Dólar fecha em R$ 5,70 e Bolsa cai, com pressão da China e cautela sobre contas públicas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta de 0,72% nesta sexta-feira (18), a R$ 5,700, com investidores repercutindo dados da economia da China e ainda de olho nas contas públicas do Brasil.

É o maior valor para a moeda desde agosto deste ano, quando o mercado foi tomado por temores de que a economia dos Estados Unidos estava a caminho de uma recessão.

No acumulado da semana, o dólar subiu 1,51%. Somando todo o mês de outubro outubro, a cifra sobe para 4,61%.

Já a Bolsa caiu 0,22%, aos 130.499 pontos. O pregão foi afetado pela alta nas taxas de juros futuros, conforme os agentes financeiros seguiram precificando uma taxa Selic maior nos próximos anos para dar conta do risco fiscal. Na semana, porém, o Ibovespa ainda assegurou um ganho de 0,39%.

O dia foi pautado, principalmente, pelo mercado externo. O PIB (Produto Interno Bruto) da China cresceu 4,6% ano a ano no terceiro trimestre -uma desaceleração em relação aos 4,7% registrados nos três meses até junho, mas ainda acima da expectativa de 4,5% de analistas consultados pela Reuters.

O dado, abaixo da meta de 5% do governo chinês, indica um crescimento vacilante da segunda maior economia do mundo e vem em meio a anúncios de estímulos de Pequim para impulsionar a atividade.

Mirando ativos de maior risco, o Banco Central chinês deu início a dois esquemas de financiamento que, inicialmente, injetarão até 800 bilhões de iuanes (US$ 112,38 bilhões) no mercado acionário.

A autoridade monetária ainda pediu às instituições financeiras que aumentem o apoio ao crédito para a economia real e mantenham um crescimento razoável na quantidade total de dinheiro e crédito.

O movimento, mesmo com a desaceleração do PIB de pano de fundo, ajudou a dissipar parte do pessimismo instalado entre os investidores.

Mas não foi o suficiente para reverter as quedas de commodities. O minério de ferro fechou em baixa de 1,55% na Bolsa de Dalian, enquanto o petróleo Brent perdeu 1,76% na Bolsa de Londres.

O mercado brasileiro, assim como outros emergentes, tem estado sob pressão por causa do desempenho de commodities sensíveis ao desenrolar dos planos econômicos da China, principal consumidor de matérias-primas do mundo.

“Os investidores ainda estão céticos quanto ao potencial de recuperação sustentável da China, o que afeta diretamente setores como mineração e petróleo”, diz Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.

Na Bolsa brasileira, isso se traduziu na queda de 0,34% da Vale e de 0,27% da Petrobras, as empresas de maior peso no Ibovespa.

Já no câmbio, a atratividade do real ainda foi afetada pela cautela dos investidores quanto às contas públicas do Brasil.

Após a ministra Simone Tebet (Planejamento) confirmar planos de corte de gastos, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que a área econômica do governo mira uma “dinâmica suficiente para garantir vida longa ao arcabouço fiscal”.

O ajuste nas despesas tem sido defendido pelo mercado desde a elaboração da nova regra fiscal, em vigor desde o início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Chegou a hora para levar a sério a revisão de gastos públicos no Brasil”, disse a ministra Simone Tebet na terça, depois de uma reunião com Haddad. A proposta do governo é endereçar a questão com uma série de medidas em três pacotes.

“Nós estamos muito otimistas que esse pacote terá condições de avançar na mesa do presidente”, disse Tebet. As propostas que serão enviadas a Lula, esclareceu, já passaram pelo crivo da equipe econômica, e o primeiro conjunto de medidas deve ser apresentado ao presidente logo após o segundo turno das eleições municipais, em 27 de outubro.

A pretensão é que ele seja enviado ao Congresso Nacional em seguida, permitindo que algumas das propostas sejam aprovadas ainda neste ano e outras no início de 2025, segundo a ministra.

Ela não forneceu detalhes sobre quais medidas irão compor a revisão de gastos, mas afirmou que uma das propostas analisadas teria potencial de aumentar o espaço fiscal em até R$ 20 bilhões.

Segundo Haddad, o ajuste será uma agenda prioritária do governo até o fim do ano e o desenho está bastante avançado. Os anúncios de medidas que irão compor a revisão, no entanto, só serão feitos quando “o governo estiver todo alinhado em relação aos propósitos”, afirmou.

De acordo com o economista-chefe da Genial Investimentos, José Marcio Camargo, “a falta de indicações sobre quais reformas estão em discussão e quanto será economizado caso o projeto seja aprovado gera mais dúvidas entre os investidores sobre o que será efetivamente enviado ao Congresso”.

“Diante do elevado nível de incerteza fiscal, o governo somente consegue captar recursos para financiar a dívida em prazos cada vez menores a custos mais elevados e pressão permanente sobre o real”.

As taxas de juros futuros ainda seguiram em alta nesta sexta, com o mercado prevendo uma Selic maior para dar conta do risco fiscal.

No fim da tarde, a taxa para janeiro de 2025 -que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo- estava em 11,192%, ante 11,182% do ajuste anterior.

A taxa para janeiro de 2027 estava em 12,92%, ante o ajuste de 12,849%, e o vencimento para janeiro de 2028 marcava 12,955%, ante 12,89%.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2030 estava em 12,97%, ante 12,917%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,86%, ante 12,829%.

Os investidores também colocaram os Estados Unidos na conta dos juros futuros.

“Os Estados Unidos atrapalham um pouco, porque há uma incerteza sobre sua política monetária. E com Donald Trump, despontando como favorito nas eleições presidenciais, espera-se uma política mais protecionista, o que acaba pesando no nosso câmbio”, afirmou o chefe de renda fixa da Manchester Investimentos, Rafael Sueishi.

“Isso combinado com o principal fator, que é o fiscal, faz as taxas subirem.”

Dados macroeconômicos divulgados endossaram as expectativas de um corte de 0,25 ponto percentual nos juros dos Estados Unidos na próxima reunião, com probabilidade de 94,4% na ferramenta CME Fed Watch. As chances de manutenção da taxa ficaram com os 5,6% restantes.

Redação / Folhapress

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