Dólar inverte sinal e cai após bater R$ 5,79, com mercado de olho no exterior

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta volatilidade nesta sexta-feira (2), um dia depois de atingir a maior cotação desde 21 de dezembro de 2021.

Após subir até R$ 5,793 na máxima da sessão, ainda no início da manhã, a moeda norte-americana inverteu sinais e passou a operar no sinal negativo. Às 11h04, o dólar perdia 0,31%, cotado a R$ 5,715 na venda. Já a Bolsa recuava 0,35%, aos 126.951 pontos.

Os mercados reagiam aos últimos dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos. O chamado “payroll” (folha de pagamento, em inglês) mostrou que a criação de vagas de emprego desacelerou a um ritmo maior do que o esperado em julho.

De acordo com o Departamento de Trabalho, a economia adicionou 114.000 novos postos no mês passado e a taxa de desemprego aumentou para 4,3%, o maior nível desde outubro de 2021.

Analistas consultados pela Reuters esperavam abertura de 175.000 postos de trabalho e manutenção da taxa de desemprego em 4,1%. No mês anterior, 179.000 vagas foram abertas, em dado revisado para baixo.

Os novos números podem ampliar temores de que o mercado de trabalho por lá esteja se deteriorando e, potencialmente, tornando os Estados Unidos vulneráveis a uma recessão.

Por outro lado, também reforçam a tese de que o início de um ciclo de afrouxamento monetário do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) pode estar próximo, com apostas quase unânimes de que um corte irá acontecer na próxima reunião do colegiado, em setembro.

Uma taxa alta nos Estados Unidos, tidos como a economia mais segura do mundo, desestimula investimentos em ativos de risco por puxar os investidores aos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, chamados de Treasuries.

Isso significa que, quanto mais o banco central norte-americano cortar os juros, melhor para o real e outras moedas emergentes, além do próprio mercado acionário.

Na quarta-feira, o Fed manteve a taxa de referência inalterada na faixa de 5,25% e 5,5%, como esperado. No comunicado, porém, afirmou que os preços agora estão apenas “um pouco elevados”, a primeira suavização na linguagem desde que o banco central deu início à batalha contra a inflação, classificada como “elevada” nos últimos relatórios.

À medida que a inflação continua convergindo à meta de 2% e outros dados mostram uma desaceleração considerável da atividade econômica, agentes financeiros passaram a não só apostar que o primeiro corte de juros acontecerá em setembro, mas também que a magnitude dele será maior do que o previsto.

De acordo com a ferramente CME Watch, que colhe apostas sobre a política monetária norte-americana, 67,5% dos investidores preveem que os juros irão cair em 0,5 p.p; 32,5% esperam 0,25 p.p.

André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, prevê que o afrouxamento seja de menor magnitude.

“Embora seja tentador imaginar um corte de juros de 0,50 p.p. pelo Fed, é importante lembrar que a taxa de inflação ainda deve se manter em torno de 3% nos 12 meses encerrados em julho, acima da meta de longo prazo do Fed”, afirma.

“Agora, com os números de julho totalmente conhecidos, o Fed talvez tenha segurança em realizar três cortes de juros nas três reuniões remanescentes de 2024 e não apenas dois, como boa parte dos agentes e alguns dirigentes do FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês) esperavam.”

Na véspera, o dólar subiu 1,43%, e a Bolsa recuou 0,20%, aos 127.395 pontos. A disparada da moeda foi causada pelo aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio e as decisões sobre juros dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos.

Um dia depois do ataque que matou Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, em Terãa, o governo de Israel anunciou a morte do chefe da ala militar do grupo terrorista da Faixa de Gaza. Mohammed Deif morreu, segundo o Estado judeu, em um bombardeio no mês passado.

“O ataque de Israel é muito significativo, porque agora parece haver um aval do líder iraniano para que Terãa faça uma retaliação”, afirma Galhardo.

Para os mercados, a escalada de tensões “tem levado parte dos investidores a buscar ativos mais seguros, como ouro e o dólar”, explica.

Isso se soma à resposta dos investidores à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada nesta quarta-feira (31) após o fechamento dos mercados.

O BC (Banco Central) optou por manter a taxa básica de juros do país —a Selic— em 10,50% ao ano. No comunicado emitido após a decisão, adotou um tom mais duro ao enfatizar a necessidade de “maior vigilância” diante das conjunturas doméstica e internacional, que demandam “acompanhamento diligente e ainda maior cautela”.

Para alguns analistas, no entanto, o fato do Copom não ter sinalizado uma possível alta nos juros é motivo de preocupação.

O comunicado “não foi tão agressivo quanto poderia ter sido, dada a deterioração das perspectivas de inflação e do equilíbrio de riscos”, disse Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs.

O Boletim Focus desta semana apontou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fechará 2024 em 4,10%, ante avanço de 4,05% na semana anterior, segundo estimativas de analistas consultados pelo BC.

As previsões vêm na esteira dos últimos dados de inflação medidos pelo IPCA-15, que, pelo período de coleta, funciona como uma espécie de prévia do indicador oficial. Apesar de terem desacelerado em relação ao mês anterior, os preços subiram mais do que o esperado, a 0,30%, com a taxa de 12 meses batendo 4,45%.

O BC trabalha com a meta de inflação em 3%, co m margem de tolerância de 1,5 p.p. para cima e para baixo. Com a base anual próxima ao teto de 4,50%, a dúvida agora é se o atual patamar da Selic é contracionista o suficiente para levar a inflação de volta à meta.

Redação / Folhapress

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