SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou estável nesta sexta-feira (22), com leve variação positiva de 0,01%, em meio à cautela global diante do aumento das tensões entre Rússia e Ucrânia e à espera prolongada pelo pacote de corte de gastos prometido pelo governo brasileiro.
A moeda norte-americana, agora cotada a R$ 5,812, enfrentou uma sessão volátil. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,831; na mínima, a R$ 5,789.
Já a Bolsa disparou 1,60%, aos 128.956 pontos, segundo dados preliminares. O Ibovespa foi amparado pela forte alta dos papéis da Petrobras, em reação dos investidores ao anúncio de distribuição de R$ 20 bilhões em dividendos extraordinários.
Na noite de quinta-feira, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) adiou mais uma vez o anúncio das medidas fiscais esperadas desde o final das eleições municipais, em 27 de outubro.
O pacote ficará para semana que vem, informou o chefe da ala econômica do governo. Ele também anunciou que será feito um bloqueio adicional em torno de R$ 5 bilhões no Orçamento de 2024, além dos R$ 13,3 bilhões que já estão travados. Novos contigenciamentos foram descartados.
As medidas de contenção de gastos endereçam temores do mercado sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal, o conjunto de regras que visa o equilíbrio das contas públicas do país.
Para os agentes financeiros, é preciso ajustes na ponta das despesas, e não só reforços na arrecadação, para diminuir a dívida pública.
O pacote foi prometido ainda em meados de outubro pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), e a expectativa dos agentes econômicos têm crescido desde então.
“A demora em detalhar os cortes de gastos mantém o mercado em posição defensiva, com dúvidas sobre se as medidas serão suficientes para atender às metas fiscais”, diz Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.
“A paciência está no limite. Apesar das reiteradas declarações do ministro Fernando Haddad, de que as medidas devem ser anunciadas na próxima semana, o mercado parece não estar convencido de sua robustez.”
O tamanho do corte é estimado por integrantes do governo em R$ 70 bilhões -entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões em 2025, e de R$ 40 bilhões em 2026. Para economistas do Itaú Unibanco, são necessários ao menos R$ 60 bilhões para que o mercado tenha mais confiança no ajuste fiscal proposto.
A cautela no meio doméstico ainda veio associada à guerra da Ucrânia, foco das atenções do exterior.
Pela primeira vez na história, a Rússia disparou em combate um míssil intercontinental desenhado para uso em guerra nuclear, em ataque contra a Ucrânia na quinta-feira.
O presidente russo, Vladimir Putin, alertou que o conflito na Ucrânia assumiu um “caráter mundial” e culpou as potências ocidentais pela escalada. Em discurso à nação, ele também ameaçou atacar as potências ocidentais que forneceram a Kiev armas usadas pela atacar a Rússia.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, ainda disse ter certeza de que os Estados Unidos “compreenderam a mensagem” após a disparada do míssil balístico.
O aumento de tensões começou no final de semana passado, quando foi revelada a autorização dada pelos EUA para que Kiev pudesse empregar mísseis americanos com alcance de até 300 km contra alvos dentro do território russo.
O governo de Volodimir Zelenski, muito pressionado no campo de batalha, pedia havia meses a medida e, já na terça (19) promoveu o primeiro ataque contra um arsenal russo a 150 km de sua fronteira.
Em resposta, o presidente russo, Vladimir Putin, flexibilizou as condições para o uso de armas nucleares.
O uso do míssil deu vazão para temores de uma expansão acentuada da guerra, com a possibilidade de envolver até membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Nos mercados globais, as preocupações se estendem também para novos choques de oferta de commodities, como petróleo, gás e grãos. O sentimento de aversão a ativos de maior risco ainda levou investidores a buscar segurança no dólar globalmente.
Na cena corporativa, destaque para as ações da Petrobras: as preferenciais subiram 3,98% e as ordinárias, 5,23%. A petroleira anunciou na véspera que irá distribuir R$ 20 bilhões em dividendos extraordinários e detalhou o plano de investimentos de US$ 111 bilhões entre 2025 e 2029.
No novo planejamento, a estatal reduziu o caixa mínimo de referência para US$ 6 bilhões, ante os US$ 8 bilhões anteriores, e elevou o limite da dívida bruta para US$ 75 bilhões, ante US$ 65 bilhões.
A disparada da Petrobras deu força ao Ibovespa, em recuperação após cair quase 1% na quinta-feira.
Redação / Folhapress