Dólar sobe e Bolsa cai após decisões de juros do Brasil e dos Estados Unidos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta nesta quinta-feira (20), com decisões de juros do Copom (Comitê de Política Monetária) e do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) ainda em foco.

Às 12h43, a moeda norte-americana subia 0,41% e estava cotada a R$ 5,671, seguindo a tendência de valorização no exterior. Já a Bolsa tinha perdas de 0,23%, a 132.192 pontos.

O comitê do BC (Banco Central) cumpriu com a indicação das reuniões anteriores e aumentou a taxa básica de juros do país, a Selic, em um ponto percentual, de 13,25% para 14,25% ao ano. É o mesmo nível atingido durante a crise do governo de Dilma Rousseff (PT).

A decisão foi unânime. No comunicado, o comitê sinalizou que os juros vão continuar subindo na próxima reunião, em maio, e que pretende fazer uma nova alta de menor intensidade. Apesar disso, evitou se comprometer com um ritmo específico de ajuste.

Como justificativa, o Copom citou a continuidade do “cenário adverso” para a convergência da inflação, a elevada incerteza e as defasagens do efeito da política de juros sobre a economia.

Desde o início do ciclo de alta de juros, em setembro de 2024, já foram cinco aumentos consecutivos.

Para especialistas consultados pela reportagem, a próxima elevação deve ser de 0,50 ponto percentual —desde janeiro, o boletim Focus estima que a Selic atinja 15% em 2025.

“O Comitê optou por colocar uma sinalização futura, indicando que fará uma alta de menor magnitude em maio e que para após a decisão de maio, seu ritmo de altas vai ser definido pela convergência das expectativas inflacionárias”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

“Essa perspectiva de que o Brasil terá aumento de juros na decisão de maio deve contribuir para a ampliação do diferencial de juros brasileiro.”

Quanto maior a diferença entre os juros daqui e os dos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” —quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros

No entanto, a potencial força do real está sendo ofuscada pelo avanço da moeda norte-americana no exterior, onde agentes financeiros ainda reagem à decisão de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) na véspera.

A autoridade monetária decidiu manter a taxa de juros na faixa de 4,25% e 4,50%, no que foi a segunda manutenção consecutiva. A decisão, já esperada pelo mercado, ocorre em meio a temores de uma recessão, influenciados pelas políticas voláteis dos primeiros dois meses do novo mandato de Donald Trump.

No comunicado, os dirigentes do Fed afirmaram que as incertezas sobre o cenário econômico cresceram, mas que os objetivos seguem sendo atingir o pleno emprego e convergir a inflação à meta de 2%. O “dot plot”, no entanto, mostrou que as políticas de Trump já começaram a entrar na conta dos membros do comitê.

O documento que apresenta as projeções dos dirigentes para a economia trouxe uma diminuição nas expectativas de crescimento do PIB este ano, de 2,1% para 1,7%. As de inflação, por outro lado, cresceram de 2,5% para 2,7%.

O dot plot informou, ainda, que os oficiais do Fed esperam uma redução total de 0,50 ponto percentual até o final do ano.

“É uma postura cautelosa diante das incertezas econômicas geradas pelas políticas do governo Trump, como tarifas comerciais e alterações no gasto público”, diz José Cassiolato, sócio da RGW Investimentos.

O presidente norte-americano impôs tarifas sobre importações chinesas e compras de aço e alumínio —com ameaças de mais taxas à frente—, intensificou o controle da imigração e iniciou um processo de demissões em massa de funcionários do governo federal.

Para economistas ouvidos pelo Financial Times, a incerteza em torno das tarifas de Trump complicou a tarefa do Fed em enviar uma mensagem clara sobre a direção da economia. Nos últimos anos, o banco vem insistindo que é “dependente de dados” e se concentra mais nos últimos números de inflação e crescimento, em vez de modelar o futuro.

Alguns economistas, no entanto, temem que a dependência de dados retrospectivos coloque o Fed em desvantagem em um ambiente de crescente incerteza política e econômica, especialmente porque as pressões de preços induzidas por tarifas podem demorar para se refletir nos dados.

Segundo economistas, as medidas de Trump elevar os preços de uma série de produtos e provocar incertezas nos consumidores e empresários, que segurariam gastos e investimentos. O cenário desenhado é de uma “estagflação”, isto é, quando a inflação está elevada e a economia não cresce.

Em entrevista coletiva após a decisão, Jerome Powell, presidente do Fed, avaliou que é “muito cedo para ver efeitos significativos das tarifas”, mas que “o progresso na inflação pode ser adiado por causa delas” e que “boa parte das projeções de alta derivam da política tarifária”.

Redação / Folhapress

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