SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registrou queda de 1,72% e voltou aos R$ 5,568 nesta quarta-feira (3), em meio a um movimento global de baixa da moeda americana que foi reforçado no Brasil por falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre as contas públicas do país.
Nesta tarde, Lula disse que gasta quando é necessário e que não joga dinheiro fora. Além disso, afirmou que responsabilidade fiscal é compromisso, não palavra.
“Aqui nesse governo a gente aplica dinheiro necessário, gasto com edução e saúde quando é necessário, mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é palavra, é compromisso desse governo desde 2003 e a gente manterá ele à risca” disse Lula, em discurso no lançamento do Plano Safra Agricultura Familiar, no Palácio do Planalto.
Já Haddad afirmou, durante reunião do Conselho da Federação, no Palácio do Planalto, que ainda há pendências nas negociações da dívida com os estados, mas que espera conclui-las até o fim de julho. Ele mencionou quatro possíveis saídas sugeridas pela Fazenda, mas disse que os temas estão em aberto e evitou entrar em detalhes sobre as negociações.
O ministro da Fazenda disse, ainda, que a diretoria do Banco Central tem autonomia para atuar no câmbio.
“A diretoria lá [do BC] tem autonomia para atuar como entender conveniente. Não existe outra orientação”, afirmou Haddad.
Logo após as declarações, o dólar renovou as mínimas da sessão e chegou à R$ 5,5406.
Agora, a expectativa do mercado recai sobre as definições da reunião de Lula com a equipe econômica realizada nesta quarta.
No exterior, a maior parte das divisas também apresenta valorização ante a moeda americana, após a divulgação de dados de emprego mais fracos que o esperado nos EUA. O real, no entanto, teve o melhor desempenho entre as principais moedas globais ante o dólar nesta terça.
Na Bolsa, o dia foi de alta, com apoio principalmente das ações da Vale, a empresa de maior peso do Ibovespa, que subiu mais de 2%. O alívio nas curvas de juros futuros locais também impulsionou o índice, que fechou com avanço de 0,70%, aos 125.661 pontos, segundo dados preliminares.
“As falas do governo foram mais apaziguadoras, e isso ajuda a capturar o otimismo do mercado internacional, algo que a gente não conseguiu fazer nos últimos meses. Só de [LULA] adotar um tom um pouco mais conciliador, sem atacar a independência do Banco Central, falar em responsabilidade fiscal, falar em compromisso com o arcabouço, já dá um gostinho do quanto a nossa Bolsa está subcomprada”, afirma Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.
Nos últimos 60 dias, nos meses de junho e julho, Lula fez ao menos 14 comentários públicos sobre política fiscal e monetária, em 10 diferentes dias. Criticou a autonomia do Banco Central, atacou o presidente da autarquia e colocou em dúvida a intenção do governo de cortar gastos, entre outros assuntos que afetam o humor do mercado.
Os comentários de Lula vêm sendo apontados por profissionais do mercado como um dos principais motivos para que o dólar tenha disparado ante o real e a curva de juros esteja em forte alta no Brasil nas últimas semanas. Em 2024, a moeda norte-americana acumula elevação superior a 14%.
Nos EUA, dados divulgados nesta manhã mostraram que foram abertas 150 mil vagas de emprego no setor privado no mês passado, depois de 157 mil em maio, em dado revisado, conforme o relatório da ADP. Economistas consultados pela Reuters previam criação de 160 mil vagas.
Já os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA atingiram 238 mil na semana passada, ante estimativa de 235 mil.
Os novos números fortaleceram a tese de desaceleração da economia americana e deram otimismo ao mercado sobre o início do ciclo de corte de juros nos EUA, também contribuindo para a queda global do dólar nesta quarta.
Redação / Folhapress