Dólar fecha em R$ 5,46 após decisão de corte maior nos juros dos EUA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em queda de 0,47% nesta quarta-feira (18), a R$ 5,460, em resposta ao corte de 0,50 ponto percentual nos juros dos Estados Unidos.

A moeda atingiu a mínima de R$ 5,411 logo após o anúncio da decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), por volta das 15h (horário de Brasília), mas desacelerou perdas após falas de Jerome Powell, presidente da autarquia, esfriarem o bom humor do mercado.

Já a Bolsa, que chegou a virar para alta brevemente com o corte, caiu 0,89%, a 133.747 pontos, pressionada pesos-pesados Petrobras e Vale.

A autoridade americana optou por reduzir a taxa de juros em 0,50 ponto, para a banda de 4,75% e 5%. Foi o primeiro corte em quatro anos, em movimento amplamente esperado pelos investidores.

O tamanho do corte, debatido por semanas a fio desde a confirmação de que a hora de reduzir os juros havia chegado, veio em linha com as apostas majoritárias dos operadores.

“O comitê ganhou maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção à meta de 2% e julga que os riscos para alcançar os objetivos de emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados”, disseram os dirigentes do Fed no anúncio.

A decisão não foi em consenso: a diretora Michelle Bowman preferia um corte de apenas 0,25 ponto percentual, a primeira divergência entre os membros do comitê desde 2005. Todos os outros 11 membros votaram pela redução maior.

Os formuladores de políticas veem a taxa de juros caindo mais 0,50 ponto percentual até o final deste ano, mais 1 ponto percentual em 2025 e, finalmente, mais 0,50 ponto em 2026, terminando em uma faixa de 2,75% e 3%.

Em entrevista coletiva, porém, Jerome Powell reforçou que as próximas decisões do comitê estão à mercê de novos dados econômicos. O Fed se reúne mais duas vezes até o final de 2024, em novembro e dezembro.

“Não há nada que sugira pressa para fazer isso”, disse, em referência à velocidade com que o banco central poderá reduzir os juros. “Podemos ir mais rápido se for apropriado, podemos ir mais devagar se for apropriado, podemos pausar se for apropriado.”

Na análise de André Diniz, economista-chefe para Internacional da Kinea, a entrevista coletiva “neutralizou um pouco o efeito da decisão”.

O dólar costuma se desvalorizar à medida que os juros nos Estados Unidos caem, conforme o rendimento dos ativos ligados à renda fixa americana depreciam. Isso leva operadores a investimentos de maior risco, como moedas emergentes e mercados acionários, pela possibilidade de rentabilidade maior.

“Por mais que o comunicado não tenha sido explícito, o corte de 0,50 claramente confirma que as preocupações com a saúde do mercado de trabalho pesaram mais na decisão do que os riscos relativos à inflação”, comenta Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

“Os mercados reagiram positivamente à decisão, mas a digestão dessa decisão histórica ainda vai levar tempo e muita volatilidade deve ser esperada nos próximos dias.”

As expectativas, agora, recaem sobre a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), que será divulgada após o fechamento dos mercados, às 18h.

A projeção é que a Selic suba para 10,75%, um aumento de 0,25 ponto percentual -um aperto que, após o corte nos EUA, poderá favorecer o real.

Na reunião de julho, o Copom manteve a taxa básica de juros no atual patamar de 10,50% ao ano pela segunda vez consecutiva. Desde então, os dirigentes têm reiterado que novas altas estão à mesa para levar a inflação de volta ao centro da meta, caso os dados macroeconômicos indiquem necessidade.

O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.

O mercado dá como certo que a Selic terá uma nova alta de 0,25 ponto nesta reunião. Dados indicam que a economia brasileira está aquecida e resiliente, o que tende a se traduzir em pressões inflacionárias nos meses seguintes.

Essa é a primeira reunião do comitê depois da indicação de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, à presidência do BC. Se aprovado em sabatina no Senado Federal, ele substituirá Roberto Campos Neto, cujo mandato acaba em dezembro deste ano.

Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” -isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Essa perspectiva de rentabilização “tem ajudado na atração de capitais estrangeiros para o real e pode ajudar a manter a taxa de câmbio brasileira em trajetória de queda”, afirma Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

Já na cena corporativa, o Ibovespa se firmou no negativo por causa do tombo dos papéis da Petrobras. Os preferenciais caíram 2,40% e os ordinários, 1,72%.

Os investidores reagiram à notícia de que a petroleira estuda reduzir o preço dos combustíveis nos próximos dias, mirando mais alinhamento com o mercado internacional. O anúncio deve ocorrer após a decisão do Copom, segundo o jornal Valor Econômico.

Vale também pesou no índice, com perdas de 1,16%, em linha com a desvalorização do minério de ferro na China.

TAMARA NASSIF / Folhapress

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