Dólar sobe para R$ 5,4478 nesta segunda, mas termina setembro em queda

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta nesta segunda-feira (30), com os investidores aguardando o relatório de emprego de setembro dos Estados Unidos, que será publicado na sexta (4), e repercutindo o discurso do presidente do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) desta tarde, a fim de projetar a trajetória dos juros nos EUA.

A moeda norte-americana terminou o plantão com ganho de 0,21%, a R$ 5,4478, após abrir a sessão em queda. O Ibovespa recuou 0,68%, a 131.816 pontos.

No mês de setembro, marcado pela alta de juros no Brasil e queda nos EUA, o dólar acumulou uma desvalorização de 3,28%. No mesmo período, o Ibovespa cedeu 3,08%.

Em seu discurso desta segunda, Jerome Powell disse que prevê mais dois cortes nas taxas de juros dos EUA, totalizando 50 pontos-base, este ano, “se a economia tiver o desempenho esperado”, disse o presidente do Fed, que ainda deixou aberto a velocidade dos cortes.

Ele afirmou ainda que as recentes revisões dos dados sobre crescimento econômico, taxas de poupança e renda pessoal eliminaram alguns “riscos negativos” nos quais o Fed vinha se concentrando. “Isso ajuda na margem, mas não vai nos impedir de analisar o mercado de trabalho.”

Contribui para a alta do dólar a formação da Ptax de fim de mês. A Ptax é a taxa de câmbio calculada pelo BC com base nas cotações do mercado à vista serve de referência para a liquidação de contratos futuros referentes a este mês.

“Toda vez que é fim de mês, a formação desta taxa acaba trazendo um volume mais elevado de negócios, e uma volatilidade maior também, visto que os agentes acabam tentando influenciar a sua direção, influenciar a sua formação”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

Na sexta-feira (27), o dólar fechou em queda de 0,15%, a R$ 5,436, e a Bolsa recuou 0,21%, a 132.730 pontos.

Na sexta, a sessão foi embalada pela divulgação de dados de inflação dos Estados Unidos e pelo anúncio de novas medidas de estímulo à economia da China.

Indicador de inflação mais monitorado pelo Fed, o PCE teve alta de 0,1% em agosto -uma desaceleração em relação ao resultado de julho, de 0,2%.

No acumulado de 12 meses, o índice ficou em 2,2%, após marcar 2,5% no mês anterior. Já no núcleo do PCE, que exclui os componentes voláteis de alimentos e energia, a alta foi de 0,1%, ante projeção de 0,2%.

O BC americano trabalha com um mandato duplo, isto é, olha de perto os dados de inflação e do mercado de trabalho para decidir sobre juros. Enquanto os índices inflacionários têm mostrado uma convergência gradual à meta anual de 2%, os números de emprego têm desacelerado a cada nova leitura.

Na última decisão de política monetária, no dia 18 de setembro, a autoridade americana fez o primeiro corte nos juros em mais de quatro anos, com uma redução de 0,50 ponto percentual. A taxa agora está na faixa de 4,75% e 5% -e a expectativa do mercado é que o ciclo de alívio se sustente pelas próximas reuniões.

O ritmo dos próximos cortes, porém, está dependente dos números da economia americana. Com o PCE de agosto, as apostas de um afrouxamento maior, de 0,50 ponto, passaram a reunir 52,1% dos operadores na ferramenta CME Fed Watch. As de um corte menor, de 0,25 ponto, concentram os 47,9% restantes.

“O resultado deu sinais de que a inflação está controlada nos EUA, o que reforçou a expectativa de cortes mais agressivos nas taxas de juros pelo Fed”, afirma Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.

O dólar costuma se depreciar à medida que os juros nos Estados Unidos caem, conforme o rendimento dos ativos ligados à renda fixa americana se depreciam. Isso leva operadores a investimentos de maior risco, como moedas emergentes e mercados acionários, pela possibilidade de rentabilidade maior.

O pacote de estímulos anunciado pela China na semana passada ainda impulsionou a desvalorização do dólar globalmente.

No Brasil, porém, a indícios de aceleração da inflação e preocupações com as contas públicas impedem ganhos do real.

O IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado), conhecido como a “inflação do aluguel”, acelerou a 0,62% em setembro, depois de ter avançado 0,29% no mês anterior, informou a FGV (Fundação Getulio Vargas).

A expectativa de analistas era de que a alta fosse de 0,47%. Com o resultado, o acumulado de 12 meses bateu 4,53%.

Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego brasileira continuou em trajetória de baixa e recuou a 6,6% no trimestre encerrado em agosto, mostrou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam o dado em 6,7%.

“Os dados mostram que a economia brasileira está aquecida e, ao mesmo tempo, que teremos mais pressão na inflação. Será inevitável o Banco Central subir os juros”, avalia João Kepler, CEO da Equity Fund Group.

A bateria de divulgações chegou em um momento de preocupações renovadas do mercado em relação ao compromisso do governo com o ajuste das contas públicas.

A agência de classificação de risco, Fitch Ratings, afirmou na quinta-feira que a política fiscal atual do Brasil e seus efeitos não estão acompanhando o forte desempenho da economia nacional e que os desafios para o governo federal devem persistir e crescer no próximo ano.

Em evento na sexta, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ainda condicionou uma taxa de juros mais baixa à política fiscal.

“Em todos os momentos na história recente brasileira, você ser capaz de cair os juros e conviver com os juros mais baixos está associado a um choque positivo no fiscal. Não existe harmonia monetária sem ter harmonia fiscal. Isso é importante”, disse, durante o 1618 Spring Investment Meeting, em São Paulo.

No início da sessão, o dólar chegou a acumular perdas ante a moeda brasileira diante de um cenário positivo no exterior, com divisas de países emergentes ainda aproveitando do impulso fornecido pelo anúncio de um pacote de medidas de estímulo pela China, maior importador de matérias-primas do planeta.

Nesse sentido, a moeda norte-americana atingiu a mínima da sessão ante o real às 9h10 (-0,62%), acompanhando as perdas frente ao peso mexicano, o peso chileno e o peso colombiano.

A direção da moeda brasileira, no entanto, começou a mudar a partir das 10h, sob efeito de influências internas e externas.

No exterior, a moeda norte-americana se recuperou das perdas de mais cedo, principalmente revertendo a queda ante o euro, após comentários da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, que fomentaram apostas de corte de juros pelo banco na reunião de outubro.

Lagarde afirmou que o BCE está cada vez mais confiante de que a inflação da zona do euro retornará à meta de 2% e isso deve se refletir na decisão de outubro.

O índice do dólar, que mede a moeda em relação a uma cesta de pares, subia 0,14%, para 100,57.

Redação / Folhapress

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