SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dólar sobe a R$ 5,30 com apreensão de investidores sobre os juros dos EUA, R$ 1 bilhão para fazer chocolate e outros destaques do mercado nesta quinta-feira (6).
**DÓLAR A R$ 5,30**
A economia americana segue aquecida, mesmo com juros altos. E o resultado por aqui? Dólar no maior valor desde janeiro de 2023. Nesta quarta (5), a moeda valorizou 0,20%, cotada a R$ 5,296.
Dados do índice PMI mostraram que as empresas do setor de serviços estão expandindo a produção por lá.
ENTENDA
A onda de inflação que atingiu a maioria dos países depois da pandemia é combatida com juros altos que já caem nos países emergentes, mas ainda se mantêm nas alturas nos Estados Unidos enquanto a inflação não cede.
Essa resistência da economia americana aos juros altos deixou economistas renomados confusos, assim como o próprio banco central.
↳ Qualquer sinal de que a economia está mais aquecida do que deveria impede o banco central americano de começar os cortes.
↳ Aplicações financeiras deixam países emergentes e migram para os Estados Unidos, levando à alta do dólar generalizada.
Os juros nos Estados Unidos estão na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano. Na prática, eles são uma referência para as outras taxas do mundo e seguram os planos de países de baixarem as suas. Na Zona do Euro, os juros estão em 4%. No Brasil, em 10,50%.
↳ O Banco Central do Brasil citou os juros americanos como um fator-chave para determinar seus próximos movimentos.
DADOS DIVERGENTE
Enquanto o indicador PMI mostrou aquecimento da economia, dados do mercado de trabalho mais fraco que o esperado indicaram o contrário, o que ajudou a Bolsa americana.
Nesta sexta-feira, são esperados, porém, os números mais importantes: taxa de desemprego, contratações feitas e salários. Eles devem esclarecer as dúvidas.
REAL DESVALORIZADO
A alta da taxa de câmbio nas últimas semanas foi puxada pelo dólar, mas o Brasil também deu sua própria contribuição para ver o real desvalorizar. As incertezas com as contas públicas depois da mudança da meta de 2025 e 2026 contribuíram no preço. Relembre aqui.
**ESG PERDE ENCANTO**
Investidores globais estão virando as costas para fundos de ações com foco na sustentabilidade.
Clientes retiraram US$ 40 bilhões (R$ 211 bilhões) de fundos de ESG (sigla para práticas ambientais, sociais e de governança) até agora este ano, de acordo com pesquisa do banco Barclays.
As retiradas foram generalizadas nos principais mercados do mundo.
As saídas são uma reversão da tendência verde dos últimos anos no mercado financeiro, em que todo tipo de investimento foi lançado com a promessa de que a transição energética garantiria lucros.
OS PORQUÊS
Escândalos como o da gestora alemã DWS são um dos motivos por trás do desânimo dos investidores, além de retornos baixos.
A DWS foi multada em US$ 19 milhões (R$ 100 milhões) pela autoridade que regula o mercado financeiro dos Estados Unidos após acusações de greenwashing.
Greenwashing: prática em que um produto ou empresa são apresentados como mais sustentáveis do que de fato são. Entenda melhor aqui.
As gigantes BlackRock e State Street também sofreram pressão. Congressistas nos Estados Unidos acusaram as gestoras de fazer ativismo político com seus fundos.
↳ A reação de Larry Fink, CEO da BlackRock, foi de não usar mais o termo ESG. A empresa é a maior gestora de ativos do mundo. São US$ 10,5 trilhões (R$ 55,6 trilhões) sob gestão.
OS RETORNOS
Nos últimos 12 meses, os fundos de ações sustentáveis globais tiveram um retorno de 11%.
Para comparação, o retorno dos fundos de ações convencionais foi de 21%, de acordo com um relatório de maio do JPMorgan.
POR TRÁS DO BOOM
Conforme os países, principalmente na Europa, restringem os combustíveis fósseis e fortalecem o apoio a empresas com práticas sustentáveis, grandes investidores migraram investimentos em direção a projetos desse tipo. Outro fator que ajudou nesse ajuste de rota foi a mudança no comportamento dos consumidores, principalmente em gerações mais novas, que valorizam produtos sustentáveis.
**NVIDIA ULTRAPASSA APPLE**
O movimento positivo no mercado de ações dos Estados Unidos desta quarta-feira (5) levou o valor de mercado da fabricante de chips Nvidia a ultrapassar US$ 3 trilhões.
E mais: ela ultrapassou a Apple como segunda empresa mais valiosa do mundo, ficando atrás apenas da Microsoft.
Veja o ranking de valor de mercado:
1. Microsoft (US$ 3,1 trilhões, cerca de R$ 16,4 trilhões)
2. Nvidia (US$ 3,01 tri, cerca de R$ 15,96 tri)
3. Apple (US$ 3,00 tri, cerca de R$ 15,91 tri)
4. Alphabet (US$ 2,1 tri, cerca de R$ 11,1 tri)
5. Amazon (US$ 1,8 tri, cerca de R$ 9,5 tri)
NVIDIA EM NÚMEROS
– As ações já subiram 245% em um ano;
– A receita no último trimestre cresceu 262%, batendo US$ 28 bilhões (R$ 148 bilhões);
– Sozinha, a empresa impulsionou um terço dos ganhos da Bolsa americana neste ano.
ENTENDA
A demanda por chips disparou com a corrida das big techs para desenvolver a infraestrutura necessária para oferecer novos produtos de IA (Inteligência Artificial). Google, Microsoft, Meta e Amazon indicaram que seus investimentos permanecerão altos.
↳ Na edição de segunda-feira da FolhaMercado, expliquei quem é quem no segmento.
Bolha? A forte alta nas ações da empresa, assim como de todas as big techs, levantam dúvidas sobre um possível bolha na Bolsa.
↳ No caso da Nvidia, o preço da ação em US$ 1.224 (US$ 6.490) tem embutido uma expectativa de que os lucros sejam 42 vezes maiores do que são. No caso da Apple, o mesmo indicador é de 29 vezes.
↳ Parte dos analistas aponta que esse número nas alturas indica que ambas estão caras, com poucas chances de subir.
MAIS SOBRE A EMPRESA
Antes do boom de inteligência artificial, a Nvidia era conhecida principalmente em nichos de tecnologia, como um das principais fabricantes de placas de vídeo para videogames e programas com alta exigência de recursos gráficos. Foi fundada em 1993, na Califórnia.
AMD e Intel, outras empresas americanas do setor, apresentaram novos modelos de chips voltados para o mercado de inteligência artificial.
Uma das apostas da AMD é ser a principal fornecedora para computadores com processamento interno de IA, já anunciados por Microsoft, HP, Lenovo e Asus. A Dell, no entanto, está do outro lado, com a Nvidia como parceira.
**R$ 1 BILHÃO PARA PRODUZIR CHOCOLATE**
A Cacau Show quer ser autossuficiente em cacau e parar de depender de importações de sementes para produzir seus chocolates.
↳ Hoje, apenas 3% do cacau usado vem de produção brasileira.
↳ A empresa prevê o investimento de R$ 1 bilhão para chegar a 7.000 hectares de cacau em 10 anos.
Em 2024, a produção da Cacau Show será de 33 mil toneladas de chocolate. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o CEO Alexandre Costa afirma que cogita se associar a algum grupo do agronegócio para acelerar o plantio das árvores.
↳ A companhia está prospectando áreas no Espírito Santo, na Bahia e no Pará e quer encontrar um sócio no agronegócio para investir no segmento.
PREÇOS EM ALTA
A decisão do grupo é resultado em parte da disparada do preço internacional do cacau. Problemas de fornecimento em países da África levaram à escassez de oferta.
Em abril, os preços atingiram o recorde de US$ 11,4 mil por tonelada, ultrapassando o preço do cobre, mas recuam desde então.
A atuação de especuladores do mercado, que ganhavam ao apostar em altas atrás de altas, também contribuiu para os preços recordes.
RETOMADA
A decisão de investimento da Cacau Show reforça a recuperação pela qual o plantio do fruto passa no Brasil.
O país já foi o segundo maior produtor de cacau do mundo, quando produzia 400 toneladas por ano. Hoje, são 220. Ainda está abaixo do pico, mas com resultado em ritmo de melhora nos últimos anos.
A queda no ranking aconteceu principalmente devido à praga vassoura de bruxa no estado da Bahia. O Ministério da Agricultura tem planos de incentivo ao plantio.
NA AMAZÔNIA
Hoje, a floresta amazônica, de onde o cacau é nativo, volta a ser foco dos produtores, de todos os tamanhos.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
CONGRESSO NACIONAL
Senado aprova, sem contagem de votos, ‘taxa das blusinhas’ de 20%. Visto como impopular por políticos, texto volta para a Câmara, onde foi votado por meio de acordo.
MERCADO
Morre Roberto Müller Filho, uma das referências do jornalismo econômico no Brasil. Após iniciar carreira na Folha de S.Paulo, liderou uma geração de profissionais no jornal Gazeta Mercantil.
G7
Às vésperas do G7, Itália esfria apoio à taxa de Haddad sobre super-ricos. Em encontro com ministro italiano, chefe da Fazenda ouve que decisões do tipo são difíceis na UE.
VICTOR SENA / Folhapress