SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta firme nesta sexta-feira (1°), acima dos R$ 5,80, com dados fracos de emprego dos Estados Unidos e a proximidade do fim das eleições presidenciais do país sob os holofotes.
Além disso, por aqui, temores de investidores com as contas públicas ainda são fatores de pressão.
Às 12h05, a moeda norte-americana subia 0,70%, a R$ 5,822, em sessão marcada por alta volatilidade. Esse é o maior patamar para a divisa desde o início da pandemia: no fechamento de 14 de maio de 2020, estava cotada em R$ 5,823.
Já a Bolsa caía 0,57%, aos 128.964 pontos.
O relatório “payroll” (folha de pagamento, em inglês) apontou que 12 mil postos de trabalho foram criados no mês de outubro, ante 254 mil no mês anterior. A expectativa de analistas consultados pela Reuters era de 113 mil novas vagas.
Por outro lado, o relatório também mostrou que a taxa de desemprego nos EUA se manteve em 4,1% no mês, exatamente em linha com o esperado.
A forte desaceleração, segundo especialistas, foi causada por furacões recentes, como o Milton, e greves trabalhistas em especial a paralisação na Boeing, o que dificulta uma interpretação mais acertada sobre o significado dos dados desta sexta.
A leitura, apesar disso, é de que o mercado de trabalho está, de fato, mais enfraquecido do que se achava anteriormente, e os agentes financeiros passaram a precificar o peso do relatório sobre a decisão de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) da semana que vem, marcada para 5 e 6 de novembro.
Na ferramenta CME Fed Watch, a probabilidade da autoridade monetária continuar o ciclo de cortes com uma redução mais branda, de 0,25 ponto percentual, marcava 98%. Antes dos dados, estava em 89%.
O movimento derrubou os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro norte-americano, o que, por sua vez, tirou parte da atratividade do dólar para os investidores. A moeda chegou a cair momentaneamente no Brasil, atingindo a mínima de R$ 5,76 na sessão.
Mas a valorização do real não conseguiu se sustentar. Segundo analistas, os principais motivos para a permanência do dólar em patamares tão altos no Brasil são a proximidade das eleições presidenciais dos EUA e a cautela em relação à cena fiscal.
“Com a eleição norte-americana na reta final e sem qualquer perspectiva para o plano de contingenciamento de gastos do governo brasileiro, parece não haver um único motivo para que o dólar volte a cair”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
Pesquisas de intenção de voto indicam que o candidato republicano Donald Trump e a atual vice-presidente democrata Kamala Harris estão em empate técnico. No mercado de apostas, porém, as chances de um retorno do republicano Casa Branca marcam 66%, segundo a plataforma Polymarket.
As promessas econômicas de Trump incluem aumento tarifário sobre as importações, especialmente as chinesas, e um possível corte de impostos medidas que são vistas como inflacionárias e que podem influenciar o Fed a manter juros elevados por mais tempo, o que fortalece o dólar.
“O mercado espera uma vitória de Trump, que, por diversos fatores, tende a fortalecer o dólar durante seu mandato e a manter a inflação e os juros elevados por mais tempo. Kamala, por outro lado, sem o apoio do Senado, provavelmente enfrentaria limitações para implementar mudanças significativas, o que manteria o dólar em um patamar um pouco mais baixo em relação a outras economias”, afirma Keone Kojin, economista da Valor Investimentos.
Já na ponta doméstica, o mercado segue preocupado com a estabilidade das contas públicas: para os agentes financeiros, é preciso ajustes na ponta das despesas, e não só reforços na arrecadação, para garantir a longevidade do arcabouço fiscal.
Na terça-feira, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que as propostas de corte de gastos prometidas pelo governo estão sob análise do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que cabe ao petista definir quando o conjunto será fechado.
A pretensão de encaminhar ao Congresso Nacional ainda em 2024 um pacote de revisão de gastos estruturais foi anunciada pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) em 15 de outubro. Na ocasião, afirmou que as medidas seriam enviadas após as eleições municipais, findadas no último domingo.
Para Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos, o fato de o pacote fiscal ainda precisar da aprovação de Lula pode “dificultar o processo e afastar a concretização das medidas”.
Já na quarta-feira, Haddad disse que há convergência com a Casa Civil em torno da elaboração do pacote, mas ressaltou que o plano passa por análise jurídica e ainda não tem prazo para ser apresentado.
Em entrevista a jornalistas, ele ainda afirmou que deve ser necessário aprovar uma emenda constitucional para efetivar medidas em análise, ressaltando que elas terão “o impacto necessário para o arcabouço ser cumprido”.
A equipe econômica do governo, agora, avalia criar um limite global para as despesas obrigatórias, que seguiria o mesmo índice de correção do arcabouço fiscal (expansão de até 2,5% acima da inflação ao ano).
Caso os gastos obrigatórios avancem acima desse patamar, gatilhos de contenção seriam acionados para ajudar a manter a trajetória de despesas sob controle.
Segundo técnicos a par das discussões, o limite para as obrigatórias com gatilhos de contenção seria uma forma de guiar as expectativas dos agentes econômicos, que hoje antecipam as incertezas com o futuro do arcabouço fiscal.
Temores de que a regra seja insustentável a partir de 2027 têm contribuído para a avaliação mais pessimista da política fiscal já no momento presente, o que se reflete nas taxas de juros e no câmbio.
“O real já tem um problema doméstico que é a falta de apresentação de um plano crível de corte de gastos. Isso prejudica tanto a curva de juros quanto o câmbio”, disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Redação / Folhapress