Dom Odilo, arcebispo de São Paulo, renuncia, e papa pede que fique mais 2 anos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O cardeal dom Odilo Scherer renunciou ao comando da Arquidiocese de São Paulo, e o papa Francisco acolheu o pedido.

O arcebispo divulgou nesta terça (8) uma carta com a requisição para abdicar do “governo pastoral”, feita no dia 21 de setembro, dia em que completou 75 anos.

O procedimento é praxe na norma canônica. Segundo ela, ao atingir essa idade, “o bispo diocesano é solicitado a apresentar a renúncia do ofício ao Sumo Pontífice, que, ponderando todas as circunstâncias, tomará providências”.

Scherer diz na carta que o papa pediu que ficasse mais dois anos no cargo -no qual está desde 2007.

Francisco acolheu a solicitação de uma forma considerada célere nos bastidores da Igreja Católica, em menos de um mês, o que no clero brasileiro foi lido de duas formas.

Alguns viram aí um sinal de desprestígio. Com a “aposentadoria” anunciada, seu poder político ficaria esvaziado inclusive na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Outra ala diz que o pedido para se estender por mais dois anos na Arquidiocese é positivo. O Vaticano ainda não disse quem deverá suceder dom Odilo.

Vários fatores influenciam a decisão papal de pedir a extensão de um bispo no cargo. Se ele está com a saúde em dia ou se há atividades pastorais em andamento, tudo isso conta. Também é possível pedir para sair antes dos 75 anos, se o bispo não tiver condições de saúde, por exemplo.

No caso de São Paulo, o arcebispo toca uma reorganização pastoral e administrativa.

O próprio Francisco, antes de ser apontado como novo papa por pares cardeais, já estava na “prorrogação” como arcebispo de Buenos Aires, por determinação do pontífice de então.

Jorge Mario Bergoglio tinha 76 anos quando sucedeu Bento 16.

“Sigamos em frente, preparando-nos mediante a oração para viver intensamente o Ano Jubilar de 2025, como ‘peregrinos da esperança'”, diz o arcebispo metropolitano de São Paulo. Ele termina o texto pedindo que “Deus abençoe a todos e os conserve em seu amor”.

Gaúcho de Cerro Largo, dom Odilo fez seminário no Paraná e, em 1976, aos 27 anos, foi ordenado presbítero. Pelas mãos do papa João Paulo 2º, virou bispo auxiliar na Arquidiocese de São Paulo 22 anos atrás. Em 2007, assumiu a liderança dela.

Ele é tido como uma voz mais conservadora dentro da Igreja. O atual pontífice representa uma ala mais progressista na Santa Sé.

Nos últimos anos, ele conquistou a inimizade de setores católicos da sociedade mais radicalizados, que chegaram a acusá-lo de comunismo por frases como “onde há fanatismo, perdeu-se a lucidez”, dita em entrevista à Folha de S.Paulo na eleição de 2022.

Na ocasião, ele ressaltou que vê extremismo “dos dois lados”, à direita e à esquerda. Afirmou então: “Onde há polarização extrema, perdeu-se a lucidez. Então estamos precisando justamente acalmar os ânimos e não entrar nesse jogo”.

À Folha de S.Paulo dom Odilo disse que “tudo continua como está, a trabalhar, não muda nada” pelo próximo biênio. “Primeiro são esses dois anos. Depois será o que o papa decidir, naturalmente.”

Um “caminho normal”, diz ele, é virar arcebispo emérito -como Paulo Evaristo Arns e Cláudio Hummes, para citar dois que o precederam na posição.

“Ao longo desses quase 18 anos que estou arcebispo, a gente caminha com a Igreja. Cada diocese não é uma ilha, por isso está em sintonia com a CNBB, o papa, colaborando.”

Ele afirmou que pretende continuar em São Paulo depois que deixar a liderança da arquidiocese, à disposição para o trabalho pastoral.

Ele seguirá como cardeal, inclusive como parte do Colégio Cardinalício, que escolhe papas. Dom Odilo, aliás, chegou a ser cotado como pontífice na eleição que acabou consagrando Francisco.

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER / Folhapress

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