SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar começou a terça-feira (26) com uma leve alta, passou a rondar a estabilidade e agora voltou a subir durante a tarde à medida que investidores evitavam tomar posições amplas antes do anúncio de um pacote de medidas ficais pelo governo.
Às 15h20, a moeda americana tinha variação positiva de 0,24%, cotada a R$ 5,817. Já a Bolsa subia 0,85%, a 130.139, tendo como pano de fundo o sinal positivo de commodities como minério de ferro e petróleo, enquanto os investidores brasileiros avaliavam os dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15).
Além disso, os agentes reagiam ao anúncio do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de que deve impor novas tarifas sobre Canadá, México e China.
“O mercado segue na esteira do movimento de ontem, ou seja, em absoluto compasso de espera, apostando que o pacote de contenção de despesas será finalmente anunciado”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Bergallo também chamou atenção para um “limite psicológico” em torno de R$ 5,80, uma vez que investidores costumam realizar lucros quando a moeda norte-americana atinge esse nível.
“Estamos com margens estreitas. Por um lado o dólar não rompe R$ 5,80, e por outro lado não cede abaixo dos R$ 5,70 por conta do quadro fiscal. Acho que só conseguiremos sair desse preço com acontecimentos que estão no radar”, completou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu ao longo desta segunda com seus ministros, incluindo o chefe da Fazenda, Fernando Haddad, e há expectativa de que a data para o anúncio do pacote com medidas para contenção de gastos seja decidida a partir deste encontro.
Haddad já havia adiado o anúncio das medidas fiscais esperadas desde o final das eleições municipais, há um mês, em 27 de outubro. A expectativa dos agentes econômicos têm crescido desde então.
O pacote deve ficar para esta semana, segundo informou o chefe da ala econômica do governo. Ele também anunciou que será feito um bloqueio adicional em torno de R$ 5 bilhões no Orçamento de 2024, além dos R$ 13,3 bilhões que já estão travados. Novos contingenciamentos foram descartados.
O tamanho do corte é estimado por integrantes do governo em R$ 70 bilhões entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões em 2025, e de R$ 40 bilhões em 2026. Para economistas do Itaú Unibanco, são necessários ao menos R$ 60 bilhões para que o mercado tenha mais confiança no ajuste fiscal proposto.
Na frente de dados, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou mais cedo a alta do IPCA-15, que acelerou a 0,62% em novembro, após marcar 0,54% em outubro, pressionado pelos alimentos.
O novo resultado surpreendeu o mercado financeiro ao ficar acima das projeções. Para este mês, analistas esperavam mediana de 0,50%, e o intervalo das estimativas ia de 0,22% a 0,58%, conforme a agência Bloomberg.
A alta de 0,62% é a maior para meses de novembro desde 2021. À época, a variação havia sido de 1,17%.
“O IPCA-15 não está interferindo nas cotações de hoje. O mercado está aguardando mais informações sobre os ajustes fiscais”, afirmou Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos.
No exterior, o mercado repercutia o anúncio feito pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que disse que vai impor tarifas de 25% sobre todas as importações de México e Canadá, além de novas taxas sobre produtos chineses.
“Em 20 de janeiro, como uma das minhas primeiras ordens executivas, assinarei todos os documentos necessários para cobrar do México e do Canadá uma tarifa de 25% sobre todos os produtos que entram nos Estados Unidos, além de suas ridículas fronteiras abertas”, escreveu Trump em suas redes sociais.
“Esta tarifa permanecerá em vigor até que as drogas, em particular o fentanil, e todos os imigrantes ilegais parem esta invasão do nosso país. Tanto o México quanto o Canadá têm o direito e o poder absolutos de resolver facilmente este problema que se arrasta há muito tempo. Exigimos, portanto, que usem esse poder, e até que o façam, é hora de pagarem um preço muito alto.”
A espera dos mercados pelas medidas prometidas por Trump tem sido o grande impulsionador do dólar nas últimas semanas, uma vez que analistas projetam uma inflação mais alta nos EUA sob o próximo governo, o que tem elevado os rendimentos dos Treasuries e favorecido a divisa do país.
Redação / Folhapress