SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar avançava nos primeiros negócios desta quarta-feira (22), com as expectativas do mercado voltadas à publicação da ata do último encontro do Fed (Federal Reserve), o banco central dos Estados Unidos.
Às 9h20, a moeda norte-americana subia 0,53%, a cotada a R$ 5,143 reais na venda.
Os investidores aguardavam os detalhes da reunião de política monetária do Fed, que, no início de maio, optou manter os juros inalterados na faixa de 5,25% a 5,50%. A expectativa é que, no documento, as autoridades do banco central norte-americano comecem a dar mais pistas sobre a trajetória da taxa básica de juros do país, referência para os mercados globais.
Na decisão de maio, a autarquia sinalizou que ainda está inclinada a eventuais cortes, mas avaliou que as leituras de inflação até aquele momento eram decepcionantes.
Desde então, em falas separadas na última semana, dirigentes demonstraram cautela com a inflação. Eles reconheceram uma virada positiva depois que números mostraram que os preços ao consumidor nos EUA subiram menos que o esperado em abril, mas a desaceleração não foi o suficiente para que começassem a antever um corte concreto nas próximas reuniões.
O clima externo, porém, é de otimismo: os investidores preveem uma probabilidade de quase 65% de que o Fed reduzirá os juros em pelo menos 0,25 ponto percentual em setembro, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME.
Na véspera, o dólar subiu 0,23%, cotado a R$ 5,116. O Ibovespa perdeu 0,27%, a 127.411 pontos.
Além da expectativa em torno do Fed, o movimento dos mercados foi embalado por discussões sobre a política monetária doméstica, conforme crescem as apostas de uma taxa Selic mais alta do que o previsto ao final de 2024.
Divulgado na manhã de segunda-feira, o Boletim Focus passou a projetar que a taxa básica de juros feche o ano em 10% um aumento de 0,25 p.p. (ponto percentual) em relação à estimativa anterior, de 9,75%. Essa foi a terceira semana consecutiva em que economistas consultados pelo BC (Banco Central) ajustaram as expectativas para cima.
O movimento segue a esteira de declarações recentes de diretores da autarquia, que, na ata da última reunião, concordaram em retirar a orientação futura para os próximos encontros, chamado no jargão econômico de “forward guidance”, diante de um cenário de maior incerteza na economia brasileira e global.
No encontro do início de maio, o Copom (Comitê de Política Monetária) optou por reduzir a Selic em 0,25 p.p., após seis cortes consecutivos de 0,5 ponto. O presidente da instituição, Roberto Campos Neto, ainda disse em entrevista na semana passada que não pode antecipar novas reduções, sob o argumento de que a autarquia precisa “de tempo, serenidade e calma para saber como as variáveis vão se desenrolar”.
O relatório Focus levou até à possibilidade de o BC voltar a elevar a taxa Selic, o que “puxaria nosso diferencial de juros e favoreceria fortemente o real”, avalia Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Em geral, quanto mais o Federal Reserve cortar os juros e menos o BC afrouxar a Selic, melhor para o real. Isso porque, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e EUA, mais interessante fica a moeda doméstica para uso em estratégias de “carry trade”, em que investidores tomam empréstimo em país de taxas baixas e aplicam esse dinheiro em mercado mais rentável.
Na cena doméstica, o destaque positivo foi a YDUQS, que saltou 10,22%, tendo no radar previsão de lucro líquido ajustado por ação entre R$ 1,6 e R$ 1,9 em 2024, segundo fato relevante ao mercado.
A companhia também projetou que, em 2025, o resultado líquido ajustado será de entre R$ 2 e R$ 3 por ação, enquanto a previsão para o ano seguinte é de entre R$ 2,5 e R$ 3,5.
Vale caiu 0,29%, apesar da nova alta dos futuros do minério de ferro na China. Petrobras também recuou: os preferenciais perderam 0,19%; os ordinários, 0,75%.
Destaque negativo foi a Suzano, que perdeu 3,72%, após notícias de que a companhia teria discutido a possibilidade de melhorar a oferta de aquisição da International Paper de US$ 15 bilhões.
Lojas Renner recuou 3,95%, tendo de pano de fundo relatório de analistas da XP cortando a recomendação dos papéis para “neutra”, com preço-alvo de R$ 18, diante da avaliação de que o clima e o macro serão obstáculos para o crescimento e expansão de margem da companhia, com o segundo trimestre sendo um potencial gatilho para uma revisão negativa no lucro.
Redação / Folhapress