SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar oscila entre os sinais nesta quinta-feira (3), com investidores repercutindo dados de emprego mais fortes do que o esperado nos Estados Unidos.
Ainda na cena internacional, também segue no radar a discussão sobre o projeto de lei orçamentário no Congresso dos EUA e as negociações tarifárias entre o país e demais parceiros comerciais. Por aqui, o foco segue no impasse sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Às 12h32, a moeda não tinha alteração e estava cotada a R$ 5,418. Já a Bolsa tinha forte alta de 1,36%, a 140.947 pontos, a caminho de renovar o recorde histórico do Ibovespa.
Os Estados Unidos abriram 147 mil vagas de emprego no mês passado, informou o relatório “payroll” (folha de pagamento, em inglês) nesta manhã. O dado representa uma aceleração ante as 144 mil abertas em maio e superou as expectativas de economistas consultados pela Reuters, que previam a criação de 110 mil postos.
A taxa de desemprego também caiu de forma inesperada, a 4,1%, ante projeção de alta para 4,3%.
O relatório sugeriu que o mercado de trabalho está em relativa estabilidade. Ao mesmo tempo, os pedidos iniciais de auxílio-desemprego outro indicador de empregabilidade por lá recuaram para o menor nível em seis semanas na semana passada, para 233 mil. A expectativa era de 240 mil pedidos.
Os dados recalibraram parte das apostas sobre a política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA). Até semana passada, uma porcentagem dos operadores acreditava que a autarquia poderia reiniciar o ciclo de cortes de juros, hoje na faixa de 4,25% e 4,5%, na próxima reunião, no fim do mês. Com o payroll, o mercado consolidou expectativas de que o primeiro corte irá acontecer no encontro de setembro.
“Até o momento não se vê sinais de impacto das tarifas sobre a economia americana, mas ainda não se pode eliminar a hipótese de que esse impacto aparecerá nos próximos meses. E é essa incerteza que manterá o Fed paralisado na próxima reunião”, diz André Valério, economista sênior do Inter.
“Os dados antecedentes do mercado de trabalho sugerem que haverá um impacto negativo tardio no emprego e esperamos que o cenário se torne mais claro a tempo da reunião de setembro.”
A expectativa sobre o corte em setembro se mantém mesmo se as tarifas não impactarem os indicadores de emprego e inflação. Segundo Valério, é possível que o Fed adote uma postura de “corta e espera”, pulando a reunião de novembro e voltando a cortar em setembro.
O payroll foi publicado um dia antes do normal devido ao feriado do Dia da Independência dos Estados Unidos, no 4 de julho. Os mercados norte-americanos estarão fechados a partir das 14h (horário de Brasília) desta quinta.
Para além da agenda de dados, as negociações tarifárias em andamento dos EUA com parceiros comerciais também estão em foco, já que o fim do prazo imposto pelo presidente Donald Trump se aproxima. Os países têm até a próxima quarta-feira, 9 de julho, para traçar acordos com os Estados Unidos, a fim de evitar a imposição de tarifas de importação mais altas. Passado o prazo, volta a incidir o tarifaço de 2 de abril.
Trump indicou na terça que não deve estender o período. Ao mesmo tempo, os acordos firmados durante os 90 dias de trégua ficaram aquém das expectativas.
“Tivemos um memorando mais formal de entendimento com o Reino Unido, que é muito restrito a alguns setores específicos, e uma trégua temporária com a China, que segue em negociação. Não tivemos grandes avanços, o que pode forçar Trump a estender o prazo”, diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Alguns dos principais funcionários de comércio do governo estão abaixando a régua para alcançar o máximo de acordos possível, segundo reportagem do Financial Times. Apesar do plano simbolizar um recuo da promessa da Casa Branca, que visava 90 acordos durante os 90 dias de trégua, ele também oferece a chance de alguns países fecharem entendimentos mais modestos e que podem ser melhor desenvolvidos depois.
A busca do governo Trump é por um “princípio de acordo” com alguns países que já estão com negociações adiantadas, disseram quatro pessoas familiarizadas com o assunto. Os que concordarem com essas tratativas serão poupados das tarifas mais severas, mas ficarão com a taxa existente de 10% enquanto as negociações sobre questões mais espinhosas continuam.
Já na cena doméstica, o IOF segue no centro das discussões. Apesar da resistência de uma ala do governo e do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu brigar na Justiça pela reativação do decreto, derrubado pelo Congresso Nacional na semana passada.
A AGU (Advocacia-Geral da União) protocolou uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) na terça-feira. A ideia é questionar a constitucionalidade da decisão do Congresso, com base na análise técnica e jurídica.
“A avaliação técnica dos nossos advogados, e que foi submetida ao senhor presidente da República, foi que a medida adotada pelo Congresso Nacional acabou por violar o princípio da separação de Poderes”, disse Jorge Messias, advogado-geral da União.
Redação / Folhapress
