Dólar sobe e Bolsa oscila, com foco em pressões externas e contas públicas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta nesta quarta-feira (16), à medida que os mercados emergentes seguem sensíveis às perspectivas econômicas da China e ao risco de acirramento dos conflitos geopolíticos no Oriente Médio.

Na cena doméstica, os investidores ainda avaliavam o cenário das contas públicas, após a ministra Simone Tebet (Planejamento) confirmar planos de corte de gastos após as eleições municipais.

Às 11h20, a moeda norte-americana avançava 0,25%, a R$ 5,675, apagando as perdas de mais cedo e estendendo a forte alta da véspera. Já a Bolsa subia 0,03%, aos 131.084 pontos, sem firmar no positivo ou no negativo desde o início do pregão.

Em dia de agenda esvaziada, os investidores se voltavam para o exterior.

O principal fator de pressão aos mercados emergentes tem sido o desempenho de commodities como o minério de ferro e o petróleo, sensíveis ao desenrolar dos planos econômicos da China e dos conflitos do Oriente Médio.

Na terça, reportagem da publicação chinesa Caixin Global apontou que a China pode levantar mais 6 trilhões de iuanes (US$ 850 bilhões) com títulos especiais do Tesouro ao longo de três anos para estimular o crescimento econômico.

A matéria, feita com fontes internas, sucede a entrevista coletiva de Lan Fo’an, o ministro das Finanças chinês, no sábado. Sem detalhar números, ele disse que Pequim “aumentará significativamente” a dívida pública para injetar estímulos na economia, sobretudo para o mercado imobiliário, setor bancário e governos locais.

O número divulgado pela Caixin não foi o suficiente para reanimar investidores, já decepcionados pela ausência de detalhes sobre o tamanho e o cronograma das medidas fiscais. As atenções se voltam a uma nova entrevista coletiva do governo chinês, prevista para quinta-feira, com investidores na expectativa por medidas de estímulo para o setor imobiliário.

A intensidade do pacote tem sido objeto de especulação nos mercados financeiros desde que foi anunciado, há cerca de três semanas. De lá para cá, as ações chinesas atingiram o maior nível em dois anos, até recuarem novamente na ausência de informações oficiais.

O sentimento de decepção tem se espalhado no mercado de commodities, afetando a atratividade de países exportadores, como o Brasil, para investidores estrangeiros. Só nesta sessão, o minério de ferro caiu quase 2% com perspectivas de oferta global firme e demanda chinesa fraca.

Apesar de penalizarem o câmbio brasileiro, os efeitos não eram só negativos. Isso porque o minério de ferro reagiu a notícias da Vale, uma das maiores produtoras da commodity do mundo.

Ontem à noite, a mineradora reportou aumento de 5,5% na produção do minério no terceiro trimestre deste ano em comparação a 2023. Trata-se do volume mais alto em quase seis anos.

“As expectativas são de que os principais exportadores indiquem que as recentes interrupções no fornecimento já passaram e as perspectivas de novos ganhos são fortes”, disseram os analistas do ANZ em nota. Com isso, a Vale subia mais de 1% neste pregão, contrabalançando as outras pressões do Ibovespa.

Já em relação ao Oriente Médio, uma reportagem do The Washington Post informou que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, teria dito aos Estados Unidos que está disposto a atacar alvos militares iranianos, e não alvos nucleares ou petrolíferos.

A notícia acalmou preocupações em relação a um possível distúrbio no fornecimento de petróleo da região. Com temores de oferta arrefecidos, os preços do barril do Brent, referência do exterior, entraram em movimento de correção e despencaram mais de 4% na terça-feira, afetando países exportadores da commodity, como o Brasil.

“Estamos vendo um desmantelamento do prêmio de guerra que construímos na semana passada”, disse Phil Flynn, analista sênior do Price Futures Group. “O que estamos vendo não é realmente sobre oferta, é sobre o risco para oferta e demanda.”

As perdas seguiam nesta quarta, ainda que de forma moderada, a 0,27%. A cautela também permanecia e afetava o real, tendo em vista que o Brasil é um grande exportador de petróleo.

A pressão ainda vinha dos Estados Unidos. “As moedas emergentes vêm sofrendo um bocado, ainda com dúvidas perante a solidez da economia chinesa… E em breve teremos as eleições norte-americanas, que por sinal, no momento, mostram uma grande chance de Donald Trump vencer, o que pode acabar dificultando ainda mais o cenário para essas moedas”, disse Marcio Riauba, gerente da mesa de operações de câmbio da StoneX.

Já na cena doméstica, os investidores ainda avaliavam notícias de que o governo federal prepara um medidas de contenção de gastos após o segundo turno das eleições municipais, em 27 de outubro.

A ministra Simone Tebet afirmou ontem que “chegou a hora para levar a sério” uma revisão de gastos estruturais no Brasil. Após reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ela disse que o plano da equipe econômica é endereçar uma série de medidas em três pacotes.

“Nós estamos muito otimistas que esse pacote terá condições de avançar na mesa do presidente”, disse Tebet. As propostas que serão enviadas a Lula, esclareceu, já passaram pelo crivo da equipe econômica.

A ministra não forneceu detalhes sobre quais medidas irão compor a revisão de gastos. Ela afirmou, no entanto, que uma das propostas analisadas teria potencial de aumentar o espaço fiscal em até R$ 20 bilhões.

O mercado, porém, seguia ressabiado. “A gente realmente não vai mais comprar essa tese (de contenção de gastos) enquanto não ver isso aprovado. O cenário político não é tão tranquilo para fazer essas aprovações”, disse Diego Faust, operador de renda variável da Manchester.

Impactos da incerteza fiscal eram observados também na curva de juros brasileira, com os contratos futuros subindo de forma sólida nesta sessão.

Redação / Folhapress

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