Dólar sobe e Bolsa cai com mercado à espera de dados de inflação do Brasil e dos EUA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta nesta segunda-feira (23), engatando uma semana de divulgações importantes para os mercados, em especial os dados de inflação do Brasil e dos Estados Unidos.

Às 10h13, a moeda subia 0,46%, a R$ 5,545, encerrando a “euforia” da semana passada causada pelas decisões dos bancos centrais brasileiro e americano. Já a Bolsa caía 0,66%, aos 130.305 pontos, estendo as perdas dos últimos pregões.

Na sexta-feira, o dólar disparou 1,78%, a R$ 5,519, e a Bolsa fechou em forte queda de 1,55%, a 131.065 pontos.

O dia foi de uma série de estímulos que reduziram o apetite por investimentos no Brasil.

Após uma semana marcada pelas decisões de juros do BC (Banco Central) e do Fed (Federal Reserve, a autoridade americana), o dólar engatou em um movimento global de recomposição de perdas.

Só em relação ao real, a moeda americana havia acumulado mais de 2% de queda até sexta-feira, diante da perspectiva —e, depois, da confirmação— do aumento do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos.

Aqui, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, citando resiliência da economia brasileira. Já o Fed realizou o primeiro corte nas taxas desde 2020, num afrouxamento de 0,50 ponto após temores de desaceleração do mercado de trabalho. Os juros americanos agora estão na banda de 4,75% e 5%.

O aumento do diferencial de juros favorece investimentos de “carry trade” —isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas para maior rentabilização.

Com a perda do impulso inicial, é “natural que a moeda americana entre em correção técnica”, explica Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital.

O movimento de valorização foi global na sexta: o índice do dólar —que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas— subiu 0,10%, a 100,72.

A disparada, porém, não foi tão forte em outros mercados como foi aqui. “Há questões de fundo: uma inflação brasileira persistentemente mais alta, que pressiona os juros, e os riscos fiscais, que são muito importantes na avaliação do mercado e serão ainda maiores em 2025”, diz André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.

Na decisão de quarta-feira, o Copom deixou os próximos passos em aberto e evitou se comprometer com a intensidade e com o tamanho do ciclo de alta de juros. Especialistas ouvidos pela Folha, porém, preevem que a Selic deve entrar em 2025 a 11% e permanecer neste patamar por um bom tempo.

As projeções de alta deram força às curvas de juros futuros, sobretudo de curto e médio prazo, o que derrubou ações mais sensíveis à economia doméstica, como Magazine Luiza, Lojas Renner e MRV. Ao todo, apenas oito papéis fecharam no positivo.

O risco fiscal ainda aprofundou a aversão ao risco dos investidores. O governo brasileiro apresentou o relatório bimestral de receitas e despesas, o que acendeu temores sobre o cumprimento das metas propostas pelo arcabouço.

O governo anunciou nesta sexta-feira a liberação de R$ 1,7 bilhão, antes congelado no Orçamento de 2024.

Embora tenha havido um aumento nos gastos obrigatórios, a melhora na projeção de receitas permitiu desbloquear outras despesas que estavam travadas para cumprir a meta fiscal, que é de déficit zero neste ano. O saldo final dessa combinação de fatores foi positivo para o governo.

Segundo o Ministério do Planejamento, houve um bloqueio adicional de R$ 2,1 bilhões em gastos para compensar o crescimento das despesas obrigatórias e evitar o estouro do limite do novo arcabouço fiscal.

Por outro lado, a melhora das receitas permitiu reverter integralmente o contingenciamento de R$ 3,8 bilhões feito em julho. O instrumento é usado para conter gastos quando outra regra fiscal está em risco —neste caso, a meta de resultado primário.

Os números serão detalhados em entrevista coletiva nesta segunda-feira. O relatório “pode ser determinante para o resultado fiscal de 2024”, afirma Galhardo, do Remessa Online.

“O governo tem trabalhado muito na questão de trazer mais receitas extraordinárias, o que mostra empenho em cumprir com o que está disposto no arcabouço fiscal, mas também a dificuldade de fazer o ajuste pelo lado da despesa”, explica.

Em projeção enviada ao Congresso nesta manhã, o governo Lula (PT) ainda vai abrir mão de arrecadar R$ 543,7 bilhões em 2025 com a concessão de benefícios tributários a empresas e pessoas físicas. O montante representa um aumento de R$ 20 bilhões em relação ao valor estimado de renúncias neste ano.

Na contramão do tamanho da renúncia de impostos, o governo previu que dependerá de R$ 166 bilhões de receitas extras para fechar a peça orçamentária com déficit zero estabelecido como meta fiscal para o ano que vem.

Os temores com as contas públicas ainda “trazem muita volatilidade ao mercado, o que se reflete em ruído no câmbio”, diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.

Redação / Folhapress

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