e emprego para balizar as decisões de política monetária. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”, quando índices inflacionários convergem para a meta sem maiores danos à taxa de ocupação do país.

Na quarta-feira, é esperada a divulgação do PCE (índice de preços de consumo pessoal, na sigla em inglês), indicador de inflação que poderá dar mais indícios sobre o estado da maior economia do mundo.

O Fed se reúne na semana que vem, entre os dias 17 e 18 de setembro, para decidir sobre a taxa de juros, na faixa de 5,25% e 5,50% desde junho do ano passado -o patamar mais restritivo em duas décadas.

Agentes financeiros já dão como certo que o ciclo de afrouxamento monetário terá início neste mês, e, com os dados de inflação em mãos, a expectativa é por um consenso no tamanho da redução.

A aposta majoritária é que será gradual. A probabilidade de que o comitê irá cortar os juros em 0,25 ponto percentual chegou a 75% na ferramenta FedWatch, enquanto a redução de maior magnitude, de 0,50 ponto, reúne 25%.

“Está claro que o mercado de trabalho está desacelerando, e o Fed precisa começar a se movimentar”, disse Eugenio Aleman, economista-chefe da Raymond James, que acredita que o primeiro corte será de 0,25 ponto.

“Mas o céu não está caindo, o chão não está tremendo… E fazer um corte de 0,50 ponto enviará um sinal incorreto ao mercado de que a economia está desmoronando. E eles não querem fazer isso.”

O dólar costuma se depreciar à medida que os juros dos EUA caem, já que a queda nos rendimentos da renda fixa americana estimula a busca por ativos de maior risco. Para o real, há ainda outro fator de relevância: a discussão em torno da taxa básica de juros do país, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano.

O Copom (Comitê de Política Monetária), desde a última reunião do BC (Banco Central), tem reforçado que um novo ciclo de altas está à mesa para levar a inflação de volta ao centro da meta, se os dados indicarem necessidade.

O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.

No Boletim Focus desta semana, agentes financeiros consultados pelo BC passaram a prever uma Selic maior pela primeira vez desde que as discussões de uma nova alta começaram, em junho.

Agora, as projeções são de que a taxa terminará o ano em 11,25%, com o primeiro aperto acontecendo no encontro deste mês, também marcado para os dias 17 e 18 de setembro, em 0,25 ponto percentual.

Dados divulgados na última semana acirraram as projeções de alta. No segundo trimestre, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 1,4% em comparação aos três meses iniciais de 2024, ante expectativa de 0,9% de analistas consultados pela Bloomberg.

Já os números de emprego medidos pela Pnad Contínua mostraram que a taxa de desocupação recuou a 6,8% -o menor patamar para o período desde o início da série histórica do indicador, de 2012.

O avanço da atividade e o aquecimento do mercado de trabalho tendem a subir os preços ao consumidor, o que pressiona as expectativas de inflação.

As atenções se voltam agora aos dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação do país que será publicado na terça-feira, para calibrar as apostas sobre a Selic.

Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” -isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Na cena corporativa, o Ibovespa foi amparado por ganhos de empresas peso-pesados. Vale, que passou a maior parte do pregão no positivo, fechou em estabilidade, em dia de valorização do minério de ferro na China. Já os papéis preferenciais e ordinários da Petrobras ganharam 1,09% e 1,33%, respectivamente, com a alta dos preços do petróleo no exterior.

Redação / Folhapress

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