Dólar sobe e Bolsa cai com pressão dos EUA e do mercado de commodities

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta nesta quarta-feira (23), com o mercado atento às eleições presidenciais dos Estados Unidos e repercutindo as projeções de cortes de juros mais graduais pelo Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano).

Às 14h09, a moeda subia 0,20%, cotada a R$ 5,708, em movimento global de valorização. Já a Bolsa caía 0,65%, aos 129.100 pontos, com pressão da Vale e da Petrobras.

A expectativa pelo fim da corrida pela Casa Branca está instalada nos mercados globais. No próximo 5 de novembro, a disputa entre Donald Trump e Kamala Harris estará definida —assim como a agenda econômica que irá pautar os Estados Unidos pelos próximos quatro anos.

Nos últimos dias, as apostas de que o ex-presidente Donald Trump poderá ganhar a eleição têm aumentado de forma significativa na plataforma Polymarket, ferramenta utilizada pelos investidores para observar a dinâmica do pleito.

Agora, as chances de um retorno de Trump à Casa Branca eram de 64%, e as de uma vitória da atual vice-presidente marcavam 36%.

A possibilidade de uma vitória do candidato republicano fazia o mercado projetar os efeitos das propostas dele na economia. Entre as promessas mais alardeadas, Trump diz que, caso eleito, irá aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA e em pelo menos 60% sobre as da China.

As propostas de aumento tarifário e corte de impostos são consideradas inflacionárias, o que, na política monetária, significa juros altos por mais tempo —algo positivo para o dólar.

“O debate sobre a eleição dos EUA está ficando cada vez mais aquecido. Há muita apreensão sobre o vencedor. Trump tem ganhado espaço nas pesquisas e uma política protecionista e expansionista fortalecem o dólar”, afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

“O dia é de aversão ao risco a nível global.”

As projeções para as eleições presidenciais se somavam às expectativas dos investidores sobre os próximos passos do Fed, que se reúne nos dias 5 e 6 de novembro para decidir sobre os juros americanos.

Os investidores esperam cortes mais graduais a partir do próximo encontro. Dados recentes têm mostrado uma economia norte-americana mais forte do que o esperado anteriormente, com destaque para o mercado de trabalho e o consumo.

Na ferramenta Fed Watch, do CME, uma redução de 0,25 ponto percentual tinha 90,9% de probabilidade, e a manutenção da taxa na banda atual de 4,75% e 5% reunia os 9,1% restantes.

Juros altos por mais tempo no país elevam os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, o que torna o dólar mais atrativo para investidores estrangeiros.

A aversão ao risco ainda tinha endosso da queda de commodities importantes no mercado global. Na Bolsa de Dalian, o minério de ferro caiu 1,91%, refletindo temores de demanda fraca e de recuperação lenta da economia da China.

O petróleo Brent, por sua vez, tinha queda de 1,56%, com operadores à espera de mais desdobramentos dos conflitos do Oriente Médio.

Na Bolsa brasileira, isso se refletia em pressão para as ações da Vale e da Petrobras, as duas empresas de maior peso no índice. A mineradora tinha queda de 1,45%; a petroleira, de 1,13%.

Ainda na cena doméstica, investidores seguiam ressabiados com a política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em relatório divulgado nesta quarta, o FMI (Fundo Monetário Internacional) piorou a projeção para o déficit primário e para a trajetória da dívida pública da economia brasileira nos próximos anos.

O fundo adiou a previsão de equilíbrio das contas do governo em um ano a despeito de uma ligeira melhora para o déficit de 2024, que saiu de 0,6% para 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto).

No último Monitor Fiscal, divulgado em abril, a estimativa de déficit era de 0,3% para 2025 e um equilíbrio nas contas públicas, com déficit zero, a partir de 2026. Agora, o FMI projeta resultado negativo de 0,7% e 0,6%, respectivamente, com o equilíbrio ficando para 2027.

O relatório segue a esteira dos dados de arrecadação da Receita Federal, que atingiu R$ 203,17 bilhões em setembro —um aumento real de 11,61% em comparação ao mesmo período de 2023. Esse resultado representa um novo recorde para o mês, superando as expectativas do mercado.

“Embora o resultado da arrecadação tenha sido acima do esperado, o mercado está sob pressão do risco fiscal. A forte arrecadação não é suficiente para reverter a trajetória de aumento da dívida pública e dos gastos. Com a previsão de desaceleração econômica, a arrecadação futura pode ser impactada, o que preocupa os investidores”, explica Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

A dinâmica fiscal e dados econômicos, além disso, mantêm os receios sobre potenciais pressões inflacionárias e manutenção da taxa Selic em patamares elevados, o que mina o apetite por ações.

E, ainda que a arrecadação tenha sido recorde, o mercado espera ajustes na ponta da despesas, na expectativa por equilíbrio fiscal de longo prazo.

Planos de corte de gastos, anunciados na semana passada pela ministra Simone Tebet (Planejamento) e pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), devem ser detalhados após o segundo turno das eleições presidenciais, em 27 de outubro.

Redação / Folhapress

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