Dólar fecha em queda e Bolsa sobe, com pacote fiscal e eleições dos EUA no radar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em queda de 0,63% nesta terça-feira (5), a R$ 5,746, com investidores na expectativa pelo anúncio de medidas de contenção de gastos do governo brasileiro e pelas eleições presidenciais dos Estados Unidos.

A moeda começou o dia em alta e chegou a R$ 5,804 na máxima da sessão, mas virou para queda no meio da tarde em resposta à antecipação da reunião de ministros possivelmente afetados pelo pacote de cortes.

Já a Bolsa subiu 0,11%, aos 130.660 pontos, com o balanço do Itaú entre os destaques do noticiário corporativo.

O mercado aguarda a divulgação do pacote de corte de gastos do governo federal, que, como afirmou o ministro Fernando Haddad (Fazenda) na véspera, poderá ocorrer ainda nesta semana.

Segundo ele, as medidas de contenção de despesas estão “muito avançadas” do ponto de vista técnico. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com a equipe econômica e com ministros que poderão ser atingidos pelas medidas na segunda-feira.

Nesta tarde, há outro encontro de autoridades do governo para dar continuidade às tratativas. A reunião desta terça, inicialmente prevista para às 16h, foi antecipada para 14h.

De acordo com a Casa Civil, os ministros Carlos Lupi (Previdência Social) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social) estão presentes, além da equipe econômica do governo —formada por Haddad, Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Esther Dweck (Gestão e Inovação)— e do próprio titular da Casa Civil, Rui Costa.

A antecipação da reunião no Palácio do Planalto fez o dólar virar para queda, segundo Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

“Está com cara de que vai sair algo muito em breve. Em dia de dólar mais fraco lá fora por conta da expectativa para a eleição americana, esse tipo de movimento acaba tendo mais impacto.”

Na segunda, Lula se reuniu com Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), Nísia Trindade (Saúde) e Camilo Santana (Educação) em encontro que durou cerca de três horas, mas terminou sem anúncios. Os três estão de prontidão para serem chamados a qualquer momento e completar as discussões.

O movimento do governo ocorre após dias de estresse no mercado financeiro. O dólar disparou na última sexta-feira para R$ 5,86, a maior cotação desde maio de 2020, em reação agravada pela notícia da viagem —posteriormente cancelada— de Haddad à Europa.

O ministro passaria a semana em eventos em Paris, Londres, Berlim e Bruxelas, e, segundo um interlocutor ouvido pela Folha, a ausência do chefe da ala econômica tornaria “praticamente impossível” que o plano fosse definido nos próximos dias —a contragosto do mercado, que espera celeridade na resolução das incertezas fiscais.

Para os investidores, o governo precisa ajustar a ponta das despesas, e não só reforçar a arrecadação, para garantir a longevidade do arcabouço fiscal.

A previsão de encaminhar ao Congresso Nacional ainda em 2024 um pacote de revisão de gastos estruturais foi anunciada por Tebet em 15 de outubro. Na ocasião, afirmou que as medidas seriam enviadas após as eleições municipais, que terminaram no domingo passado (27).

A discussão doméstica acontece em meio à cautela generalizada dos investidores nesta terça, último dia para os americanos escolherem entre Kamala Harris, atual vice-presidente democrata, e Donald Trump, ex-presidente republicano, para a Casa Branca.

Os dois chegam tecnicamente empatados ao dia da eleição, numa disputa que pode ser a mais acirrada da história dos Estados Unidos.

Mas, ainda que as pesquisas de opinião indiquem um cabo de guerra equilibrado entre os dois candidatos, o mercado de apostas projeta maior probabilidade de uma vitória de Trump. Na Polymarket, a maior plataforma de previsões do mundo, o republicano tem 62% de chance de vencer.

As apostas de um retorno do ex-presidente ao poder têm pautado o mercado financeiro nos últimos dias, que passou a precificar o impacto das propostas de Trump na economia.

O republicano promete aumento tarifário sobre as importações, especialmente as chinesas, e um possível corte de impostos —medidas que são vistas como inflacionárias e que podem influenciar o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) a manter os juros elevados por mais tempo, o que dá força ao dólar.

No último final de semana, no entanto, pesquisas de opinião consideradas “padrão ouro” indicaram força de Kamala em estados cruciais, o que pode levar a uma vitória democrata no pleito. O movimento desmontou parte das apostas em Trump na segunda-feira, e, no câmbio, isso se refletiu em perdas globais da moeda norte-americana.

A semana ainda guarda as decisões de juros do Fed e do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central).

Por causa das eleições presidenciais, a reunião da autoridade norte-americana foi adiada em um dia e irá ocorrer entre quarta e quinta-feira, enquanto a decisão do comitê brasileiro será anunciada na quarta-feira, como de praxe.

A expectativa dos agentes financeiros é que o Fed dê continuidade ao ciclo de afrouxamento nos juros. Na reunião de setembro, o colegiado reduziu a taxa em 0,5 ponto percentual, levando-a à banda de 4,75% e 5% —o primeiro corte em quatro anos.

Na ferramenta CME Fed Watch, a probabilidade de uma redução de 0,25 ponto marca 97%. A previsão de diminuição do ritmo de cortes vem na esteira de uma bateria de dados que indicaram que a economia dos Estados Unidos segue forte, com inflação convergindo à meta de 2% e mercado de trabalho resiliente.

O movimento é o oposto do BC brasileiro. Aqui, o Copom decidiu reiniciar o ciclo de apertos na taxa Selic na reunião passada, quando optou por uma alta de 0,25 ponto percentual e levou os juros a 10,75% ao ano.

Com a piora no cenário econômico nos últimos 45 dias, o mercado espera que o comitê acelere o ritmo de altas para 0,5 ponto percentual.

Redação / Folhapress

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